Por que temos tanto medo de tubarão? Há uma explicação científica

Esses peixes dentuços não são os assassinos insensatos alguns de nós pensamos.

Por Elaina Zachos
Publicado 4 de jul. de 2019, 07:45 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
Tubarões-brancos nas águas do sul das Ilhas Netuno, na Austrália.
Tubarões-brancos nas águas do sul das Ilhas Netuno, na Austrália.
Foto de Brian Skerry, Nat Geo Image Collection

Tubarões, principalmente os tubarões-brancos, foram colocados em cena com o lançamento do filme Jaws [Tubarão, no Brasil], em meados de 1975. O filme conta a história de um enorme tubarão-branco que aterroriza uma comunidade litorânea, e a imagem da capa por si só — a mandíbula exposta de um enorme tubarão emergindo de águas escuras — é o bastante para gerar medo nos nadadores. Outros thrillers perpetuaram os tubarões no papel de vilões.

Mas de onde veio e quando surgiu esse medo de tubarão?

"A pergunta implica que não deveríamos ter medo", diz David Ropeik, consultor em percepção de risco e autor do livro How Risky Is It, Really? Why Our Fears Don't Always Match the Facts [Quão arriscado é, realmente? Por que nossos medos nem sempre correspondem aos fatos, em tradução livre].

O medo de tubarões, ou selachofobia, não é irracional, diz a bióloga marinha Blake Chapman, especialista em tubarões da Universidade de Queensland na Austrália. Em poucas palavras, esse peixe predador é assustador. Os tubarões-brancos, por exemplo — a espécie imortalizada por Hollywood como uma espécie de animais assassinos insensatos — possuem bocas repletas de várias fileiras de até 300 dentes, semelhantes a punhais, que podem facilmente despedaçar uma presa.

Eles também conseguem sentir pequenos campos eletromagnéticos liberados na água por outros animais, o que os ajuda na busca de sua próxima refeição.

Mas não temos, necessariamente, medo de tubarões logo de cara, e há diversos tipos deles. Existem mais de 465 espécies conhecidas de tubarões e seus tamanhos podem variar entre os 18 cm do tubarão-pigmeu-espinhoso e os 15 metros do tubarão-baleia. Muitos desses nadadores cartilaginosos se alimentam de peixes, crustáceos, moluscos, plânctons, krills, mamíferos marinhos e outros tubarões — resumindo, humanos não fazem parte do menu.

Na verdade, Ropeik diz que morremos de medo de como os tubarões podem nos matar. Ser comido vivo por um tubarão-tigre de mais de 4 metros de comprimento parece ser uma forma bastante dolorosa de morrer, e ficamos apavorados com a possibilidade de que um ataque de tubarão possa ser a causa de nossa morte.

É mais provável que você seja esmagado por uma máquina de venda de alimentos em seu escritório ou que uma vaca desabe e caia em cima de você em um campo do que morrer pela mandíbula de um tubarão. Mas o medo não corresponde, necessariamente, aos fatos, e o medo de ser atacado por um tubarão está mais relacionado a uma resposta emocional do que à realidade.

Acima de tudo, temos medo de perder o controle. Se estiver nadando em águas habitadas por tubarões, você não vai querer que a mandíbula de um misterioso predador agarre você e determine seu destino.

"A ideia de ser mastigado por um animal que está no controle é outro fator", explica Ropeik. "É a natureza da experiência, e não o agente em si."

De onde veio esse medo?

O medo não é, necessariamente, algo que nasce com a gente, mas é algo que desenvolvemos com o tempo. Crianças não têm medo de cobras e de altura, mas, na fase adulta, nossos cérebros se tornam mais sensíveis aos estímulos do medo.

Mas nossos ancestrais tinham muito o que temer. Pense em como os povos antigos sobreviviam em seus habitats primitivos. Teriam evitado penhascos altos e animais selvagens, pois sabiam que essas ameaças poderiam matá-los, e foi isso o que os manteve vivos. Eles aprenderam a sentir medo como uma ferramenta adaptativa para se protegerem.

"O medo é algo que herdamos de nossos primeiros ancestrais", diz Chapman. "O tubarão é um animal. Temos tendência a sentir medo de elementos biológicos, como animais".

Quais são as chances de eles me matarem?

Ao escrever seu livro, Shark Attacks: Myths, Misunderstandings and Human Fear [Ataques de tubarão: mitos, mal-entendidos e medo humano, em tradução livre], Chapman descobriu que o cérebro humano tende a simplificar números. Se eu te disser que existe uma chance em 3.748,067 de ser atacado e morto por um tubarão, esse número é muito abstrato para seu cérebro ter uma noção.

A chance de ser comido vivo por um tubarão é altamente improvável. É mais provável que você morra de um ataque de cachorro, um raio ou um acidente de carroCâncer e doenças cardíacas também são causas muito mais prováveis.

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    A pequena chance de sofrermos um ataque de tubarão torna-se irrelevante. Ouvimos a palavra "tubarão" e não podemos deixar de associar à palavra "ataque."

    "Apesar de sentirmos medo e sermos capazes de interpretá-lo, o sentimento de medo real é algo totalmente fora de nosso controle", explica Chapman.

    Como combater o medo de tubarões?

    Existem algumas formas de diminuir seu medo de tubarões. Você pode dar a si mesmo a ilusão de controle, pois quando não nos sentimos no controle, as coisas parecem mais assustadoras.

    Para isso, você pode ler sobre os tipos de tubarões que vivem nas águas onde vai nadar, ou aprender sobre quais espécies de tubarões são conhecidas por atacarem seres humanos.

    Se for nadar em águas límpidas, você pode dar a si mesmo a ilusão de estar no controle caso aviste um tubarão. (O tubarão-branco pode atingir velocidades dez vezes maiores do que a dos humanos, no geral, então, logicamente, se um tubarão desse vier em sua direção, você não teria tempo de escapar. Mas é muito provável que ele cuspa você de volta.)

    Para evitar um ataque de tubarão, também é possível aprender a como não se tornar uma isca de tubarão, como evitar nadar caso esteja com algum sangramento ou deitado sobre uma prancha de surfe. (Tubarões geralmente vão atrás de focas, e vista de baixo, a prancha de surfe pode se parecer com uma foca.) Também é possível evitar a caça submarina, uma vez que essa atividade envia sinais elétricos que podem atrair tubarões.

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    Na improvável ocasião de sofrer um ataque de tubarão, os especialistas dizem que o melhor é lutar contra ele. Chapman recomenda atacar os olhos ou as guelras, se possível. Se conseguir sentir que tem algum controle, a sensação de perigo será menor.

    Por que ainda é importante nos preocuparmos com os tubarões?

    Chapman diz que sim, que o número de ataques de tubarões por ano está aumentando, mas isso não está alinhado à população humana que não para de crescer. Dos cerca de 80 casos de ataques de tubarão por ano, as taxas de fatalidade estão cada vez menores graças ao avanço da medicina e ao tempo até o atendimento médico.

    Contar os tubarões é algo difícil, diz Chapman, mas parece que seu número está diminuindo. Para atender à demanda por sopa de barbatanas de tubarão, alguns pescadores na Ásia capturam os tubarões, cortam suas barbatanas e, então, os devolvem de volta à água para morrerem. Os tubarões também são capturados involuntariamente como capturas acidentais.

    Os animais são importantes para a cadeia alimentar dos oceanos, e tubarões mantêm os ecossistemas alinhados. Estudos mostram que as populações de tubarões podem causar efeito na composição de ervas marinhas e na presença de outros animais em um habitat. Os tubarões também estão sendo estudados para tratamentos de câncer e regeneração de membros.

    Os benefícios que os tubarões trazem superam de longe seus aspectos negativos.

    "Eles são sobreviventes; evoluíram para sobreviver a basicamente qualquer tipo de dificuldade", comenta Chapman.

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