As 12 descobertas mais intrigantes do reino animal em 2021

Reveja as descobertas da vida selvagem mais fascinantes deste ano, incluindo formigas que podem expandir seus cérebros e o menor réptil do mundo.

Por Douglas Main
Publicado 29 de dez. de 2021, 07:00 BRT
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Elefantes fêmeas sem presas estão se propagando no Parque Nacional da Gorongosa, em Moçambique. A guerra civil do país levou à caça ilegal generalizada, causando a morte da maioria dos elefantes e uma mutação que faz com que alguns descendentes de sobreviventes não desenvolvam presas.

Foto de Elephant Voices

À medida que nos aproximamos do terceiro ano da pandemia de covid-19 e em meio a um cenário de mudanças climáticas cada vez mais destrutivas, a cobertura de notícias científicas, às vezes, pode ser uma leitura pesada.

Mas a Terra ainda é um lugar incrível, repleto de esperanças e mistérios. A pesquisa sobre as maravilhas do mundo natural continua a nos mostrar como a vida em nosso planeta realmente é incrível.

Estas são as 12 principais descobertas do reino animal que chamaram a atenção da National Geographic este ano.

“Nascimentos virginais” em um pássaro raro 

Os condores-da-califórnia — magníficos necrófagos com envergadura de mais de três metros — quase foram extintos em meados do século 20 devido a envenenamento, caça ilegal e destruição de habitat. Em uma tentativa ambiciosa de salvá-los, todos os 22 espécimes da natureza foram capturados em 1987 e criados em cativeiro antes de serem devolvidos à natureza em regiões dos estados da Califórnia, Utah e Arizona, nos Estados Unidos, e em Baja Califórnia, México. Atualmente a população total é de mais de 500 indivíduos.

Pesquisadores acompanharam cuidadosamente os hábitos de reprodução e a genética das aves e, em outubro, descobriram que duas fêmeas deram à luz filhotes — sem cruzamento. Essa é a primeira evidência de nascimento virginal, também conhecido como partenogênese, nessa espécie (e provavelmente entre aves não domesticadas). Cientistas acreditam que essa forma de reprodução é significativamente mais comum no mundo animal do que se pensava, em parte porque é difícil de ser detectada e raramente rastreada.

Embora a partenogênese possa salvar espécies raras quando os companheiros são escassos, ela também pode ter suas desvantagens, como reduzir a diversidade genética.

E por que esse fenômeno aconteceu? “Simplesmente não sabemos”, declara Oliver Ryder, diretor de genética da conservação da Aliança de Vida Selvagem do Zoológico de San Diego. “Será que acontecerá novamente? Prefiro acreditar que sim.”

Covid-19 detectada em cervos selvagens e outros animais 

O vírus que causa a covid-19 não acomete apenas humanos: também pode infectar uma grande variedade de espécies animais.

Até o momento, pesquisadores encontraram evidências de infecção em animais cativos e domesticados, incluindo tigres, leões, gorilas, visons, leopardos-das-neves, cães e gatos de estimação. Em geral, acredita-se que o vírus cause sintomas leves em outros animais.

Mas o novo coronavírus também infecta cariacus selvagens na América do Norte. Cientistas do estado de Iowa, Estados Unidos, constataram infecções ativas em cerca de 80% dos cervos, de acordo com uma pesquisa publicada em novembro no site bioRxiv, que publica descobertas científicas preliminares. A análise sugere que cervos foram infectados diversas vezes pelos humanos e que a doença está sendo transmitida entre os indivíduos da espécie, embora ninguém saiba como podem ter contraído o vírus. Essa pesquisa é semelhante a um estudo publicado no início do ano, demostrando que 40% dos 152 cervos testados em três estados — Michigan, Illinois e Nova York — tinham anticorpos contra o Sars-CoV-2.

Um animal comum como reservatório do vírus é preocupante, já que os cervos podem retransmiti-lo aos humanos, segundo os pesquisadores.

Menor réptil do mundo descoberto 

Em fevereiro, pesquisadores anunciaram uma nova espécie de camaleão descoberta em uma floresta tropical no norte de Madagascar, denominada Brookesia nana, ou B. nana na forma abreviada. Chamado de nanocamaleão, o animal é praticamente do tamanho de uma semente de girassol e pode ser o menor réptil do planeta.

Encontrar um réptil tão pequeno levanta questões interessantes sobre o limite mínimo para o tamanho corporal de vertebrados. Também destaca a surpreendente — e extremamente ameaçada de extinção — biodiversidade de Madagascar. Os cientistas que realizaram a descoberta suspeitam que, em breve, o camaleão será listado como espécie criticamente ameaçada de extinção.

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    A nova espécie Brookesia nana, descoberta no norte de Madagascar, é provavelmente o menor réptil do planeta.

    Foto de Frank Glaw, Zoologische Staatssammlung München

    Clonagem da doninha-de-patas-pretas 

    Para salvar mais uma espécie ameaçada de extinção, cientistas clonaram com êxito uma doninha-de-patas-pretas por meio de células preservadas de um animal silvestre morto há muito tempo. É a primeira vez que uma espécie nativa ameaçada de extinção foi clonada nos Estados Unidos.

    A conquista, anunciada em fevereiro, é um grande avanço, já que restam apenas cerca de 500 exemplares de doninhas-de-patas-pretas — todos parentes próximos e descendentes de uma única colônia encontrada em 1981 em Wyoming, Estados Unidos, depois que a espécie foi considerada extinta.

    Mas as células de uma fêmea chamada Willa, que morreu em meados da década de 1980 sem se reproduzir, foram preservadas no gelo no Frozen Zoo, um programa da Aliança de Vida Selvagem do Zoológico de San Diego. Essas células foram clonadas e deram vida a uma doninha saudável que recebeu o nome de Elizabeth Anne.

    Os pesquisadores esperam que seja possível introduzir os filhotes de Elizabeth na natureza nos próximos anos, contribuindo com uma diversidade genética muito necessária na população consanguínea.

    Encontrado centro mundial de diversidade de abelhas 

    O Vale de San Bernardino, localizado entre o Arizona e o México, é uma das áreas alagadas interiores mais importantes do sudoeste dos Estados Unidos. Ao longo das eras, a água percorreu para o sul das montanhas e forçou seu caminho para além de poços artesianos, dando origem a uma diversidade de plantas e flores ao longo do ano. Essa diversidade de plantas também suporta uma grande variedade de insetos, incluindo abelhas.

    Em abril, um estudo publicado no periódico Journal of Hymenoptera Research, constatou que 497 espécies de abelhas vivem em pouco mais de 15 quilômetros quadrados do vale — extensão 10 vezes menor do que Washington, D.C. Consistindo, de longe, na maior concentração de diversidade de abelhas na face da Terra.

    A descoberta torna fundamental a necessidade de proteger o vale, que sofreu com a construção do muro de fronteira, um muro de aço de cerca de nove metros que atravessa o vale. Os construtores utilizaram grandes quantidades de água do aquífero para fazer cimento para a base do muro, o que fez com que as nascentes no vale secassem.

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      Abelhas machos da espécie Eucera longicornis dormem agarradas aos caules das plantas à noite no Refúgio Nacional de Vida Selvagem de San Bernardino, lar da maior biodiversidade de abelhas da Terra.

      Foto de Bruce D Taubert

      Evolução dos elefantes que não desenvolvem presas

      A guerra civil de Moçambique, que ocorreu de 1977 a 1992, foi brutal para os elefantes-africanos. Mais de 90% dos animais foram mortos para obtenção de marfim no Parque Nacional da Gorongosa. Mas a carnificina teve um resultado inesperado: alguns elefantes estão evoluindo sem presas, o que torna menos provável que sejam mortos por caçadores ilegais.

      Conforme a National Geographic relatou anteriormente, cerca de um terço das elefantes fêmeas mais jovens na Gorongosa, nascidas após o fim da guerra em 1992, nunca desenvolveram presas.

      Uma pesquisa publicada em outubro na revista científica Science revela que esses elefantes têm cópias mutadas de dois genes que normalmente promovem o desenvolvimento das presas.

      Normalmente, a ausência de presas ocorre apenas em cerca de 2% a 4% das fêmeas de elefantes-africanos.

      Migração de onças-pintadas para os Estados Unidos, reivindicando um antigo território 

      Os estados do Arizona e Novo México são territórios tradicionais da onça-pintada: no início do século 20, os grandes felinos eram encontrados em ambos os estados, e no extremo norte, como no Grand Canyon. Mas nos últimos 15 anos, foi relatado um total de sete onças-pintadas machos no Arizona.

      Como a National Geographic noticiou em março, os cientistas agora têm conhecimento de uma onça-pintada macho adolescente que habita terras protegidas a alguns quilômetros ao sul da fronteira entre México, Arizona e Novo México — um sinal de que a espécie pode estar se disseminando para o norte a partir de uma população reprodutora em Sonora, no México.

      Cientistas preveem que é possível que o felino possa acabar recuperando partes de sua antiga área de distribuição nos Estados Unidos se a espécie e os corredores de vida selvagem forem preservados — e se o muro de fronteira não for ampliado.

      Cavalos selvagens e burros cavam poços no deserto 

      Embora algumas pessoas considerem cavalos selvagens e burros uma ameaça introduzida, eles podem impactar o ambiente de maneiras que ajudam outros animais.

      Em abril, na revista científica Science, cientistas relataram que esses animais podem utilizar seus cascos para cavar mais de um metro e oitenta de profundidade para alcançar o lençol freático, criando oásis que fornecem água a outros animais selvagens. A equipe identificou esses poços no deserto de Sonora, no oeste do Arizona, e no deserto de Mojave, na Califórnia, registrando um total de 57 espécies que se beneficiaram das fontes de água. Incluindo texugos-americanos; ursos-pretos; e uma variedade de aves, inclusive algumas espécies em declínio, como mochos-duende.

      O comportamento se enquadra na definição de “engenharia de ecossistema”, um fenômeno pelo qual a vida selvagem altera seu ambiente, de acordo com o autor do estudo Erick Lundgren, pesquisador de pós-doutorado na Universidade Aarhus, na Dinamarca.

      Lesmas-do-mar cortam suas próprias cabeças 

      Normalmente, quando um animal perde a cabeça, consequentemente perde a vida. Mas não é o caso de algumas lesmas-do-mar. Conforme descrito em um estudo publicado em março na revista científica Current Biology, duas espécies de animais marinhos podem arrancar suas próprias cabeças e cada cabeça desmembrada pode, então, regenerar um corpo inteiramente novo.

      Essas criaturas também são incomuns, pois conseguem roubar cloroplastos de algas e, possivelmente, captar energia do sol dentro de seus próprios corpos.

      Os pesquisadores estão interessados nesses exemplos extremos de regeneração corporal, que podem ter implicações para a medicina humana.

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        Estas lesmas-do-mar podem regenerar novos corpos após a autodecapitação, uma característica rara no reino animal.

        Foto de Sayaka Mitoh

        Cacatuas aprendem umas com as outras 

        Animais têm cultura? Se a cultura consiste em um conjunto compartilhado de comportamentos que podem ser transmitidos entre indivíduos, a resposta é sim. Mas os estudos de aprendizagem e cultura animal geralmente se concentram em um grupo específico de mamíferos, como cetáceos e grandes símios. Os cientistas desejavam saber se os papagaios também possuem uma cultura.

        De acordo com um estudo publicado em julho na revista científica Science, nos subúrbios de Sydney, Austrália, algumas cacatuas-de-crista-amarela — um papagaio colorido e gregário — descobriram como abrir as tampas das latas de lixo, tendo acesso a uma nova fonte de alimento. Outras cacatuas rapidamente copiaram o comportamento.

        Essa descoberta significa que os papagaios “entraram para o grupo de animais que apresentam comportamentos culturais”, explica a líder do estudo Barbara Klump, ecologista comportamental do Instituto Max Planck de Comportamento Animal na Alemanha.

        Migração de baleias bate recordes 

        Até qual distância uma baleia pode nadar?

        Uma baleia-cinzenta estabeleceu o recorde mundial para um vertebrado marinho, percorrendo mais de 26,8 mil quilômetros — mais da metade da volta ao mundo, de acordo com um estudo publicado em junho na revista científica Biology Letters. O cetáceo macho, avistado na costa da Namíbia em 2013, também é a primeira baleia-cinzenta já observada no Hemisfério Sul.

        Quando o coautor do estudo Simon Elwen, zoólogo da Universidade de Stellenbosch, na África do Sul, ouviu pela primeira vez sobre o avistamento de 2013, ele não acreditou.

        “É como se alguém dissesse que viu um urso-polar em Paris — tecnicamente, o animal poderia chegar lá, mas simplesmente não parece muito realista.” Porém a pesquisa revelou que os genes da baleia correspondiam aos da população conhecida no Pacífico Norte.

        Formigas podem encolher e expandir seus cérebros

        As formigas-saltadoras-de-jerdon, uma espécie com olhos grandes e pretos e mandíbulas que parecem pinças, encontradas em florestas ao longo da costa oeste da Índia, possuem uma maneira peculiar de escolher rainhas. As operárias realizam competições em que a vencedora passa a ser a monarca, capaz de produzir ovos. Os ovários da fêmea vencedora se expandem e seu cérebro encolhe até 25%.

        Mas, de acordo com um estudo publicado em abril no periódico Proceedings of the Royal Society B: Biological Sciences, essas formigas-rainhas também podem ser tiradas de sua posição e retornarem à função de operárias, fazendo com que seus órgãos reprodutivos encolham e o cérebro se expanda novamente — um feito extraordinário desconhecido anteriormente em insetos.

        “No mundo animal, esse nível de plasticidade — e especialmente a plasticidade reversível — é bastante raro”, explica o líder do estudo Clint Penick, da Universidade Estadual de Kennnesaw, na Geórgia, Estados Unidos.

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