Vídeo viral de urso mostra o lado negativo de filmar animais com drones

À medida que drones ficam menores e mais baratos, especialistas aconselham as pessoas a terem cuidado quando estiverem voando perto de animais selvagens.

Por Jason Bittel
Publicado 20 de nov. de 2018, 17:30 BRST, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
Uma ursa-parda e seus filhotes, como aqueles que foram recentemente filmados na Rússia em um controverso ...
Uma ursa-parda e seus filhotes, como aqueles que foram recentemente filmados na Rússia em um controverso vídeo feito por um drone e que se tornou viral.
Foto de Roy Toft, Nat Geo Image Collection

Um vídeo viral de uma ursa-parda e seu filhote chamaram a atenção de internautas e especialistas nas últimas semanas. Gravado por Dmitry Kedrov com um drone recentemente na costa do Mar de Okhotsk, na Rússia, a filmagem mostra um filhote de urso subindo e descendo, repetidamente, uma traiçoeira montanha.

E, apesar de o vídeo ter um final feliz — o filhote consegue chegar ao topo e os dois saem de lá —, muitos cientistas expressaram as suas preocupações nas redes sociais sobre o modo como o vídeo foi gravado.

Por exemplo, em pouco mais de um minuto de vídeo, a câmera dá um zoom e fica extremamente perto dos ursos. Ao mesmo tempo, a mãe parece olhar diretamente para o helicóptero de controle remoto e até mesmo parece golpear o aparelho — o que depois parece causar a queda do filhote da montanha.

Kedrov disse a um site russo que o efeito do zoom foi feito na pós-produção e que o drone não assustou os animais de forma alguma. Mas alguns especialistas não têm muita certeza disso.

 

“Pode ter sido um zoom da câmera de vídeo, mas muitos drones para consumidores não conseguem carregar uma câmera com lentes de zoom de alta qualidade,” diz Mark Ditmer, um ecologista de vida selvagem da Universidade Estadual de Boise, que vem estudando o impacto fisiológico que os drones têm nos ursos-negros. “Posso estar errado, mas acredito que esse drone se aproxima rapidamente e a mãe entra em pânico e golpeia por medo”.

“Você olha para a ursa no vídeo e ela fica encarando o drone por muito tempo”, comenta Sophie Gilbert, ecologista de vida selvagem da Universidade de Idaho. “Pela perspectiva dela, é realmente um OVNI. É um objeto voador não identificado.”

“Ela não faz ideia do que ele esteja fazendo. Provavelmente ela nunca tenha visto algo assim na vida. Ela tem um filhote muito novo com ela e, claro, a sua resposta é sentir medo”, diz Gilbert.

Na verdade, a presença do drone — e o desejo de fugir dele — poderia explicar por que a mãe e o seu filhote estão atravessando um terreno tão traiçoeiro para início de conversa; mães com filhotes tão jovens geralmente evitam viagens difíceis a não ser que elas sejam necessárias.

O som e a agitação

Enquanto os detalhes desse incidente em particular ainda estão sendo divulgados, há muitos outros vídeos online que mostram os efeitos que os drones podem ter na vida selvagem.

Gilbert se refere a vídeos de drones que pairam sobre  ursos-pardos comendo salmão de um lobo atacando um alce, e de  um antilocapra aparentemente tentando escapar de um drone voando baixo, exemplos de como as máquinas estão realmente influenciando o comportamento dos animais.

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    “Não sei quanto tempo você passou perto de drones voando, mas eles são muito barulhentos,” diz Gilbert, que fez uma crítica de como os drones estão sendo usados em uma pesquisa em 2016. Enquanto alguns desses vídeos tem trilhas sonoras, muitas delas tranquilas, “não é assim que o drone soa na vida real.”

    O barulho sozinho pode ter um impacto negativo em animais selvagens. Ele os distrai de outras funções necessárias, como comer ou competir por parceiras. Em alguns animais, essas máquinas podem provocar uma reação de luta ou fuga, enquanto outros mostram um aumento na vigilância como se eles estivessem na presença de um predador. E alguns animais parecem não ser afetados de forma alguma.

    No entanto, as aparências podem enganar. No estudo de Ditmer de 2015, ele conseguiu mostrar que enquanto a maioria dos ursos-negros não corriam para longe ou reagiam de formas óbvias aos drones os sobrevoando, a frequência cardíaca deles disparava.

    “Grandes picos na frequência cardíaca indicam uma resposta ao estresse”, ele explica. “No exemplo mais extremo, vimos a frequência cardíaca de um urso aumentar de 41 batimentos por minuto, antes do drone voar, para 162 batimentos por minuto quando o drone o estava sobrevoando”.

    E, por mais que seja verdade que ursos e outras criaturas possam ter um batimento cardíaco rápido de vez em quando, Ditmer observa que animais selvagens já estão sob muito estresse tentando encontrar comida o suficiente e evitar predadores.

    Além disso, humanos aumentarão essa carga de estresse enquanto continuarem invadindo áreas selvagens, criando ainda mais barulho com os carros, aviões, navios e extração de petróleo e gás natural.

    Voando com os drones de forma segura

    Algo que ficou claro depois de conversar com diversos especialistas é que ninguém disse que deveríamos banir todos os drones.

    “Após ler alguns comentários do vídeo do urso, fico preocupada que as pessoas demonizem os drones”, diz Margarita Mulero-Pázmany, palestrante sobre veículos aéreos não tripulados da Liverpool John Moores University, no Reino Unido. “Isso seria um erro. Não devemos culpar a ferramenta só porque ela pode ser usada incorretamente”.

    Ao invés disso, devemos desenvolver melhores práticas para os cientistas, amadores e entusiastas do ar livre para proteger tanto os animais quanto as pessoas.

    Em uma crítica que ela fez em 2016, Mulero-Pázmany sugere que operadores de drone evitem sobrevoar os animais, por ser muito ameaçador. Da mesma forma, todos os voos devem ser os mais curtos e mais discretos possíveis, usar modelos que são menores e elétricos, muito mais silenciosos do que os maiores, drones movidos a gás. A altitude também é importante e os operadores devem se esforçar para ficar o mais alto possível, enquanto ainda coletam dados úteis.

    Por fim, é preciso tomar cuidado para evitar espécies ameaçadas de extinção, animais que podem ser mais vulneráveis à presença do drone, como aqueles que voam ou que evoluíram para temer predadores aéreos, e nunca interferir com os animais durante épocas sensíveis em seu ciclo de vida, como por exemplo a época de reprodução.

    “Acredito que seja uma faca de dois gumes,” diz Gilbert. Por um lado, quando os drones são operados corretamente, há uma chance de ajudar pessoas a se sentirem mais conectadas com a vida selvagem, o que ela diz ser extremamente importante para resultados de conservação.

    Mas as pessoas também precisam lembrar que os animais têm as suas próprias vidas, necessidades e medos e nós “não podemos interferir”, diz Gilbert.

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