O próximo pouso na Lua está chegando

Visionários, entusiastas e sonhadores, esses cientistas competem para enviar um jipe-robô ao nosso satélite.

Por Sam Howe Verhovek
fotos de Vincent Fournier
Publicado 8 de nov. de 2017, 20:35 BRST, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
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Synergy Moon – O técnico Erik Reedy avalia foguetes na Interorbital Systems (IOS), empresa apoiadora dessa equipe multinacional. O objetivo da IOS é oferecer os lançamentos mais baratos no setor privado.
Foto de Vincent Fournier

Os jovens engenheiros indianos vão se ajeitando, com certo nervosismo, na sala improvisada em um galpão na cidade de Bangalore. Diante deles estão homens e mulheres mais velhos, muitos deles veteranos do programa espacial da Índia. Primeira agência asiática a enviar um satélite até a órbita de Marte, a Organização Indiana de Pesquisa Espacial também superou, com folga, o recorde mundial de lançamentos, colocando 104 satélites em órbita terrestre no decorrer de uma única missão, em fevereiro de 2017. Mas, nessa reunião, o foco é outro: um dispositivo com rodas e do tamanho de um forno de micro-ondas.

Logo os jovens passam a apresentar os seus planos: lançar o jipe-robô conhecido como ECA em um foguete no final de 2017, colocá-lo na órbita da Lua a quase 400 mil quilômetros de distância, e, depois, guiá-lo de tal modo que pouse na superfície lunar para que, então, explore a árida paisagem. Os engenheiros da TeamIndus garantem que tudo isso será feito com um orçamento mínimo, ao redor de 65 milhões de dólares, quase todo garantido por investidores particulares.

Pesando apenas 7,5 quilos – mas sustentando, na sua estrutura de aparência frágil, o orgulho e a esperança de um país −, o robô conhecido como ECA passa por testes em Bangalore. O grande balão de hélio a que está preso simula a gravidade da Lua, que é somente um sexto da terrestre.
Foto de Vincent Fournier

Um conhecido investidor de Mumbai, Ashish Kacholia, que aplicou mais de 1 milhão de dólares na empresa, está sentado no fundo da sala, acompanhando, fascinado, a discussão. Não há para ele necessidade de passar ali tanto tempo, mas o fato é que ficou entretido com as conversas eruditas sobre projeções orbitais selenocêntricas (com o centro na Lua), simulações de forças, o apogeu e o perigeu, e os princípios que permitem aos “garotos” calcular a matriz de covariância dos erros.

“É emocionante, na verdade”, conta Kacholia. “A gente vê esses jovens de 25, 28 anos defendendo os seus cálculos, e todo o seu trabalho, perante aquelas figuras veneráveis, que representam coletivamente um milênio de conhecimento e sabedoria em assuntos aeroespaciais acumulados em nosso país.” Um de seus amigos, S.K. Jain, outro investidor conhecido, assente de modo enfático, com um movimento de cabeça. “Esses garotos estão despertando a capacidade de imaginação dos indianos”, comenta. “Estão dizendo, em alto e bom som, que nada é impossível.”

Quase meio século após o término da primeira grande corrida para a Lua, na qual os Estados Unidos e a União Soviética destinaram um volume assombroso de recursos públicos, está em curso uma nova competição para se alcançar o satélite do nosso planeta – desta vez financiada, sobretudo, por recursos privados e a custos bem mais baixos. O incentivo mais imediato é um prêmio, o Google Lunar XPrize (ou GLXP), no valor de 20 milhões de dólares, que será concedido ao vencedor dentre cinco times oriundos de todos os cantos do mundo. Serão as primeiras equipes que, com patrocínio privado, vão tentar levar à Lua um veículo robótico capaz de transmitir imagens de alta qualidade para a Terra.

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    O módulo Lunar Quattro, da Audi, construído pela empresa PT Scientists, enfrenta o solo aquecido a 120ºC sob holofotes de mil watts, em uma simulação das condições lunares. O veículo não participa do GLXP, mas pode levar para lá cargas de “valor pessoal, educativo, científico ou tecnológico”.
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    A ideia dessa competição tem como modelo explícito os grandes prêmios concebidos para estimular inovações durante os primórdios da aviação, em especial o Prêmio Orteig, conquistado pelo americano Charles Lindbergh, em 1927, ao concluir com êxito um voo ininterrupto de Nova York a Paris com o avião Spirit of St. Louis.

    Tal como no desafio colocado pelo Orteig, um dos elementos em jogo na disputa pelo Lunar XPrize é o prestígio nacional. Além dos indianos, disputam a honraria grupos de Israel, Japão e Estados Unidos, assim como uma equipe multinacional. Até a etapa das semifinais, encerrada em 2016, participaram nada menos que 16 equipes, com participantes de outras nações.

    Quase tão diversificadas quanto os países de origem são as abordagens técnicas e as parcerias comerciais estabelecidas com o propósito de solucionar os três problemas básicos a enfrentar – o lançamento na Terra, o pouso na Lua e, depois, o deslocamento do módulo para efetuar a coleta e a transmissão de dados. Quanto a este último requisito, três equipes planejam usar versões do tradicional jipe-robô, ao passo que as outras duas pretendem fazer com que o módulo de pouso dê um passo gigante para a iniciativa privada – “saltando” a distância mínima requerida de 500 metros, em vez de percorrer a superfície do satélite.

    E, assim como em muitos casos dos primeiros prêmios de aviação, a equipe ganhadora deverá gastar bem mais que o valor oferecido pelo prêmio, embora todas as equipes contem com o fato de que a publicidade global e a “valorização da marca” obtidas com a vitória acabem, no fim das contas, compensando o investimento.

    Confira a reportagem completa: Cientistas, visionários, entusiastas, sonhadores: rumo à Lua. De novo. na edição de agosto de 2017 da revista National Geographic Brasil.
    Publicada por ContentStuff.

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