Por que labradores com pelagem chocolate vivem menos do que outros labradores retriever

Novo estudo sugere que não se trata da cor em si, mas sim de cruzamentos que podem ter introduzido genes prejudiciais nos cães.

Por Paul Heltzel
Publicado 4 de nov. de 2018, 20:00 BRST, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
Criadores podem estar explorando um restrito pool genético com a finalidade de produzir labradores de cor ...
Criadores podem estar explorando um restrito pool genético com a finalidade de produzir labradores de cor chocolate—além de estarem introduzindo problemas de saúde.
Foto de Mark Raycroft, Minden Pictures/Nat Geo Image Collection

Os labradores retriever continuam no topo do ranking dos cachorros mais populares do mundo. Porém, uma nova pesquisa sugere que futuros proprietários devam olhar além da cor e analisar a saúde geral do animal ao escolherem seu bichinho de estimação.

Labradores retriever de cor chocolate vivem bem menos do que os outros labradores, uma descoberta que surpreendeu os pesquisadores de Sydney e Londres, que estudaram mais de 33 mil registros veterinários da raça na Grã-Bretanha.

Cães com pelagem amarela ou preta vivem cerca de 10 por cento a mais do que os de pelagem chocolate, de acordo com o estudo publicado na revista científica Canine Genetics and Epidemiology na segunda-feira (29/10). A longevidade média de todos os labradores é de cerca de 12 anos, ao passo que a idade média dos labradores de cor chocolate é de 10,7 anos.

De forma geral, os labradores retriever ainda são uma das raças de cães com maior longevidade, relatou outro estudo recente. 

Contudo, comparado a outros labradores, os labradores de cor chocolate parecem sofrer de doenças não fatais com mais frequência. "Doenças de pele e ouvido foram significantemente mais comuns em cães de pelagem chocolate do que em cães de pelagem preta ou amarela", escreveram os pesquisadores.

Isso não necessariamente significa que os genes responsáveis pela pigmentação estejam relacionados a uma menor expectativa de vida, alertam eles. Em vez disso, os cruzamentos realizados para obtenção da cor chocolate podem ter gerado, de forma não intencional, consequências genéticas à saúde do animal, disse Paul McGreevy, autor principal, da Universidade de Sydney, em uma declaração. A cor chocolate é uma característica recessiva, o que significa que para produzir um filhote de labrador de cor chocolate ambos os pais devem possuir o gene que produz essa cor.

"Portanto, criadores que desejam essa cor podem ser mais propensos a cruzar apenas labradores que possuem o gene da pelagem chocolate", diz McGreevy. Isso reduz o pool genético e pode resultar em uma maior proporção de genes que favoreçam condições de pele e ouvido, disse ele, e, por fim, poderia afetar a longevidade.

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    Cães de cor chocolate apresentaram duas vezes mais casos de "feridas úmidas avermelhadas" na pele do que outros labradores, por exemplo. Essas feridas são causadas pela reação do próprio animal a parasitas como pulgas ou piolhos, ou pelo uso de máquinas de tosa.

    A cor da pelagem já esteve anteriormente relacionada à saúde em alguns animais. Por exemplo, alguns pesquisadores suspeitam que o gene que produz pelagem preta nos lobos também poderia estar relacionado à redução da inflamação e ao combate da infecção.

    "Pesquisas em humanos sugerem uma relação entre inflamação e expectativa e qualidade de vida", disse McGreevy. "Talvez, por um processo semelhante, repetidas inflamações cutâneas e infecções de ouvido, às quais descobrimos que os cães com pelagem chocolate são suscetíveis, se acumulam, criando uma carga imunológica que efetivamente encurta a vida desses animais".

    Os pesquisadores observaram que a cor da pelagem em algumas raças de cães está associada à agressão, além de marcadores para índices mais altos de surdez e cegueira.

    De forma geral, os labradores também foram uma das raças mais obesas, de acordo com o estudo. Quase noventa por cento dos labradores do Reino Unido estavam acima do peso ou obesos. Notavelmente, cães machos castrados apresentaram mais probabilidade de serem obesos (11,4 por cento dos machos castrados comparado a 4 por cento dos machos intactos), embora a castração também tenha sido apontada pelos pesquisadores como benéfica à saúde, reduzindo o risco de doença nos testículos e outros distúrbios. A castração foi não relacionada à obesidade em labradores fêmeas.

    Os pesquisadores concluíram que a descoberta pode ajudar os veterinários a identificarem possíveis problemas de saúde mais rapidamente e, de forma ideal, influenciar as práticas de reprodução para produzir cães mais saudáveis e que vivam mais.

    "Sabe-se que os labradores retriever são suscetíveis a diversos distúrbios, porém, não há informações disponíveis sobre a incidência de certos problemas de saúde na população de animais de estimação em geral", diz McGreevy.

    "Esse é o primeiro estudo que inclui um grande número de labradores retriever com base em registros coletados de centenas de clínicas veterinárias no Reino Unido", disse ele. "Isso apresenta aos proprietários informações sobre o que eles devem considerar em relação à raça".

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