Queimadas já consumiram 12% do Pantanal – e tendência é piorar

Reportagem documentou o avanço dos incêndios no Pantanal Matogrossense, onde número de focos de queima bateu recordes nos meses de julho e agosto. Chuvas costumam chegar em outubro.

Por Gustavo Basso
Publicado 4 de set. de 2020, 19:29 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 01:56 BRT
queimada no pantanal

Trecho de mata ao lado de uma estrada é engolido por chamas, na zona rural de Poconé (MT). Estima-se que uma área de pelo menos 1.654.000 hectares do Pantanal – equivalente a quase 12 cidades de São Paulo – tenha queimado em 2020.

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Uma neblina espessa de fumaça encobre vastas áreas de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, tendo chegado no Paraná esta semana. Pesquisadores apontam o avanço do desmatamento no próprio bioma e na Amazônia e a consequente mudança no regime de chuvas como razões da pior seca dos últimos 47 anos.

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De Poconé, Mato Grosso. Um forte ruído de tempestade anuncia a aproximação das labaredas na estrada de terra que corta uma das inúmeras fazendas do Pantanal matogrossense. A ironia cruel é reforçada pela chuva de fagulhas e cinzas que antecede a chegada das chamas e tinge de laranja avermelhado toda a paisagem. O cenário é complementado por cantos de alerta de acuãs e outras aves do Pantanal, enquanto outros animais menos hábeis ficam pelo caminho para serem carbonizados.

Foi uma visão semelhante a essa que bateu à porta do aposentado Marcos Rondão, nesse 15 de agosto, quando sua casa, às margens da rodovia Transpantaneira, foi quase engolida pelas chamas, que atravessaram barreiras feitas pelos bombeiros e até mesmo a estrada. “Foi assustador. Durante a noite, aquelas labaredas avançando; saltaram o aceiro a 10 km daqui, queimaram a fazenda vizinha. E caía aquela chuva de fagulha queimando; morria de medo que uma delas incendiasse o quintal.”

Acima da propriedade de Rondão, uma nuvem de fumaça se espalhava de acordo com o vento ou com a falta dele, encobrindo a paisagem com um manto amarelado por um raio de mais de 80 km no sul de Mato Grosso, entre os municípios de Poconé e Barão de Melgaço, e deixando um cheiro de madeira queimada. “É dia e noite convivendo com essa fumaça cada vez que a gente abre a porta de casa. Desde que o fogo quase destruiu a pousada, há mais de duas semanas, tem dias que não se vê cinco metros adiante”, reclama Eduardo Falcão, dono de outra propriedade às margens da Transpantaneira.

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    Bois e cavalos dividem um pasto ralo de fazenda em Poconé (MT). Além do prejuízo à saúde e ao meio ambiente, fazendeiros relatam enormes gastos para não deixar o gado morrer de fome.

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    Cavalos pantaneiros sofrem para encontrar comida em meio à seca e às queimadas. A raça, que se desenvolveu naturalmente no Pantanal ao longo dos últimos 200 anos, possui casco fechado e pequeno que reduz a adesão da lama – o ideal para terrenos alagados.

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    De janeiro até o final de agosto, o fogo no Pantanal brasileiro já havia queimado uma área correspondente a 12 cidades de São Paulo – 18.646 km2, cerca de 12% da área total do bioma –, segundo dados do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. O Inpe também detectou 10.316 focos de queima desde o início do ano até 3 de setembro, o maior número para o período desde o início dos registros, em 1998. E o pior ainda pode estar por vir. Setembro é o mês com a média mais alta de focos – as chuvas costumam chegar na segunda metade de outubro. Pelo menos em Mato Grosso, 95% da destruição ocorreu em áreas de vegetação nativa: campos de gramíneas e ervas, florestas, palmerais, arbustos e toda a fauna que se aproveita desses ecossistemas perdidos para as chamas, segundo o Instituto Centro de Vida (ICV).

    As queimadas ligaram o alerta até mesmo das secretarias de Saúde, que temem uma alta na demanda por leitos para tratamento de doenças respiratórias, já lotados por causa da pandemia do novo coronavírus. Em estado de emergência desde fim de março, a secretaria de saúde de Mato Grosso do Sul alertou, em nota publicada no fim de julho, para um aumento de atendimentos relacionados à má qualidade do ar. “Nenhum município está cem por cento preparado para enfrentar dois eventos desta natureza”, declarou, na nota, Rogério Leite, secretário de saúde de Corumbá.

    Terra de superlativos, 60% dos 250.000 km2 Pantanal – uma área maior que o Reino Unido – fica no Brasil, o resto é dividido entre Bolívia e Paraguai. O bioma é considerado o mais preservado do país, com 83% de cobertura vegetal nativa, e apresenta a maior densidade de espécies de mamíferos do mundo, com uma concentração nove vezes maior que a vizinha Amazônia, de onde recebe parte das águas que o inunda todos os anos. É esse ambiente que vem queimando com força extrema nunca vista, segundo brigadistas do Prevfogo (Sistema Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais, do Ibama), desde o final de julho.

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      Com as quatro patas queimadas, esta anta não conseguia andar e se refugiou em um charco dentro de uma propriedade próxima à rodovia Transpantaneira. Depois de resgatada e sedada por voluntários, foi levada para ser tratada em Campo Grande (MS).

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      Eduarda Fernandes, guia e agente de turismo, e Roberto Macedo, seu sócio, tratam queimaduras na pata da anta.

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      Fauna em risco

      Com tantas queimadas, não é difícil encontrar animais mortos ao longo de estradas e caminhos; muitos dos que resistem exigem socorro veterinário, que tardou semanas a ser disponibilizado pelo poder público. Em resposta a isso, Eduarda Fernandes, 20 anos, guia e agente de turismo, articulou uma equipe de voluntários e uma vaquinha para tentar mitigar os efeitos do fogo associado à seca, que já passa de 100 dias, e do calor, que superou a marca dos 35ºC várias vezes durante o mês de agosto. “Me chamam de pirralha teimosa, mas divulguei em redes que estávamos buscando profissionais para este projeto, e foi ótimo saber que eu não estava sozinha”, comenta a jovem, referindo-se ao grupo de veterinários e bióloga que se deslocaram até o meio da Transpantaneira para ajudar.

      O médico veterinário Jorge Salomão, de 36 anos, dirigiu por mais de 1.700 km para se juntar à equipe. Responsável técnico por áreas de proteção, Salomão se mostra realista com a empreitada: “Não há como romantizar, achando que vamos fazer muita diferença; somos muito poucos para uma multidão de animais. O impacto será, sim, sobre esses indivíduos que conseguirmos atingir”, afirma, criticando a falta de estrutura na região. “Esperamos também mobilizar o poder público, porque é inconcebível que a região com maior biodiversidade e com incêndios recorrentes não tenha uma área de cuidados, um centro de reabilitação de animais”. Salomão conta que cada animal socorrido, por mais limitado que seja o impacto, é o que faz o trabalho valer a pena.

      Na última sexta-feira (28/08), a equipe foi chamada por um morador para socorrer uma anta com dificuldades de se locomover e uma grande queimadura na coxa direita. Assustado, mas sem condições de fugir, o animal de 200 kg se refugiou em um pequeno charco dentro da propriedade de Antonio Satyro. Foram necessárias cinco pessoas para puxar a fêmea sedada até uma carreta, na qual foi levada à pousada do sogro de Eduarda, espécie de base improvisada para socorrer animais silvestres. O veterinário mineiro Felipe Batista se encarregou de orientar a limpeza dos ferimentos, enquanto equilibrava a sedação entre o necessário para que a anta não sentisse dor – o que poderia resultar em um golpe ou uma mordida – e não colocá-la em coma.

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        Ipês contrastam com a fumaça dos incêndios em Poconé (MT). A secretaria de saúde de Mato Grosso do Sul alerta para um aumento de atendimentos relacionados à má qualidade do ar devido às queimadas, o que pode pressionar ainda mais um sistema já sobrecarregado pela pandemia de coronavírus.

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        A fim de evitar que queimem com os incêndios, equipe de voluntários trabalha na manutenção de pontes de madeira ao longo da rodovia Transpantaneira, que liga Poconé a Porto Jofre, em Mato Grosso. Até 29 de agosto, quatro pontes haviam queimado na região.

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        “O osso da falange, do dedo, já está exposto, tamanha a gravidade da queimadura. É tratável, mas precisa de um ambiente especializado porque isso pode espalhar para tendões, nervos. Se ela ficar aqui, vai acabar morrendo por causa da infecção, e será lento e muito doloroso”, alerta o veterinário, que mora em Betim (MG), a 24 horas de viagem dali.

        Na manhã daquele dia, a equipe havia rodado por estradas e aceiros – trechos de mata abertos com escavadeiras para conter o avanço dos incêndios – distribuindo cochos com água e frutas em áreas secas, em uma tentativa de diminuir um pouco o tamanho do estrago feito em uma geração inteira de animais.

        Geração perdida

        Os relatos de choque com os incêndios e o clima se repetem a cada morador ouvido. “Nunca vi um fogo terrível desses. Enquanto lutava para não queimar a casa do vizinho, nos abrigamos nas margens do rio Cuiabá para não morrermos queimados”, conta o pescador Salvador de Campos Silva, morador da região desde que nasceu, há 57 anos. Já Benedito da Silva, 79 anos, um dos dois únicos seres humanos que ainda habitam a Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Sesc Pantanal, teve que ser retirado às pressas de sua casa. “O fogo pulou o rio Cuiabá e veio queimar aqui perto. Me falaram para sair antes que eu morresse”, conta o pantaneiro, cuja casa de barro, coberta com folhas de acuri, foi encharcada com água para não queimar, enquanto todos os poucos móveis dormiram dias à beira do rio.

        Enquanto isso, Vinicius Correia, arrendatário de uma fazenda de gado, contabiliza o prejuízo. Com a falta de pasto, todo consumido pelo fogo, terá de gastar, nos próximos meses, R$ 900 por dia para impedir que os animais, já magros, morram. “É isso ou deixar eles com fome, com esse restinho de pasto ralo”, diz, apontando para um trecho onde há mais areia que grama.

        Depois de colocar os móveis na beira do rio e encharcar o telhado de folhas de acuri com água, seu Benedito da Silva, o Dito Verde, 79 anos, deixou às pressas a casa onde vive desde os 15 dentro da RPPN Sesc Pantanal.

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        Seu Manuel Ambrósio, 84 anos, faz rapadura em sua propriedade no meio da RPPN Sesc Pantanal, em Mato Grosso. Ele é um dos dois últimos moradores na reserva, onde vive, sem luz elétrica e água encanada, desde 1972.
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        Andre Tuhronyi conversa no rádio com bombeiros que ficaram sem combustível no meio de um incêndio. Tuhronyi diz ter gasto R$ 18 mil para manter o fog longe de suas terras, às margens da Transpantaneira.

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        Gramíneas e arbustos renascem em até cinco anos, mas as florestas, os cambarais e a fauna levarão entre 20 e 30 anos para se recuperarem completamente, calcula Cátia Nunes da Cunha, professora aposentada da Universidade Federal de Mato Grosso e pesquisadora do Centro de Pesquisas do Pantanal. “É difícil calcularmos ao certo com as poucas pesquisas que são financiadas, mas o ambiente levou mais de 30 anos para se recuperar do ciclo de estiagens e queimadas observadas na década de 1960”, comenta, lembrando um período em que os mais velhos temiam morrer de sede.

        Nascida e criada em Poconé (MT), Nunes vem estudando, entre outros temas, as dinâmicas climáticas do Pantanal, e alerta para o risco deste ser o início de um longo período de secas, fruto de mudanças climáticas globais, que poderá resultar em incêndios ainda maiores. Utilizando registros da Marinha sobre o calado do rio Paraguai desde 1900, Nunes observou que, entre 1961 e 1973, o Pantanal passou por um longo período de secas, seguido por três décadas de alta umidade, o que alterou não apenas a economia da região, mas toda a paisagem.

        “A partir da década de 1970, o Pantanal tem um declínio da pecuária extensiva em campos nativos, com o abandono e esvaziamento de fazendas de gado, ao mesmo tempo que espécies de arbusto de madeira leve, altamente inflamável, aproveitaram as inundações favoráveis a elas para se proliferar", explica Nunes. "[Isso] acumulou muita biomassa, que agora vem servindo de combustível para os incêndios."

        Há dois anos, o Pantanal vem recebendo menos chuvas, até que 2020 registrou a maior seca em 47 anos, superando os números registrados na década de 1960. Mesmo o período chuvoso recebeu a metade das precipitações esperadas. Segundo ela, foi essa somatória de elementos – seca recorde, acúmulo de biomassa inflamável e ação humana – que resultou no maior incêndio já registrado no bioma. “Temos que lembrar que no Pantanal não há, normalmente, incidência de fogo espontâneo no inverno", destaca. "Além dos incêndios causados pelo homem, há outras modificações como o represamento dos rios que inundam o Pantanal e a destruição de suas matas ciliares nas cabeceiras, que tornam toda a região mais seca e quente.” Apesar de conhecido pela água – rios, lagoas e alagados –, o bioma não possui nascentes. Como uma enorme banheira, a planície apenas recebe as águas dos rios que brotam nos planaltos que a circundam.

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          Brigadistas tentam conter chamas em uma propriedade em Poconé (MT). Cerca de 160 profissionais – entre bombeiros de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, militares, brigadistas do Prevfogo, do Ibama, do ICMBio e até do Sesc – fazem parte do esforço de combate aos incêndios.

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          Um pequeno avião do ICMBio tenta conter o incêndio na propriedade do fazendeiro Celso Figueiredo, na zona rural de Poconé (MT).

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          Por meio de imagens de satélites, o ICV mapeou a origem dos incêndios que vem abrindo uma cicatriz carbonizada sem controle ao longo do Pantanal Norte. Foram nove pontos de origem, um na Terra Indígena Perigara, que teve 75% de sua área afetada pelo fogo, e oito em fazendas em ambas margens do rio Cuiabá, afluente do rio Paraguai que também margeia a RPPN Sesc Pantanal. Todos são considerados irregulares, uma vez que o uso do fogo para limpeza e manejo de territórios foi proibido no Mato Grosso entre 1º de Julho e 30 de Setembro. Quem provoca queimadas pode ser punido com reclusão de dois a quatro anos e multa a partir de R$ 5.000 por hectare.

          Laboratório a céu aberto

          O Sesc Pantanal possui a maior unidade de conservação particular do país, com 108.000 km2, mas tem sido alvo de críticas de fazendeiros e mesmo ribeirinhos vizinhos por não realizar a limpeza de espécies arbustivas que crescem em áreas que, antes de seu estabelecimento, em 1997, seriam de campos e pastagens. “No meio do mato, não tem bicho nenhum, nem mesmo jacaré. Quando era campo, havia mais diversidade”, reclama o aposentado Eleci Viana, vizinho da reserva.

          A pesquisadora Cátia Nunes vem observando, na última década, essa ocupação dos antigos campos por arbustos, um processo que acaba diminuindo tanto a variedade quanto a quantidade de animais no habitat. Segundo ela, é um fenômeno que deve ser combatido com intuito de “gerar variados benefícios para a biodiversidade e para as populações humanas”, como a restauração dos campos de ervas e manutenção de habitats para a fauna local.

          O manejo apontado pela pesquisadora faz uso de fogo e do gado em pecuária extensiva, prática defendida também pelo pioneiro no ecoturismo André Thuronyi. Residente local há 40 anos, ele ajudava a retirar uma escavadeira que ficou sem combustível em meio a um incêndio em uma fazenda vizinha, enquanto explicava a idéia.

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            A casa do aposentado Vicente Garcia, 94 anos, quase foi engolida pelo fogo enquanto ele visitava familiares na área urbana de Poconé. O vizinho conseguiu ajuda com operadores de retroescavadeiras, que salvaram a propriedade cavando um pequeno aceiro em volta da casa.

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            Trecho da RPPN Sesc Pantanal completamente consumido pelo fogo. Fechado desde março por causa da pandemia, o hotel do Sesc virou uma base para pesquisadores, voluntários, brigadistas e jornalistas – incluindo o autor desta reportagem  –, que chegam para combater e documentar as queimadas.

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            “O boi, além de consumir o campo, deixando ele baixo, e assim queimando mais lento, ainda se desloca sempre em fila indiana, deixando caminhos pelo pasto que funcionam como mini aceiros. O fogo, que já está baixo, chega nessas linhas e morre naturalmente”, disse ele. “Desde que me mudei para cá, é o terceiro incêndio, mas este supera os outros dois somados; vencemos o fogo no final de julho, mas agora, um mês depois, parece que ele deu toda a volta e apareceu do outro lado. É exaustivo isso." Thuronyi, que diz ter gasto R$ 18 mil nos últimos dois meses tentando manter o fogo longe de suas terras, alugou um pedaço do terreno para o vizinho, Celso Figueiredo, que teve 95% de sua fazenda queimada. Segundo estimativas oficiais, o trabalho de prevenção de incêndios florestais é entre 15 a 20 vezes mais barato que o combate.

            Mesmo defensores da aplicação do ‘boi bombeiro’, como é conhecida a prática do uso do gado como redutor da biomassa disponível para queima, não acreditam em sua aplicação em unidades de conservação. Em artigo de 2019, Cátia Nunes questiona se é possível compatibilizar o uso de gado e fogo como instrumentos para conservação e manutenção de campos nativos em áreas protegidas. A opinião de Thuronyi é enfática: “Nunca em unidades de conservação”.

            Enquanto Ibama e ICMBio estudam maneiras de fazer o manejo integrado do fogo em áreas protegidas, a RPPN faz um trabalho preventivo abrindo, no início do período mais seco, 200 km de aceiros em suas divisas. “Todos os anos temos que refazer essas barreiras, que são desfeitas com as cheias, porque há terrenos vizinhos que provocam queimadas constantemente”, explica Cristina Cuiabália, geógrafa, gerente de pesquisa e meio ambiente do Sesc Pantanal, e responsável pela reserva, que neste mês de agosto teve metade de sua área destruída pelo fogo. Com uma média de 6 metros de largura, são 1.200 km2 de aceiros abertos na vegetação nativa – uma área do tamanho da cidade do Rio de Janeiro – para tentar conter fogos causados fora das fronteiras.

            Bombeiro combate incêndios no Pantanal Matogrossense. As equipes evitam trabalhar durante as horas mais quentes do dia, quando a efetividade no combate a chama é bem menor.

            Foto de Gustavo Basso

            “Importa muito menos se a vegetação da reserva é mais ou menos inflamável do que quem risca o fósforo”, reclama a pesquisadora, que diz viver há mais de um mês em estado permanente de alerta, participando diretamente dos trabalhos no centro de comando instalado dentro do Sesc Pantanal para a tentativa de combate aos fogos. “A RPPN é a área do Pantanal com a maior concentração de pesquisas científicas; é um banco de dados muito rico construído com pesquisadores com quem fazemos constantes parcerias”, orgulha-se Cuiabália, enquanto observa parte do seu laboratório a céu aberto ainda fumegando e pouco confiante com a chegada das chuvas em outubro, como ocorre normalmente.

            Ao todo, 160 profissionais – entre bombeiros de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, militares, brigadistas do Prevfogo, do Ibama, do ICMBio e contratados pelo Sesc – trabalham na contenção do fogo. “Concentramos os esforços de manhã e fim de tarde, porque na hora mais quente é como enxugar gelo; aí o moral da equipe vai lá embaixo, e precisamos parar, respirar e planejar o resto do dia”, conta o tenente dos bombeiros Lucas Callegario, coordenador de equipes que combatem o fogo na região da Transpantaneira. Detentos também foram mobilizados pelo governo de Mato Grosso para trabalhar no controle das queimadas.

            No entanto, devido à violência das chamas, a equipe tem somado mais derrotas que vitórias. “Cada tentativa de combate direto ao fogo, independente do aparato utilizado ou de quem está no front, está sendo perdida", explica um profissional especializado em incêndios florestais que preferiu não se identificar. "Agora, o que resta é definir alvos a serem defendidos com a defesa indireta, e rezar para que São Pedro faça seu trabalho.”

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