Manchas das girafas são herdadas das mães e têm relação com sobrevivência, diz estudo

Os padrões distintivos destes animais seriam provavelmente herança genética, indica nova pesquisa.

Por Tik Root
Publicado 10 de out. de 2018, 16:10 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
Cientistas fotografaram e estudaram as manchas de girafas-masai silvestres – como esta – no Parque Nacional ...
Cientistas fotografaram e estudaram as manchas de girafas-masai silvestres – como esta – no Parque Nacional Tarangire no norte da Tanzânia, concluindo que esses padrões provavelmente são herdados.
Foto de Bertie Gregory, Nat Geo Image Collection

POR QUE AS GIRAFAS têm manchas? E o que define o seu formato e padrão? Elas são herdadas?

Pode parecer surpreendente, mas essas charadas ainda não foram solucionadas pelos cientistas. Essa incerteza levou os pesquisadores Derek Lee e sua parceira Monica Bond, que pesquisam girafas no norte da Tanzânia desde 2011, a uma busca por respostas.

Como descrito em um estudo publicado no periódico PeerJ, os cientistas descobriram que certos aspectos dos padrões de manchas das girafas são herdáveis e, ao que parece, afetam a probabilidade de uma jovem girafa sobreviver. Em particular, as mães girafas parecem passar o caráter esférico e a uniformidade das manchas (uma medida denominada tecnicamente como “tortuosidade”) aos filhotes.

Ao que tudo indica, ter manchas maiores e mais redondas possui uma correlação com uma taxa maior de sobrevivência entre girafas jovens, como o estudo constatou. Os autores observam que não está clara exatamente a razão para isso – alguns lançam a hipótese de que as manchas ajudam a camuflar os animais. Contudo, as manchas também afetam a capacidade do animal regular sua temperatura, além de, possivelmente, outras propriedades desconhecidas, porém úteis.

Um estudo recente descobriu que girafas jovens com manchas maiores e mais redondas parecerem ter taxas de sobrevivência maiores.
Foto de Yva Momatiuk and John Eastcott, Minden Pictures/Nat Geo Image Collection

“Percebemos que sabemos muito pouco sobre padrões de pelagem de mamíferos em geral”, afirma Lee, professor pesquisador associado da Universidade Estadual da Pensilvânia, também cofundador da organização de conservação Instituto da Natureza Selvagem com Bond.

"Nunca analisamos tão a fundo o que significam”.

Julian Fennessy, cofundador da Fundação de Conservação de Girafa e um dos especialistas líderes mundiais nos animais, que não participou do estudo, afirma: “as descobertas são cientificamente válidas e interessantes, mas claro que este é um conjunto de amostras”. Seria ótimo comparar este trabalho com pesquisas realizadas em girafas de outras áreas e em diferentes espécies, prossegue ele.

O último estudo relevante sobre manchas de girafas data de 1968, conta Lee, quando uma especialista em girafas bastante conhecida, chamada Anne Innis Dagg, encontrou evidências de que o tamanho, formato, cor e quantidade das manchas provavelmente eram herança genética. Entretanto, Lee diz que nossa compreensão da genética avançou drasticamente desde então e a pesquisa de Dagg foi realizada com uma população de zoológico relativamente pequena. “Ninguém de fato testou a hipótese em uma população silvestre”.

Um estudo recente descobriu que girafas jovens com manchas maiores e mais redondas parecerem ter taxas de sobrevivência maiores.
Foto de Yva Momatiuk and John Eastcott, Minden Pictures/Nat Geo Image Collection

Em 2012, Lee e Bond partiram para as matas da Tanzânia para saber mais. Entranharam-se fundo no Parque Nacional Tarangire em estradas com espaço para passar um só veículo e raramente percorridas por turistas. Debatendo-se com “inúmeras” moscas tsé-tsé, eles fotografaram o máximo de girafas que puderam ao longo de um período de quatro anos. Observando o comportamento de amamentação, conseguiram identificar perto de 31 pares de mãe com a cria.

“Girafas fêmeas selvagens muito raramente amamentam um filhote que não é delas,” explica Lee. Determinar a paternidade de girafas, por outro lado, requer constante observação ou testes genéticos. Como resultado, “(a mãe) é a única dentre os pais que se pode determinar com confiança”.

Lee, Bond e o coautor Douglas Cavener usaram então um software de reconhecimento de padrões para analisar a profusão de fotografias que eles coletaram. Eles avaliaram 11 traços — como o caráter esférico, cor, tamanho, quantidade e traços afins — para ver se os padrões de manchas são passados da mãe para a cria e se o padrão surte algum efeito sobre a sobrevivência dos jovens.

Craig Holdrege, autor de “The Giraffe’s Long Neck” (O longo pescoço da girafa, em tradução livre), afirma que o estudo apresenta “sólidas evidências de que alguns aspectos do formato das manchas são herdáveis”, porém acrescenta que a conclusão sobre o tamanho das manchas e a capacidade de sobrevivência é um pouco mais duvidosa. “É fácil demais presumir que haja correlação entre camuflagem e proteção de predadores, mas isso é mera conjectura”.

Lee aceita bem a crítica. “Tudo é possível e é por isso que, na ciência, é tão importante reproduzir exemplos,” diz ele.

Ele espera que esse último trabalho apresente ao menos uma fundamentação sólida para pesquisas futuras não só de girafas, mas eventualmente de outros animais também. “É só o começo… há tantos mamíferos que possuem padrões de pelagem complexos,” sobre os quais sabemos muito pouco, comenta ele.

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