Fóssil de baleia-azul de 26 metros é o maior já encontrado

Esse gigante animal marinho viveu há cerca de 1,5 milhão de anos, sugerindo que as baleias-azuis começaram a ganhar mais massa antes do que se pensava.

Por Tim Vernimmen
Publicado 9 de mai. de 2019, 23:17 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
Uma vista aérea do Mar de Cortez revela uma baleia-azul de 25 metros deslizando sobre as ...
Uma vista aérea do Mar de Cortez revela uma baleia-azul de 25 metros deslizando sobre as ondas. Um fóssil encontrado na Itália indica que as baleias-azuis atingiram esse enorme tamanho há 1,5 milhão de anos.
Foto de Flip Nicklin, Minden Pictures

A baleia-azul não é somente o maior animal existente hoje, mas também o maior animal que já existiu. Agora, uma análise de um fóssil encontrado às margens de um lago italiano indica quando, e talvez como, a baleia-azul se tornou tão gigante.

O enorme crânio desse animal colossal, descrito na revista científica Biology Letters, confirma que essa baleia-azul milenar é a maior já observada nos registros fósseis, chegando a 26 metros. Ela até que é pequena perto das maiores baleias-azuis modernas já registradas, que chegam a 30 metros. Outra surpresa para os cientistas foi o fato de uma baleia desse tamanho ter nadado nos oceanos há 1,5 milhões de anos, durante o início do Pleistoceno — muito antes do que se pensava.

“O fato de ter existido uma baleia tão grande há tantos anos sugere que as baleias gigantes já estão circulando por aí há muito tempo,” diz o coautor do estudo, Felix Marx, paleontólogo do Instituto Real Belga de Ciências Naturais em Bruxelas. “Eu não acredito que as espécies possam evoluir para esse tamanho da noite para o dia”.

Uma ilustração mostra como seria a proporção de tamanho de um mergulhador de hoje em relação a essa baleia milenar.
Foto de Illustration by Alberto Gennari

Única baleia descoberta

Descobrir o motivo pelo qual as baleias-azuis se tornaram tão grandes tem sido um desafio, pois fósseis de baleias gigantes dos últimos 2,5 milhões de anos são raros. Isso provavelmente ocorreu porque o planeta passou por diversas eras glaciais durante esse mesmo período, quando uma quantidade enorme de água congelou e os níveis do mar reduziram drasticamente. Os vestígios das baleias que morreram naquela época, mesmo aquelas que ficaram encalhadas em terra, agora devem estar a muitos metros abaixo do nível do mar.

Em 2006, um agricultor próximo à cidade de Matera, no sul da Itália, viu vértebras enormes despontando do solo às margens do lago que ele utiliza para irrigar suas plantações. Durante três estações de outono, época em que é possível reduzir o nível da água sem danificar a colheita, o paleontólogo italiano Giovanni Bianucci da Universidade de Pisa e sua equipe escavaram e removeram os vestígios.

Na época, a equipe acreditava que os fósseis pertencessem a uma baleia-azul, o que foi confirmado pelos novos estudos anatômicos.

O novo fóssil também poderá ajudar a revelar se o aumento de tamanho das baleias gigantes ocorreu de forma mais gradual do que se acreditava, argumenta Marx. Em 2017, um estudo que analisou o tamanho corporal de todas as espécies de baleia-jubarte, muitas somente conhecidas a partir de fósseis, sugeriu que um aumento no tamanho corporal possa ter acontecido repentinamente, provavelmente há 300 mil anos, mas com a possibilidade de ter sido há 4,5 milhões de anos.

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    O crânio do fóssil da baleia de Matera (esquerda) ajudou os cientistas a recriarem o crânio completo para análise anatômica.
    Foto de Akhet s.r.l., drawing and composition by G. Bianucci and F. Marx

    Entretanto quando Marx incluiu o novo fóssil nessa análise, “a data mais provável foi recuada para 3,6 milhões de anos atrás, e talvez ainda antes disso, com a possibilidade de ter sido há seis milhões de anos”.

    Excesso de pequenos fósseis

    Graham Slater, da Universidade de Chicago, que realizou a análise anterior, indica que 3,6 milhões ainda cabem na janela de tempo já bem extensa que ele havia descoberto. E mesmo se a data mais provável do salto de tamanho fosse ainda mais recuada, ele afirma que a data revisada de 3,6 milhões de anos faz sentido.

    Por volta dessa época, acredita-se que uma redução global na temperatura dos oceanos tenha alterado a disponibilidade de alimentos às baleias, criando trechos com presas de maior densidade, onde correntes de água fria surgiam a partir das profundezas, algo que ele acredita ter sido “importante para sustentar as baleias realmente grandes.” Slater não concorda com Marx de que a nova análise favoreça uma origem ainda mais antiga do tamanho da baleia-azul.

    A realidade é que essa análise não confirma diretamente esse cenário, admite Marx. Contudo esse ponto de vista é fundamentado no que ele acredita que ainda está por vir. Devido aos fósseis de baleias gigantes serem difíceis de coletar, estudar e descrever, a nossa visão sobre a evolução do tamanho corporal das baleias pode ser distorcida. Marx está participando de um projeto no Peru que encontrou diversas baleias fossilizadas que ainda não foram recuperadas. Embora os dados ainda sejam preliminares, incluí-los na análise enfraquece a impressão de uma mudança repentina, ele diz.

    “Tenho conhecimento de diversas baleias gigantes com mais ou menos a mesma idade que ainda não foram descritas” na literatura científica, ele afirma. Ele acredita que cada fóssil de baleia gigante encontrado e documentado tornará mais provável a ideia de uma mudança gradual.

    O paleontólogo Cheng-Hsiu Tsai da Universidade Nacional de Taiwan descreve esses escassos vestígios como o provável segundo maior fóssil de baleia encontrado até o momento, de uma baleia-comum da Califórnia. Ele defende há algum tempo que as baleias-jubarte tenham atingido tal tamanho muito antes do que se acreditava, e ele concorda em grande parte com as conclusões de Marx.

    “Sinceramente, esse fóssil não me surpreende,” fiz Tsai. “Espero que encontremos algo maior e geologicamente mais antigo em breve”.

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