O tubarão mais veloz do oceano conseguirá escapar do nosso apetite?
Sobrepesca pode ameaçar o mako, procurado por pescadores pelo esporte e pela carne.
Esta reportagem está na edição de setembro da revista National Geographic.
Zane Grey ficou famoso por escrever histórias de exploração e desafios no Velho Oeste americano, mas a sua verdadeira paixão não era sacar um revólver nem laçar gado: era pescar em alto-mar. O aventureiro detinha 14 recordes mundiais por captura de peixes de água salgada, entre eles o primeiro peixe xifiídeo com mais de 450 quilos capturado com vara e carretilha – um marlim que ele pegou no Taiti em 1930. Nada, porém, se comparava aos tubarões-mako que Grey pegou na costa da Nova Zelândia em 1926.
O primeiro mako que Grey fisgou pesava razoáveis 117 quilos. Quando o pescador o puxou para o costado do barco, aprendeu logo “uma lição sobre o mako!”, escreveu Grey no seu livro Tales of the Angler’s Eldorado. “Ele lutou com ferocidade, quebrou um bicheiro, ensopou todo mundo de água e deu um trabalhão dos infernos.” Depois que o tubarão foi desembarcado, Grey admirou a sua constituição: hidrodinâmico, musculoso, a cabeça como um projétil. “Eu nunca tinha visto nada parecido. Todas as linhas daquele mako indicavam velocidade e potência”, conta.
Quase um século depois, o mako (também conhecido como tubarão-anequim) ainda tem uma reputação hercúlea entre os pescadores, que amam igualmente a sua luta e a sua carne. Mas um século de pesca parece ter causado estragos. Os makos – que se distinguem dos seus primos bem mais raros, os anequins-pretos, entre outros detalhes pelas suas nadadeiras peitorais mais curtas – são cobiçados na pesca esportiva e frequentemente apanhados por acidente por barcos comerciais que pescam com espinhel. A qualidade da carne equipara-se à do peixe-espada, e na Ásia as barbatanas alcançam alto preço porque são usadas na famosa sopa. Essa combinação gera uma pressão significativa sobre os makos – mas não sabemos exatamente qual o grau dessa pressão nem o seu efeito fundamental. Os cientistas desconhecem o número de makos existentes nos oceanos, e o grosso dos dados sobre capturas e taxas de mortalidade provém de operações de pesca comercial, célebres por declarar para menos os números de animais. Por isso, os biólogos que estudam os makos ainda tentam preencher lacunas de conhecimento enormes.
No verão de 2015, fui convidado para acompanhar uma operação de marcação de makos para rastreamento por satélite na costa do estado americano de Maryland, feita por cientistas que tentam preencher algumas dessas lacunas. Pensei que seria assim: capturaríamos makos grandões; eles aprontariam o mesmo fuzuê que Zane Grey descreveu; e eu conseguiria umas belas passagens para esta reportagem. Em vez disso, aprendi que Mark Twain estava certo quanto ao enjoo marítimo (“Primeiro, você fica tão nauseado que sente medo de morrer; depois, fi ca tão nauseado que tem medo de não morrer”) e, assim atordoado, não dei a mínima quando os pescadores trouxeram dois makos pequenos. Por isso, decidi tentar de novo – agora com um adesivo contra enjoo – em Rhode Island, no mesmo verão.
Confira a reportagem completa: Flecha dos mares na edição de outubro de 2017 da revista National Geographic Brasil.
Publicada por ContentStuff.
Mas foi o espécime de 540 quilos com o qual um companheiro de jornada, o militar britânico Laurie Mitchell, se atracou que mereceu superlativos quase míticos. Depois de uma longa luta na qual o mako “dava saltos prodigiosos e disparava numas carreiras inacreditáveis”, o tubarão partiu a linha do anzol com os dentes e escapou. “Fiquei apavorado”, contou Mitchell, conhecido como “Capitão”, a Grey. “Aquele mako parecia encher o céu inteiro. Foi o bicho mais selvagem e forte que já vi, e mais ainda de todos os que fisguei!”