Com o comércio de chifres de rinocerontes legalizados na África do Sul, um criador leiloa seu estoque

John Hume acredita que a venda dos chifres pode ajudar a proteger os animais – e gerar lucros.

Por Jani Actman
Publicado 8 de nov. de 2017, 20:35 BRST, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT

Cera de 1,5 mil rinocerontes vivem no rancho de John Hume em Klerksdorp, cidade a 160 quilômetros de Joanesburgo, na África do Sul. A cada 20 meses, John, o maior criador de rinocerontes do mundo, dopa os animais para cortar os chifres. Ele faz isso para afastar caçadores e na esperança de que, um dia, poderá vender seu estoque de mais de 6 toneladas de chifre e ganhar muito dinheiro.

Esse dia finalmente chegou.

Na quarta-feira, 23, John pretende realizar um leilão online para vender 264 chifres de rinocerontes a moradores da África do Sul.

Uma moratória restringindo a compra e a venda de chifres de rinocerontes entrou em vigor em 2009 na África do Sul, mas John e outro criador de rinocerontes entraram com uma ação em 2015 para revogá-la. O despacho, emitido em abril, liberou o comércio nacional, mas a restrição internacional, estabelecida em 1977, continua em vigor.

O Departamento do Meio Ambiente sul-africano exige uma licença de todos que queiram comprar ou vender chifres de rinocerontes. Hume conseguiu a sua através de uma decisão judicial no último domingo, de acordo com tweets de jornalistas sul-africanos presentes no tribunal.

O objetivo declarado do leilão, que durará três dias, é de “angariar fundos para a criação e proteção contínua dos rinocerontes”, conforme descrito no site onde acontecerá o pregão, supervisionado pela agência Van’s Auctioneers, em Pretória.

A África do Sul abriga 70% dos 29,5 mil rinocerontes brancos remanescentes no mundo, mas encontra-se em meio a uma crise de caça ilegal. No ano passado, caçadores mataram ilegalmente mais de mil rinocerontes no país, em contraste aos 13 de 2007. Os criminosos lucram com a demanda de chifres de rinocerontes contrabandeados principalmente para a China e para Vietnã – onde viram esculturas ou remédios de medicina popular. (Chifres de rinocerontes são compostos por queratina, a mesma proteína encontrada nas unhas e cabelos humanos. Não há indícios significantes que comprovem sua capacidade curativa).

John gasta 170 mil dólares por ano na segurança de seus rinocerontes, conforme a página do leilão, além dos custos adicionais com alimentação e serviços veterinários. Parte dos custos é decorrente do corte dos chifres.

A ideia de vender chifres na África do Sul provocou polêmica – a maioria dos grupos de conservação são contrários à ideia. Críticos destacam que não há demanda interna para os chifres na África do Sul e acreditam que todo chifre vendido dentro do país será enventualmente contrabandeados para o exterior.

“É difícil enxergar como um leilão para chifres de rinocerontes possa resultar em algo que não seja uma mensagem confusa para o resto do mundo,” diz Ross Harvey, economista e pesquisador sênior no Instituto Sul-Africano de Relações Internacionais. “Como o mercado doméstico na África do Sul é quase inexistente, devemos questionar a quem os compradores do leilão venderão esses chifres.”

Opositores estão especialmente preocupados com o leilão de John Hume porque o site, originalmente em inglês, conta também com versões em vietnamita e chinês. “Está claro que o Sr. Hume tem um mercado mais amplo em mente, o que nos faz questionar seus motivos, na minha opinião, para vender os chifres”, escreveu Joseph Okori, diretor do escritório sul-africano do Fundo Internacional para o Bem-Estar Animal, em uma postagem no site da ONG.

A oposição contra o leilão foi grande o suficiente para causar a invasão da página por hackers na semana passada.  “Sua falta de compaixão pelos animais é absurda e lidamos com ela adequadamente”, dizia a declaração publicada no site, agora restabelecido. O grupo National Frog Agency/Central Frog Services, registrados no Twitter como @NFAGov, assumiu a responsabilidade pelo ataque cibernético.

John se justifica no site do leilão dizendo que o comércio legal de chifres de rinocerontes abrirá concorrência com o mercado ilegal e reduzirá o preço dos chifres, que podem ultrapassar 6 mil dólares por quilo no mercado negro na África do Sul. No entanto, o pregão não estabelecerá um valor inicial para os lances, disse Johan Van Eyk, da Van’s Auctioneers, à Agence France-Presse, conforme a página Phys.org.

“Teremos que avaliar quanto as pessoas estão dispostas a pagar, o que nos dará uma ideia dos valores no mercado legal,” ele disse. Os 264 chifres à venda podem chegar à quase 500 quilos.

O governo da África do Sul insiste que foram adotadas precauções para prevenir que os chifres cheguem ao mercado negro. “O Departamento valoriza a necessidade de monitorar o deslocamento dos chifres e, por essa razão, tem sistemas implantados que nos permitem fazer exatamente isso”, diz Edna Molewa, ministra do Meio Ambiente, em declaração oficial divulgada em 17 de agosto.

Edna falou sobre o sistema de licenças, destacando suas exigências – um banco de dados nacional para chifres de rinocerontes e um perfil de DNA para cada chifre – como exemplos de medidas tomadas pelo governo para monitorá-los.

John pretende organizar outro leilão, desta vez presencial, em setembro.

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