Encontrada nova espécie de tarântula com altura recorde

Se você tem medo de aranhas, correr para as montanhas não vai ajudar, pelo menos não na América do Sul.

Por Nadia Drake
Publicado 6 de set. de 2018, 16:05 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
Sete novas espécies de tarântulas foram descobertas no gênero Hapalotremus. Na foto, as Hapalotremus albipes identificadas ...
Sete novas espécies de tarântulas foram descobertas no gênero Hapalotremus. Na foto, as Hapalotremus albipes identificadas anteriormente, que podem parecer grandes, mas não passam de cinco centímetros de comprimento.
Foto de Mauricio Pacheco

Em 2005, Tracie Seimon, bióloga e autoproclamada sofredora de aracnofobia, revirava rochas à procura de rãs em grandes altitudes nos Andes peruanos.

Porém, encontrou sob as rochas algo inesperado e, na ocasião, um tanto perturbador: “Começamos a observar essas pequenas tocas com uns rabinhos penugentos se projetando para fora”, afirma Seimon, então na Universidade de Colúmbia. Ela convenceu um colega a ajudá-la a puxar para fora e fotografar uma das criaturas, o que se tratava nada mais nada menos do que uma tarântula de aproximadamente cinco centímetros de comprimento.

Encontrar uma tarântula a essa altitude, a mais de 4.480 metros de altura, foi uma revelação. Normalmente essas aranhas peludas não gostam muito do clima árido e da falta de oxigênio de montanhas ou terrenos subglaciais. Mas mal sabia Seimon que as montanhas da América do Sul estavam literalmente repletas de minúsculas tarântulas não descritas anteriormente, incluindo a que ela havia arrancado de sua toca.

Esse tipo de aranha não só acabou se tornando uma nova espécie, como também vive na região mais alta onde nunca uma tarântula havia sido encontrada. E essa descoberta, juntamente com várias investigações simultâneas, somou um total de sete novas espécies de tarântulas no gênero Hapalotremus, conforme descrito em um estudo recente publicado na revista científica Journal of Natural History.

Belas criaturas

Após a primeira descoberta de Seimon, ela retornou ao mesmo local nos Andes em busca de mais aranhas. Dessa vez, porém, precisou atrair os aracnídeos para fora de suas tocas por conta própria.

 “Essas aranhas são simplesmente lindas”, admite. “Elas têm pernas loiras, com um corpo negro e uma mancha vermelha brilhante nas costas.”

Seimon enviou fotos da primeira aranha que encontrou a um especialista em tarântulas, Rick West, e vários espécimes ao taxonomista Nelson Ferretti no Conselho Nacional de Pesquisas Científicas e Técnicas da Argentina. Após examinar as criaturas, e estudar particularmente em detalhes os órgãos copuladores, essa é a estranha forma como as espécies de aranhas são frequentemente distinguidas umas das outras, Ferretti descobriu que as aranhas com rabos penugentos eram, na verdade, uma espécie nunca antes identificada. Seimon batizou a espécie de Hapalotremus vilcanota, em homenagem à cadeia de montanhas Andina onde vivem.

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    Assim como a H. vilcanota, as outras seis novas espécies de aranha Hapalotremus também são minúsculas. Muitas não são maiores do que uma tampinha de garrafa e a maioria vive em grandes altitudes, em florestas nebulosas ou em ambientes rochosos e montanhosos. Em outras palavras, esse não é o tipo de tarântula enorme que habita as selvas como as pessoas normalmente imaginam.

    “Elas vivem em muitos ambientes, habitats e precisamos nos empenhar para descobrir a nova espécie”, afirma Ferretti. “Elas são incríveis [e] mais diversificadas do que imaginávamos.”

    Diversas outras novas aranhas de Ferretti compartilham a mancha vermelha brilhante da H. vilcanota, abrigando uma espécie de pelo que as aranhas usam para espetar os predadores (ou cientistas curiosos) para se protegerem. Outras, como as minúsculas H. chasqui, nativas da Argentina, têm uma cor verde-musgo bonita. Os locais, que acompanharam os cientistas nas caminhadas diárias frequentes pelas montanhas, conhecem as aranhas e se referem a todas elas simplesmente como ‘campo campo’, uma frase em quíchua de origem indefinida.

    “Existem diversas espécies que ainda não conhecemos”, afirma Ferretti. “Parte da importância do trabalho taxonômico é tentar compreender a diversidade antes do seu desaparecimento”.

    Sobrevivendo nas alturas

    Embora possa parecer surpreendente encontrar sete novas espécies de aranhas penugentas em um período relativamente curto de tempo, as identificações são sólidas, disse o especialista em tarântulas, Robert Raven, curador sênior no Museu de Queensland na Austrália, que não estava envolvido no estudo.

    “As Tarântulas ‘dominam’ a América do Sul e lá reside a maior parte da diversidade do grupo no mundo, por isso não estou nem um pouco surpreso”, segundo ele. “Tenho certeza de que haverá novas espécies lá”.

    Dito isso, Raven fica estarrecido com o fato de que tarântulas estejam sobrevivendo em tais altitudes, com baixos níveis de oxigênio e temperaturas congelantes, especialmente à noite, quando as aranhas caçam, caracterizando um habitat muito improvável para as aranhas.

    “As tarântulas na Austrália são limitadas pela temperatura média diária de inverno, que é bem alta em relação a tudo o que essas aranhas estão acostumadas a enfrentar”, afirma Raven.

    Ferretti, Seimon e outros pesquisadores planejam um estudo mais aprofundado sobre as aranhas, e as H. vilcanota, pelo menos, devem ser razoavelmente fáceis de serem monitoradas: Elas habitam um local que Seimon monitora há 15 anos, estudando como os sapos e outros animais respondem às mudanças climáticas.

    “Os sapos estão se alastrando para a zona de degelo, onde estão se formando novos habitats nas montanhas dessas geleiras que estão desaparecendo”, segundo ela. “Eu quero ir e revisitar os locais das aranhas para ver se elas também estão se alastrando”.

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