12 novas luas descobertas na órbita de Júpiter

Astrônomos estavam em busca de um misterioso e longínquo planeta, mas encontraram um aglomerado de corpos celestes muito mais perto de casa.

Por Nadia Drake
Publicado 17 de jul. de 2018, 14:47 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
A maior lua do sistema solar, Ganímedes, parece flutuar ao lado de Júpiter em foto tirada pela sonda da NASA Cassini. Agora, astrônomos na Terra encontraram uma dúzia de luas novas em órbita ao redor do gigante gasoso, elevando seu total para 79.
Photograph courtesty NASA, JPL, University of Arizona

EM UMA REVIRAVOLTA de proporções cósmicas, astrônomos que estavam em busca de um planeta hipotético às margens de nosso sistema solar acabaram encontrando 12 novas luas dançando ao redor de Júpiter.

É bom deixar claro que estas luas não são como a Ganímedes, a maior lua do nosso sistema solar. Elas são pequenas, algumas com pouco mais de um quilômetro de diâmetro, e traçam caminhos estranhos de todo o tipo ao redor do planeta gigante.

Imagens dos telescópios de Magalhães, no Chile, mostram a nova e estranha lua Valetudo movendo-se sobre um fundo de estrelas imóveis.
Foto de Carnegie Institution For Science

A equipe encontrou os novos satélites quase que por acaso, graças ao fortuito alinhamento de Júpiter com seu objeto de pesquisa original, além de uma nova tecnologia telescópica instalada recentemente.

“Fascinante”, diz o cientista planetário Doug Hemingway, da Universidade da Califórnia em Berkeley. “Isto nos faz lembrar que, quando desenvolvemos a capacidade de estudar uma coisa, nunca sabemos o que mais podemos descobrir ao longo do caminho”.

Paparazzi de planetas

Normalmente, descobrir luas novas ao redor de Júpiter é bastante difícil. Algo pequeno o suficiente para ser praticamente invisível requer telescópios potentes que muitas vezes oferecem um campo de visão limitado demais para capturar todo o sistema joviano. Além disso, há o agravante de Júpiter ser muito radiante, e sua luz pode ofuscar as pequenas luas.

Mas, no ano passado, Scott Sheppard e seus colegas do Instituto Carnegie para a Ciência estavam em busca de um planeta distante que supostamente orbitaria além de Plutão, um planeta tão grande que sua força gravitacional reorientaria as órbitas de objetos distantes menores. Assim, a equipe mirou o telescópio do Observatório Interamericano de Cerro Tololo nas estrelas de nossa vizinhança cósmica em busca de pontos de luz distantes se movendo em órbitas solares.

Durante a busca, Sheppard e seus colegas perceberam que Júpiter estava na mira de seu telescópio, e decidiram aproveitar a oportunidade.

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“Estamos utilizando uma câmera nova que foi colocada no telescópio há poucos anos”, disse Sheppard. “Ela consegue varrer áreas maiores muito mais rápido e, assim, foram necessárias apenas quatro imagens para cobrir toda a área ao redor de Júpiter”.

As primeiras pistas que indicavam as novas luas apareceram em março de 2017, e os sinais foram vistos novamente no mês seguinte. Mas verificar uma órbita leva tempo, e apenas quando a equipe observou Júpiter novamente, em maio, as luas foram confirmadas, elevando o total de satélites do planeta para 79.

“Estas pequenas luas periféricas são de longe o tipo de satélite mais numeroso no sistema joviano”, diz  Bonnie Buratti, do Laboratório de Propulsão a Jato da NASA. “Pode parecer uma descoberta corriqueira, adicionar estas pequenas luas a uma coleção já tão vasta. De forma alguma”. (Veja: "Gêiseres de vapor d’água podem ter sido encontrados em lua alienígena")

O bando retrógrado

A dúzia de novos satélites variam em tamanho de 1,5 a quase 5 quilômetros de diâmetro. Dois deles estão aglomerados relativamente próximos ao planeta, orbitando na mesma direção do giro de Júpiter. É provável que eles sejam resquícios de uma lua muito maior, fragmentada durante os bilhões de anos desde o nascimento do sistema solar.

Mas nove dos novos satélites, agrupados em três aglomerados mais distantes, movem-se ao contrário, com órbitas conhecidas como retrógradas. Assim como o aglomerado mais próximo, as demais nove luas também devem ser pedaços de fragmentos lunares remanescentes de colisões que destruíram luas muito maiores, talvez com diversas centenas de quilômetros de diâmetro.

“Com o que colidiram? Com um cometa? Um perigoso asteroide? Outras luas no sistema de Júpiter?”, pergunta Sheppard.

Em outra inesperada reviravolta, não é provável que essas luas maiores fossem nativas do sistema joviano, tendo sido capturadas pela gravidade do planeta gigante nos primórdios do sistema solar.

Isso pode parecer estranho, mas era comum para planetas grandes atraírem corpos menores com o decorrer do tempo, principalmente em uma época em que planetas gigantes migraram e influenciaram as órbitas de planetas menores.

Um dos satélites mais conhecidos de Saturno, Febe, foi capturado do campo gelado de fragmentos conhecido como Cinturão de Kuiper, situado além da órbita de Netuno. E talvez não por coincidência, Tritão, a lua mais famosa de Netuno, também seja um objeto capturado do Cinturão de Kuiper.

“Estudiosos acreditam que as órbitas dessas luas mais externas, ao menos as que foram capturadas primeiro, tenham sido afetadas pela migração dos gigantes gasosos”, diz Buratti.

A lua diferentona

E então temos a pequena e esquisita Valetudo, a única entre as doze luas a ter publicamente um nome proposto. Conforme a convenção de nomeações astronômicas, o título sugerido para a lua vem da mitologia, em homenagem à deusa romana da saúde e higiene.

Assim como os dois satélites mais próximos do planeta, a órbita de Valetudo gira na mesma direção que a rotação de Júpiter. Mas sua órbita está inclinada em relação ao planeta, e se move para fora, em direção aos três aglomerados mais distantes. Por esse motivo, Sheppard suspeita que colisões com a Valetudo sejam os culpados por trás dos aglomerados despedaçados, e que o estranho satélite seja tudo o que restou de uma lua muito maior.

“É como se dirigisse na estrada na contramão”, ele diz. “É muito provável que ocorram colisões”.

Sheppard também investigou os outros planetas gigantes, mas não encontrou nenhuma lua nova orbitando Urano ou Netuno. Isso o deixou um pouco decepcionado.

“Urano é o melhor planeta para se encontrar luas”, ele diz. “Nele, podemos dar nomes de personagens shakespearianos aos objetos”.

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