Será que humanos e dinossauros poderiam coexistir? Eis os fatos científicos.

Pesquisadores dizem que “os dinossauros seriam alienígenas em nosso mundo”, mas nada é impossível.

Por John Pickrell
Publicado 26 de jun. de 2018, 18:26 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
Os visitantes olham o esqueleto de Tristan, o Tiranossauro rex, um dos maiores e mais bem ...
Os visitantes olham o esqueleto de Tristan, o Tiranossauro rex, um dos maiores e mais bem preservados esqueletos de dinossauro, no Museu de História Natural de Berlim, na Alemanha.
Foto de Sean Gallup, Getty Images

Em Jurassic World: Fallen Kingdom, os humanos enfrentam um dilema moral: devemos salvar os dinossauros trazidos de volta à vida pela ciência quando são ameaçados de uma aniquilação vulcânica? Ou deixamos as feras perigosas perecerem novamente?

Isso nos fez pensar se os dinossauros realmente poderiam ser ressuscitados e, em caso afirmativo, o que aconteceria se, de repente, tivéssemos que compartilhar o planeta com esses animais antigos. Eis o que a ciência tem a dizer.

DNA de dinossauro

Nos filmes Jurassic Park, cientistas extraem DNA de dinossauro de mosquitos presos em âmbar. No mundo real, os paleontólogos encontraram um grande número de insetos e outros invertebrados conservados em âmbar, incluindo carrapatos sanguessugas do período Cretáceo.

Fóssil de dinossauro mais bem preservado
O fóssil de um nodossauro, dinossauro herbívoro que viveu há 110 milhões de anos, foi descoberto em Alberta, Canadá. É o fóssil mais bem preservado já descoberto.

Mas a ciência se deu melhor que a ficção desde o lançamento do primeiro filme Jurassic Park, em 1993: no final de 2016, paleontólogos anunciaram a descoberta da maior parte de uma cauda de dinossauro em âmbar, com penas e pele bem preservadas.

Mas mesmo com pedaços fossilizados de dinossauro em âmbar e outros dinossauros excelentemente preservados e que retêm traços de seu material orgânico original, as chances de encontrarmos DNA de dinossauro intacto permanecem, infelizmente, quase inexistentes.

Os dinossauros não-aviários foram eliminados quando um asteroide ou cometa atingiu a Terra, 66 milhões de anos atrás e, até agora, parece que o DNA não foi preservado por tempo suficiente para ser viável.

“O DNA mais antigo do registro fóssil tem apenas um milhão de anos, por isso não é possível reconstruir dinossauros a partir de seu DNA, como fizeram nos filmes Jurassic Park”, diz Susie Maidment, paleontóloga do Museu de História Natural de Londres, no Reino Unido

No entanto, ela diz, “existem evidências crescentes de que proteínas e outros tecidos moles podem se preservar ao longo de escalas de tempo geológicas, então eu acho que seria imprudente dizer que definitivamente nunca conseguiremos extrair DNA dos fósseis de dinossauros”.

E nos últimos 25 anos, desde que Jurassic Park chegou aos cinemas, paleontólogos em todo o mundo vêm buscando DNA de dinossauro fossilizado, diz Steve Brusatte, explorador da National Geographic e autor de The Rise and Fall of the Dinosaurs.

“Sabemos que seria um salto na nossa carreira se fôssemos as primeiras pessoas a encontrá-lo. Mas, apesar de todo o esforço, ninguém encontrou sequer um único fragmento de DNA de dinossauro, muito menos os genomas completos ou quase completos que seriam necessários para se clonar um dinossauro”, ele diz.

“O DNA se desfaz muito rapidamente e, mesmo em cem anos, ela já fragmentou-se em minúsculos pedaços sem sentido”, diz Mike Benton, paleontólogo da Universidade de Bristol, no Reino Unido. “É preciso muita tecnologia para unir essas partes. Então, até que alguém encontre um DNA de dinossauro, nós ainda não saímos do lugar”.

A vida encontra um caminho

Várias equipes dos Estados Unidos estão se esforçando muito, nesse exato momento, para usar a tecnologia de edição genética e sequenciamento de DNA antigo para ressuscitar espécies perdidas. Trazer de volta animais que foram extintos até 20 anos atrás já é um desafio que está além de nossas capacidades – por enquanto, diz Benton.

No entanto, a tecnologia de edição genética através do uso de uma técnica chamada CRISPR está avançando na velocidade da luz. Os cientistas já conseguiram juntar peças genéticas de vários animais, como fazem as equipes fictícias nos filmes Jurassic Park.

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    No primeiro filme, geneticistas usam DNA de rã para preencher as partes que faltam no DNA de dinossauro encontrado em âmbar. Em um caso semelhante no mundo real, pesquisadores liderados pelo geneticista George Church, da Universidade de Harvard, estão tentando inserir genes gigantescos recuperados de DNA antigo no moderno genoma do elefante asiático, como parte de projeto de “desextinção” dos mamutes.

    “Hesito em dizer que seja impossível”, diz Victoria Arbour, especialista em dinossauros com couraça do Royal Ontario Museum, em Toronto, no Canadá, sobre extinção dos dinossauros. “Muitas disciplinas científicas estão fazendo tantas descobertas incríveis o tempo todo que algo difícil de imaginar agora, como ressuscitar um dinossauro, pode ser possível daqui a 25, 50, 100 anos”.

    E se nós superarmos o obstáculo de reprojetar todo um genoma extinto para trazer um dinossauro de volta à vida, a soma de certos aspectos interessantes e específicos para criarmos uma espécie customizada – como o fictício Indoraptor do filme novo – vai ser relativamente simples.

    Não coma os turistas

    Então, supondo que tenhamos criado e aperfeiçoado geneticamente nossos dinossauros modernos usando tecnologias que não existem ainda, será que eles sobreviveriam e prosperariam lado-a-lado com as pessoas?

    Com base em nosso relacionamento moderno com grandes carnívoros, como leões, lobos e ursos, fica claro que pessoas e predadores raramente se dão bem. E, na maioria dos casos, as pessoas prevalecem enquanto os animais decaem em população.

    Arbor diz que adoraria viver em um mundo onde Ankylosaurus perambulassem pela natureza, mas até para os grandes animais herbívoros é difícil coexistir com os humanos, já que utilizamos enormes quantidades de espaço para cultivar alimentos e construir nossas casas e assentamentos.

    “Não gostamos quando animais grandes invadem esses espaços”, ela diz. “Não consigo imaginar que coexistiríamos bem com um predador colossal como o Tyrannosaurus rex. Na maior parte da América do Norte, não toleramos nem os lobos e fomos bem-sucedidos em eliminá-los quase completamente – como poderíamos viver com um predador 70 vezes maior que um lobo?”.

    Além disso, os dinossauros viviam em ecossistemas que não têm análogos modernos, diz Maidment. Grama e gramados sequer haviam evoluído no Cretáceo, e grandes mamíferos ainda não haviam entrado em cena.

    “O que os dinossauros comeriam e como seus sistemas digestivos lidariam com essa comida? Como eles lidariam com predadores mamíferos? Onde nós os manteríamos? E que direitos eles teriam? Eu acho que as questões éticas em torno da clonagem de um dinossauro seriam quase tão difíceis quanto as científicas”, ela diz.

    “Os dinossauros seriam alienígenas em nosso mundo”, concorda Brusatte. “Eles evoluíram dezenas ou centenas de milhões de anos atrás, quando a Terra era muito diferente. Os continentes estavam em lugares diferentes, a atmosfera era diferente, as plantas eram diferentes. É possível supor que eles não se adaptariam de maneira alguma”.

    Bem vindo ao mundo jurássico

    Mas, diz Brusatte, devemos nos lembrar de uma verdade simples, porém forte: os dinossauros já coexistem conosco na forma de pássaros. As aves de hoje são descendentes de aves terrestres primitivas que sobreviveram quando todas as florestas do mundo foram destruídas, há 66 milhões de anos.

    Carrapato enrolado em pena de dinossauro é encontrado preservado em âmbar
    A resina do período Cretáceo, entre 145 milhões e 66 milhões de anos atrás, guardava um parasita que estava bem gordo quando morreu.

    “Perus, avestruzes e águias não são tão diferentes em sua aparência ou comportamento de dinossauros extintos, como o Velociraptor. Então, obviamente, humanos e dinossauros podem viver juntos”, observa Brusatte. “Nós mantemos os dinossauros como animais de estimação, comemos eles, gostamos de olhar para eles na natureza e em zoológicos e os tratamos como mascotes em alguns de nossos times favoritos”.

    Arbor diz que, embora ame a pesquisa em andamento sobre a ressurreição de espécies extintas, ela espera que nosso foco permaneça na conservação das espécies que ainda estão aqui.

    “A maravilha que sentimos quando olhamos para fósseis de dinossauros em museus”, ela diz, “pode ajudar a nos inspirar a apreciar a finitude da extinção e nos encorajar a proteger as espécies que compartilham nosso planeta conosco hoje”.

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