Como as asas longas ajudam mariposas a fugirem de ataques de morcegos

Cientistas determinam que, quanto maiores as asas e caudas da mariposa, maiores são as chances dos insetos sobreviverem a um ataque de morcego.

Por Jason Bittel
Publicado 24 de jul. de 2018, 17:51 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
Uma mariposa da lua, Actias luna, mostra suas asas gigantes em uma samambaia na Carolina do ...
Uma mariposa da lua, Actias luna, mostra suas asas gigantes em uma samambaia na Carolina do Norte
Foto de Al Petteway and Amy White, National Geographic Creative

Quando uma mariposa-da-lua-africana abre suas grandes asas verdes, ela fica quase do tamanho de uma raquete de ping-pong. As criaturas são lindas de se olhar e têm um corpo suculento e cheio de nutrientes alojados entre as asas gigantes: elas são um petisco cobiçado pelos morcegos famintos.

Mais do que isso, as asas traseiras da mariposa possuem longas caudas, que parecem ser perfeitas para apanhar.

Mesmo assim, mesmo quando os morcegos usam sua ecolocalização superpoderosa para encontrar as mariposas, eles muitas vezes erram. Por que isso?

Grandes asas traseiras lobadas, como as desta Rothschildia erysina, são outra estratégia de defesa anti-morcegos desenvolvida por certas espécies de bicho da seda.
Foto de University Of Florida

De acordo com um estudo recente publicado na revista Science Advances, as caudas das mariposas não são um problema – elas ajudam a desviar as ondas sonoras que os morcegos usam na ecolocalização para encontrar presas.

“Parece que os morcegos estão tratando essas mariposas com caudas como se fossem dois alvos separados que eles podem tentar atacar”, diz Juliette Rubin, ecologista sensorial do Barber Lab Boise State University e autora do novo estudo.

A melhor parte? Os dois alvos levam os morcegos para longe do centro vulnerável da mariposa.

Para entender como isso funciona. Rubin e seus coautores colocaram morcegos contra várias espécies de mariposas com caudas de tamanhos e formatos diferentes, algumas delas foram artificialmente reduzidas ou alongadas para o propósito do estudo. E o time descobriu uma tendência fascinante.

“Conforme aumentam as asas traseiras e caudas, as mariposas conseguem escapar melhor de seus predadores”, diz Rubin, bolsista da National Geographic.

Morra em outro dia

Alguns centímetros a mais de cauda podem não parecer um grande avanço, especialmente considerando outras adaptações anti-morcego que existem. Grandes traças de cera, por exemplo, desenvolveram uma audição altamente sensível que detecta o som do morcego conforme ele se aproxima. Os insetos da família Springidae de Bornéu podem produzir ultrassom ao vibrar seus genitais, efetivamente acabando com o radar de seus inimigos morcegos.

Mas os benefícios da ilusão sensorial que a cauda de uma mariposa pode criar podem literalmente ser a diferença entre a vida e a morte.

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    As mariposas desenvolveram uma série de métodos para evitar serem comidas, de vibrações que confundem o sonar até pontos cegos que parecem com olhos para confundir predadores. Demonstrada aqui, uma Lopea megacore, espécie encontrada na Ásia.
    Foto de University Of Florida

    Com suas caudas intactas, as gigantes verdes conseguem sobreviver a incríveis 73% dos ataques de morcegos. Mas, quando Rubin e seus coautores cortaram parte das caudas das mariposas da lua, elas conseguiram escapar apenas em 45% das vezes. E se as caudas fossem removidas completamente, a taxa de escape caía para 34%, apesar da habilidade de voo das mariposas parecer estar intacta.

    Interessantemente, as caudas não deixam as mariposas invisíveis aos morcegos. Em vez disso, as caudas confundem a percepção dos morcegos o bastante para fazê-lo atacar no lugar errado, normalmente atingindo as asas traseiras ou as próprias caudas.

    “Na verdade, é raro que um morcego pegue uma cauda e a arranque”, diz Rubim, “mas mesmo que eles façam isso, parece que as mariposas ainda conseguem escapar.”

    Lembrem-se, diz Rubim, “essas são mariposas bastante grandes.”

    Construindo uma mariposa melhor

    Além de filmar batalhas entre morcegos e mariposas, o novo estudo também criou uma árvore genealógica detalhada, chamada de filogenia, para todas as espécies conhecidas de bicho-da-seda. Isso revelou que as caudas anti-morcego evoluíram separadamente várias vezes nessa família de mariposas, ao invés de serem todas originárias de um ancestral comum. Isso sugere que os morcegos podem estar fazendo as mariposas evoluírem em direção a formas com caudas alongadas ou em concha através da seleção natural.

    “O que mais nos surpreende é que parece haver várias maneiras de enganar o sistema de ecolocalização do morcego e uma variedade de mariposas parecem ter convergido para esta estratégia separadamente”, diz Aaron Corcoran, biólogo organismal que estuda ecolocalização de morcegos na Wake Forest University.

    Corcoran também aponta outro detalhe do estudo – os morcegos nunca melhoraram em caçar mariposas de caudas longas, apesar de vários meses as caçando, uma noite após a outra.

    Alguns bichos da seda, como este Urota sinope, desenvolveram caudas curtas como uma defesa anti-morcegos.
    Foto de University Of Florida

    “Cientistas passaram décadas revelando o quanto os morcegos são bons em enxergar o mundo através da ecolocalização”, diz ele. “O fato de os morcegos do estudo não terem aprendido a pegar essas mariposas, apesar de terem tido tempo para aprender, mostra como esse é um ponto cego na percepção do morcego”.

    É claro que isso não significa que as mariposas tenham, de repente, vencido a luta evolutiva.

    As mariposas podem ter encontrado uma maneira de enganar o sonar dos morcegos, mas, com o tempo, os morcegos podem evoluir para depender menos do sonar e mais da visão. Nesse caso, as caudas mais longas e complicadas das mariposas podem deixar de ser uma vantagem e passar a ser uma desvantagem.

    Essa é a beleza e o terror da evolução. Quando você acha que ganhou o jogo, as regras mudam. E você vira o jantar.

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