Trocar carne vermelha por frango reduz pegada de carbono em grau surpreendente

A produção de alimentos é responsável por cerca de um quarto do total das emissões de carbono, mas novo estudo releva que há um jeito simples de reduzir esse impacto pela metade.

Por Stephen Leahy
Publicado 11 de jun. de 2019, 17:28 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
O consumo de frango, como esses da imagem na Holanda, em substituição à carne vermelha, pode ...
O consumo de frango, como esses da imagem na Holanda, em substituição à carne vermelha, pode reduzir, de forma surpreendente, a pegada alimentar pela metade.
Foto de Luca Locatelli, Nat Geo Image Collection

Substituir, no seu prato, carne vermelha, responsável por altas emissões de carbono, pela carne de frango, que emite menos carbono, reduzirá a sua pegada de carbono alimentar pela metade. É o que mostra o primeiro estudo nacional dos Estados Unidos sobre hábitos alimentares e sua respectiva pegada de carbono.

Para descobrir o que os norte-americanos estão comendo de fato, a Pesquisa Nacional de Avaliação da Saúde e Nutrição pediu que mais de 16 mil participantes lembrassem o que haviam consumido nas últimas 24 horas.

O estudo calculou as emissões de carbono dos alimentos consumidos por essas pessoas. Se a refeição incluísse carne vermelha, como um bife grelhado, os pesquisadores estimavam qual seria a pegada de carbono se a opção tivesse sido carne de frango grelhada.

“Nós sabíamos que comer carne de frango em vez de carne vermelha reduziria as emissões de carbono relacionadas à alimentação, mas a quantia foi muito menor do que prevíamos”, diz Diego Rose, pesquisador da Faculdade de Saúde Pública e Medicina Tropical da Universidade de Tulane e principal autor do estudo.

O estudo mostra que uma simples substituição pode gerar uma grande redução na pegada de carbono alimentar de uma pessoa, ou seja, a quantidade de dióxido de carbono emitido proveniente da eletricidade, fertilização e uso da terra envolvidos na produção de alimentos, diz Rose. Também ficou constatado no estudo que não é necessário deixar de consumir produtos de origem animal para melhorar a pegada de carbono. A produção de alimentos é responsável por cerca de um quarto do total das emissões de carbono de todo o mundo.

Bottom of Form

“As mudanças climáticas representam um problema tão sério que todos os setores da sociedade precisam se envolver”, diz Rose, que apresentará sua pesquisa no encontro anual promovido pela Sociedade Norte-Americana de Nutrição na segunda-feira em Baltimore.

Se não houver controle do crescente consumo mundial de carne vermelha, principalmente de carne bovina, caprina e de cordeiro, manter o aumento do aquecimento global em 1,5 grau Celsius será impossível, de acordo com o relatório do Instituto de Recursos Mundiais. As emissões de CO2 aumentarão de tal forma que manter o aumento do aquecimento global em 2 graus Celsius será difícil.

Por que a produção de carne vermelha emite tanto carbono?

Os alimentos de origem animal possuem uma pegada de carbono maior do que os alimentos de origem vegetal. A produção de carne vermelha, por exemplo, utiliza 20 vezes mais área e as emissões são 20 vezes maiores do que no cultivo de grãos, por grama de proteína, além de demandar 10 vezes mais recursos do que a produção de carne de frango. No estudo da Universidade de Tulane, os 10 alimentos que mais causam impacto ao meio ambiente foram os cortes de carne vermelha. A pegada da carne de caprino e de cordeiro também é bastante alta, pois assim como as vacas, esses animais liberam metano, um gás de efeito estufa muito mais potente do que o carbono.

Não é fácil calcular a pegada de carbono considerando a ampla variedade de métodos empregados na produção agrícola, conta Kumar Venkat da CleanMetrics Corp., uma empresa de consultoria ambiental localizada em Oregon. É necessário calcular a quantidade de CO2 emitida pela eletricidade, fertilização e uso da terra, assim como pelo processamento, embalagem e transporte. A CleanMetrics pesquisou durante dois anos as pegadas de carbono de centenas de commodities agrícolas.

“Não há dúvidas de que a carne de frango corresponde a uma fração das emissões de carbono da carne vermelha e provavelmente ela possui a menor pegada de carbono de todas as proteínas de origem animal”, diz Venkat, que não participou do estudo da Universidade de Tulane. Os frangos são muito mais eficientes na conversão de ração em proteína de carne, o que reduz a área, a quantidade de fertilizante e a eletricidade necessárias, resultando em uma pegada de carbono menor.

No início deste ano, Rose e sua equipe utilizaram os mesmos dados da pesquisa sobre alimentos para determinar que os norte-americanos com as menores pegadas de carbono consomem refeições mais saudáveis, conforme avaliação do Índice de Alimentação Saudável dos EUA, uma análise federal que mensura a qualidade da dieta. O estudo foi publicado online em 29 de janeiro no periódico American Journal of Clinical Nutrition.

Fica clara a evidência de que é necessário reduzir o consumo de carne vermelha e consumir mais proteínas de origem vegetal tanto para a saúde como para o meio ambiente, afirma o coautor do estudo Martin Heller do Centro de Sistemas Sustentáveis da Faculdade de Meio Ambiente e Sustentabilidade da Universidade de Michigan.

O importante relatório da Comissão EAT-Lancet, divulgado no segundo semestre do ano passado envolvendo 37 cientistas de 16 países, concluiu que uma transformação radical no sistema alimentar mundial é necessária, pois a estabilidade do clima está ameaçada, sendo o maior e principal fator de degradação ambiental. Além disso, dietas pouco saudáveis representam um maior risco em longo prazo à saúde do que sexo desprotegido e o consumo combinado de álcool, drogas e tabaco, de acordo com o relatório.

“Uma dieta rica em alimentos de origem vegetal e com menos alimentos de origem animal representa maiores benefícios à saúde e ao meio ambiente”, diz Walter Willett, da Comissão EAT-Lancet e professor da Faculdade de Saúde Pública T.H. Chan de Harvard.

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