Mulheres sofreram mais em termos financeiros durante a pandemia

Novos dados revelam por que as mulheres não conseguem se recuperar das consequências econômicas decorrentes da pandemia tão rapidamente quanto os homens.

Mulher usando máscara de proteção passa em frente a mural do artista de rua Alex Martinez, na fachada de uma loja de bolsas de Atenas. Há mais mulheres do que homens que trabalham em setores como o varejo, que ainda estão sofrendo com paralisações relacionadas à pandemia.

Foto de Petros Giannakouris, Ap
Por Rachel Hartigan
Publicado 11 de jul. de 2021, 08:00 BRT

O dano econômico desproporcional que a pandemia causou às mulheres — também chamado de “shecession”, jogo de palavras com o termo recession (recessão) e she (ela) — parece ter surpreendido muitas pessoas. Porém, desigualdades de longa data fizeram com que as mulheres ficassem especialmente vulneráveis.

A Fundação Gates publicou novos dados obtidos pelo Grupo Eurásia e a Organização Internacional do Trabalho, em conjunto com o Fórum de Igualdade de Geração de Mulheres da ONU, documentando por que mulheres do mundo inteiro foram as mais atingidas e têm a recuperação mais lenta.

“Isso não acontece apenas no hemisfério norte”, indica Anita Zaidi, presidente da Divisão de Igualdade de Gênero da Fundação Gates. “É no mundo inteiro.”

De acordo com os novos dados, embora uma proporção semelhante de homens e mulheres tenha perdido o emprego durante a pandemia, o número de mulheres recontratadas é menor. É provável que o número de mulheres que estão empregadas em 2021 seja 13 milhões a menos em comparação com 2019.

Uma das principais razões para a falta de emprego é que muitas mulheres trabalham em setores que ainda sofrem com paralisações — varejo, turismo, hotelaria e restaurantes. Outra razão é o cuidado dos filhos: com escolas e creches fechadas, muitas mulheres no mundo inteiro não tiveram outra opção a não ser pedir demissão para cuidar dos filhos. Antes da pandemia, um quarto das mulheres passava mais de nove horas por dia cuidando dos filhos; agora, um terço dedica pelo menos essa mesma quantidade de tempo.

“As pessoas analisam a pandemia apenas pelo ponto de vista da saúde”, reflete Zaidi. “Ninguém pensou: ‘tudo bem, quais serão as reais consequências para a educação, escolaridade e cuidado infantil?’”

A visão e as prioridades da vida pós-pandemia serão estabelecidas, em grande parte, por quem está no comando. As forças-tarefa relacionadas à covid-19 proliferaram durante a crise — há 225 delas em 137 países — mas apenas um quarto das posições são ocupadas por mulheres. De forma mais ampla, embora 70% dos profissionais de saúde sejam mulheres, elas representam apenas 25% dos líderes das áreas de saúde.

Isso gera grandes lacunas de conhecimento — e de cuidados que são fundamentais na vida de muitas mulheres, mas não são classificados oficialmente como essenciais. Programas voltados à saúde da mulher, como o uso de métodos contraceptivos, não foram considerados serviços essenciais durante o confinamento, conta Zaidi. O resultado? Estima-se que cerca de 12 milhões de mulheres perderam o acesso a métodos contraceptivos, resultando em 1,4 milhão de gestações indesejadas.

Os efeitos cumulativos de empregos perdidos, falta de acesso a creches e gestações não planejadas levam ao aumento da pobreza. Antes da pandemia, as taxas globais de pobreza estavam diminuindo em um índice de 2,5%. Estima-se que, neste ano, as taxas de pobreza aumentarão 9%.

Mas novos estudos concluem que é possível reverter essa tendência. Dados do Grupo Eurásia indicam que a disponibilização de creches para os filhos dessas mulheres acrescentaria três trilhões de dólares à economia global, enquanto programas de transferência de renda — pequenas quantias distribuídas para mulheres que ganham menos de dois dólares por dia — poderiam tirar até 100 milhões de mulheres da pobreza.

A Fundação Gates se comprometeu a doar US$ 2,1 bilhões nos próximos cinco anos, destinados à emancipação econômica das mulheres, saúde e planejamento familiar e desenvolvimento de liderança. “A pobreza é sexista”, afirma Zaidi — portanto, as soluções devem levar o gênero em consideração.

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