Conheça os tubarões que evoluíram para andar na terra — e o fizeram rapidamente

Quatro novas espécies desse colorido, porém esquecido, grupo de habitantes dos recifes foram encontradas desde 2008, de acordo com novo estudo.

Por Douglas Main
Publicado 4 de fev. de 2020, 17:00 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
O tubarão-epaulette do tipo leopardo (Hemiscyllium michaeli) é uma espécie de tubarão ambulante encontrada em recifes ...
O tubarão-epaulette do tipo leopardo (Hemiscyllium michaeli) é uma espécie de tubarão ambulante encontrada em recifes de coral na região de Milne Bay, no leste da Papua-Nova Guiné.
Foto de Conservation International, Mark V. Erdmann

OS TUBARÕES HABITAM os oceanos há centenas de milhões de anos. Nesse período, a maioria das espécies pouco mudou. Porém alguns tubarões peculiares ainda estão evoluindo — e até aprenderam a andar. Conheça os tubarões ambulantes.

Essas criaturas de 91 centímetros de comprimento vivem nas proximidades da Austrália e, como o nome indica, movem as barbatanas peitorais frontais e as barbatanas pélvicas traseiras para percorrer o fundo do mar — ou até mesmo a superfície dos recifes de coral, fora da água, na maré baixa. Essa mobilidade permite aos tubarões esgueirar-se entre poças formadas pela maré e as diferentes áreas do recife para caçar caranguejos, camarões, peixes pequenos — praticamente qualquer coisa que conseguirem encontrar.

“Durante a maré baixa, eles se tornaram os principais predadores do recife,” conta Christine Dudgeon, pesquisadora da Universidade de Queensland em Brisbane, Austrália.

Agora, um estudo de longo prazo realizado por um grupo internacional de colaboradores descobriu, desde 2008, quatro novas espécies de tubarões ambulantes, elevando o total para nove. Em artigo publicado na revista científica Marine and Freshwater Research, os pesquisadores também mostraram que essas espécies evoluíram durante os últimos nove milhões de anos.

“Isso é extremamente incomum”, afirma Gavin Naylor, diretor do Programa de Pesquisa em Tubarões da Flórida na Universidade da Flórida, visto que a maioria dos tubarões evolui lentamente. Os tubarões-albafar, por exemplo, habitantes das profundezas do mar “parecem que pararam no tempo,” diz Naylor. “Vemos animais de 180 milhões de anos atrás com exatamente os mesmos dentes.”

Contudo, os tubarões ambulantes provavelmente ainda continuam evoluindo em suas águas tropicais nativas ao redor da Austrália, Papua-Nova Guiné e leste da Indonésia.

“Este pode ser o único lugar no mundo em que a especiação de tubarões ainda esteja acontecendo,” relata Naylor. Estudar essas criaturas ajudará os pesquisadores a entenderem melhor os animais e porque “alguns mudam e outros permanecem iguais,” acrescenta ele.

Voltando no tempo

Cerca de 400 milhões de anos atrás, ocorreu a divergência entre os ancestrais dos tubarões e o de todos os outros vertebrados com mandíbula. Desde então, surgiram apenas 1,2 mil espécies de tubarões e raias. Os animais são, na maioria das vezes, muito lentos para evoluir e reproduzir, além de viverem bastante, explica Naylor.

Em outras situações, essa combinação de características tornaria um animal menos adaptável e mais vulnerável à extinção, uma vez que, em muitos casos, a evolução contínua é necessária para sobreviver às mudanças de condições.

Você poderia dizer, por exemplo, que “essas criaturas deveriam estar extintas”, diz Naylor. “Como você existe há tanto tempo com uma taxa de evolução tão lenta?"

Os tubarões ambulantes podem deixar a água, por um curto período, e “caminhar” entre poças formadas pela maré. Essa característica faz deles grandes predadores.
Foto de Conservation International, Mark V. Erdmann

Mas os tubarões, obviamente, não estão extintos — e prosperaram, superando muitos outros seres marinhos que surgiram e desapareceram durante o reinado deles no mar. Aparentemente, eles descobriram uma fórmula que funciona, apesar do oceano estar em constante mudança.

Naylor diz que os abundantes recifes de coral na área de ocorrência dos tubarões ambulantes são dinâmicos, tendo sofrido alterações contínuas nas eras recentes, à medida que o nível do mar sobe e desce, as correntes mudam, os recifes prosperam ou definham e as temperaturas se alteram. Esse dinamismo é provavelmente o que impulsionou a rápida evolução e diversidade desses tubarões.

“É o equivalente ao tubarão-das-galápagos, onde é possível ver a evolução da espécie em ação.”

Além disso, esses animais são “caseiros,” explica Dudgeon, desovam nos recifes e não se deslocam para muito longe de onde nasceram. Isso impede um grande fluxo gênico — e obstáculos aparentemente superáveis, como pequenos trechos de águas profundas — proporcionaram separação suficiente para que os animais evoluíssem de forma única em lugares diferentes.

Caminhantes pouco conhecidos

Até 2008, os cientistas acreditavam que havia apenas cinco espécies de tubarões ambulantes, também conhecidos como tubarões-epaulette. Embora a maioria desses animais tenha anatomia semelhante, eles têm diferentes padrões de coloração e marcação. Uma análise genética mais detalhada realizada no novo estudo revela exatamente quando as espécies divergiram umas das outras no passado e que, na verdade, existem nove espécies.

Dudgeon trabalhou com Gerry Allen, do Museu da Austrália Ocidental, e Mark Erdmann, da Conservação Internacional, para coletar amostras de DNA de tubarões da região, tirando pequenos pedaços das barbatanas sem ferir os animais. Também foram usadas amostras de espécimes de museus. Esses dados foram sequenciados e analisados no laboratório de Naylor e comparados para criar uma árvore filogenética, um mapa genético do gênero do tubarão ambulante, Hemiscyllium.

Como a maioria dos tubarões, eles enfrentam ameaças como a pesca predatória e a coleta destinada ao comércio de aquários. Portanto, algumas das espécies, restritas a áreas relativamente pequenas, estão vulneráveis, informa Dudgeon.

Como várias delas foram pouco estudadas e apenas recentemente bem descritas, há uma carência de dados. Apenas três das nove espécies conhecidas estão incluídas na Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da União Internacional para a Conservação da Natureza. Felizmente, acredita-se que nenhum deles esteja ameaçado ou em risco ainda. Porém, em alguns casos, “simplesmente não sabemos como estão indo,” diz Dudgeon.

“Essas espécies foram praticamente ignoradas,” acrescenta ela.

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