Raríssimo canguru-arborícola ressurge após desaparecer por quase um século

Considerado extinto, um dos mamíferos menos conhecidos do mundo foi fotografado em uma remota cadeia de montanhas na Nova Guiné.

Por John Pickrell
Publicado 26 de set. de 2018, 12:24 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
O super raro canguru-arborícola Wondiwoi foi observado por cientistas pela última vez em 1928, e pesquisadores ...
O super raro canguru-arborícola Wondiwoi foi observado por cientistas pela última vez em 1928, e pesquisadores tinham apenas desenhos como este para seguir. Ele agora foi fotografado em uma remota cadeia de montanhas na Nova Guiné.
Foto de Illustration by Peter Schouten

O CANGURU-ARBORÍCULA Wondiwoi é tão raro que conseguiu permanecer desaparecido por quase um século, tendo sido considerado extinto. Agora, o animal não foi apenas visto, como também fotografado pela primeira vez.

O diferente canguru com jeito de macaco escala as árvores das florestas montanhosas da Nova Guiné. Ele havia sido observado no local apenas uma vez por cientistas ocidentais, em 1928.

O canguru-arborícola Wondiwoi não havia sido coletado, visto ou relatado desde aquela primeira observação. “Ele é um dos mamíferos menos conhecidos do mundo” diz Mark Eldridge, biólogo especialista em marsupiais do Museu Australiano, em Sidney.

Agora, um botânico amador do Reino Unido liderou uma expedição por entre florestas de bambu quase impenetráveis, a mais de 1,5 mil metros de altitude nas remotas montanhas de Wondiwoi, em Papua Ocidental, Indonésia, para encontrá-lo.

“Apenas mostrar que ele ainda existe é incrível. É uma região tão remota e de difícil acesso que tive dúvidas se algum dia saberíamos” diz Eldridge, que não participou da expedição.

Arborícolas surpreendentes

Cangurus-arborícolas são marsupiais trópicos com parentesco próximo aos cangurus e wallabies. Esses cangurus de tamanho médio apresentam antebraços musculosos para que possam se elevar nos troncos das árvores e mover-se de galho em galho, em um estranho misto de escalada e saltos.

Apesar de pouco conhecidos mundialmente, são um grupo surpreendentemente diverso. Há 17 espécies e subespécies, duas no extremo norte da Austrália e o restante na grande ilha da Nova Guiné.

Michael Smith, de 47 anos, botânico amador de Farnham, Inglaterra, liderou a expedição para encontrar a espécie rara. Smith estudou biologia na universidade e hoje trabalha para uma empresa de comunicação médica, mas gosta de passar as férias explorando partes remotas do Paquistão, Curdistão e Indonésia em busca de orquídeas, rododendros e tulipas raras. Ele elaborou o plano para a expedição após ouvir sobre um animal misterioso enquanto explorava as montanhas da Papua Ocidental em busca de rododendros em 2017.

Com a ajuda de quatro carregadores, um caçador local que atuou como guia e Norman Terok, estudante da Universidade de Papua, em Manokwari, que é também um entusiasta de história natural, Smith entrou na selva em 23 de julho, voltando uma semana depois com as notícias de sua descoberta.

Ele então procurou especialistas mundiais em cangurus-arborícolas, incluindo Eldridge e Roger Martin, da Universidade James Cook, em Queensland, Austrália, para confirmar a descoberta antes de divulgá-la.

Fotografado à primeira vista

O canguru-arborícola Wondiwoi foi observado pela primeira vez pelo lendário biólogo evolucionista Ernst Mayr, em 1928. Mayr avistou o animal nas montanhas da península de Wondiwoi, localizadas no estado indonésio de Papua Ocidental, na metade oeste da grande ilha da Nova Guiné.

Esta é uma das únicas fotografias conhecidas do canguru-arborícola Wondiwoi, tirada recentemente pelo botânico amador Michael Smith.
Foto de Michael Smith

Mayr fotografou o que veio a se tornar o único espécime conhecido pela ciência, enviando uma amostra de sua pele para o Museu de História Natural, em Londres. Ele foi descrito como espécie, a Dendrolagus mayri, em 1933.

Desde então, residentes locais raramente relataram indícios de que a espécie ainda existisse. Mas isso pode ser devido ao fato que “caçadores chegam a apenas 1.300 metros de altitude, onde a floresta começa a ficar repleta de bambuzais” explica Smith. Para chegar a um nível acima, a equipe precisou abrir seu caminho.

Quando chegaram a aproximadamente 1.500 e 1.700 metros, eles começaram a observar arranhões característicos deixados em troncos pelos cangurus-arborícolas, além de, ocasionalmente, excrementos. “Também era possível sentir o odor deixado pelos cangurus, um cheiro parecido com o de raposa” ele complementa.

Tesouro escondido

Apesar de pesarem mais de 15 quilos, cangurus-arborícolas são extremamente enigmáticos, muitas vezes permanecendo escondidos no topo das copas das árvores. Em um dos últimos dias da expedição, sem nenhuma sorte em encontrá-los, a equipe começou sua descida de volta.

Foi quando o caçador “avistou um canguru a 30 metros de altura” diz Smith. “Após diversas tentativas de conseguir que minha lente focasse no animal por entre as folhas da árvore, consegui tirar algumas fotos razoáveis”.

Tim Flannery, da Universidade de Melbourne, na Austrália, que descreveu quatro dos cangurus-arborícolas da Nova Guiné na década de 1990 e é autor do livro Tree Kangaroos: A Curious Natural History, descreve a descoberta como um grande avanço. “As imagens são claras e revelam a distinta cor de seu pelo” ele diz, deixando poucas dúvidas de que o animal é de fato um canguru-arborícola Wondiwoi.

Para complementar a credibilidade da descoberta, as montanhas Wondiwoi também estão situadas a centenas de quilômetros de habitats propícios a outros cangurus de alta altitude. O canguru-arborícola Wondiwoi tem uma distribuição muito limitada, talvez de apenas 100 a 200 quilômetros quadrados, mas as diversas marcas de unha e excrementos sugerem “que sejam incrivelmente comuns em uma pequena área” complementa Flannery.

Um futuro incerto

Muitos cangurus arborícolas da Nova Guiné estão em declínio devido à caça excessiva, operações madeireiras, plantações para o óleo de palma e mineração, então “é empolgante ouvir uma história positiva, para variar” diz Roger Martin. “Ela prova o ponto que, se disponibilizarmos habitats para os animais e deixá-los em paz, eles se sairão bem” ele diz.

 “A razão pela qual eles se mantiveram desconhecidos por tanto tempo se deve provavelmente àquela bendita floresta de bambu” adiciona Martin. “Só um britânico intrépido em busca de rododendros teria perseverado”.

Ele diz que a prioridade agora é fazer com que cientistas voltem e coletem as fezes ou uma pequena porção de tecido da orelha para a extração de DNA, visando compará-lo ao DNA da pele coletada em 1928.

 “Saber [que o animal] ainda existe oferece uma grande oportunidade para a coleta de mais informações, já que não sabemos praticamente nada sobre ele ou sobre como garantir sua sobrevivência” concorda Eldridge.

Smith espera que a descoberta resulte em maior proteção para o parque nacional que abrange as Montanhas Wondiwoi. Já existe uma proposta para uma mina de extração de ouro no parque, o que ameaçaria a vida selvagem única da região.

 “Tudo isso serve para mostrar que é possível encontrar coisas interessantes se simplesmente as buscarmos” diz Smith. “De férias ao longo dos anos, descobri diversas coisas estranhas de arqueologia e etnografia. A crença comum de que não há mais nada de interessante para descobrir é bastante equivocada”.

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