Peixe com 112 anos quebra recorde de longevidade

De acordo com a datação de radiocarbono, quando o búfalo-boca-grande nasceu, a Primeira Guerra Mundial ainda não tinha nem acontecido.

Por Sean Landsman
Publicado 12 de ago. de 2019, 07:45 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
Este búfalo-boca-grande (Ictiobus cyprinellus) foi fotografado no Aquário e Criadouro de Peixes Nacional de Gavins Point, ...
Este búfalo-boca-grande (Ictiobus cyprinellus) foi fotografado no Aquário e Criadouro de Peixes Nacional de Gavins Point, em Dakota do Sul. A datação de carbono confirmou que a espécie é o peixe de água-doce de maior longevidade conhecido.
Foto de Joël Sartore, National Geographic Photo Ark

CIENTISTAS acabaram de acrescentar um peixe grande com boca de ventosa à lista crescente de animais centenários que viveram por mais tempo que qualquer um de nós provavelmente viverá.

Um novo estudo que utiliza datação de radiocarbono de bombas descreve um búfalo-boca-grande que viveu até inimagináveis 112 anos, mais de quatro vezes a idade máxima de 26 anos conhecida anteriormente para a espécie.

A descoberta torna o búfalo-boca-grande, nativo da América do Norte e que pode pesar quase 36 quilogramas, o peixe ósseo de água doce (um grupo que possui aproximadamente 12 mil espécies) mais velho com idade confirmada.

“Um peixe que vive mais de 100 anos? É impressionante”, afirmou Solomon David, professor assistente da Universidade Estadual Nicholls in Louisiana, que não participou do estudo.

Nos últimos anos, graças às técnicas mais avançadas de determinação de idade, os cientistas descobriram que muitas espécies de peixes vivem mais do que se acreditava originalmente: o tubarão da Groenlândia, por exemplo, pode viver mais de 270 anos. Apesar da idade de um peixe ser um aspecto básico de sua biologia, em geral, pouco sabemos sobre a expectativa de vida de um peixe.

Datação de carbono

Antes que os autores do estudo calculassem a idade de um único peixe, já suspeitavam que esse peixe, encontrado predominantemente no norte dos Estados Unidos e no sul do Canadá, vivia mais do que eles pensavam.

A equipe extraiu camadas finas do otólito (pequenas estruturas calcificadas que ajudam o peixe a se equilibrar enquanto nada) de 386 búfalos-boca-grande capturados na natureza, em sua maioria, obtidos com pescadores que pescam com arco e flecha. Em seguida, os pesquisadores utilizaram um microscópio para contar os anéis de crescimento em cada camada de otólito. A primeira contagem chegou a estimativas de peixes com mais de 80 e 90 anos.

Quando Alec Lackmann, líder do estudo, se deparou pela primeira vez com esses números, ele conta que achou impossível.

Para confirmar as extraordinárias estimativas etárias, Lackmann, aluno de pós-graduação da Universidade Estadual da Dakota do Norte, e colegas recorreram à datação de radiocarbono de bombas, um método consagrado que compara o montante de isótopos de carbono 14 no tecido animal com as concentrações de carbono 14 liberadas em meados dos anos 1900 durante testes de bombas atômicas. O método foi utilizado para datar todo tipo de material, como restos mortais de humanos e de tubarões.

Em seguida, eles conferiram os resultados obtidos dos otólitos com a datação de radiocarbono de bombas e encontraram uma correspondência — confirmando as estimativas de expectativa de vida entre 80 e 90 anos, segundo o estudo recentemente publicado no periódico Communications Biology.

Ao todo, cinco búfalos-boca-grande ultrapassaram 100 anos de idade, mas uma fêmea de quase 10 quilogramas capturada perto de Pelican Rapids, em Minnesota, tornou-se a recordista de 112 anos. “Na verdade, ela era a menor dos indivíduos maduros”, observa Lackmann.

Envelhecimento da população

Os 16 primeiros peixes de que Lackmann determinou a idade tinham todos 80 anos, o que levou a outra surpresa: muitos dos peixes nasceram antes de 1939, o que sugere uma ausência de reprodução durante décadas. A causa provável dessa ausência é a construção da represa, que impede (ou impossibilita completamente) o nado contra a corrente para a região de procriação.

De fato, é comum chamarem o búfalo-boca-grande de “peixe do lixo” porque ele geralmente não é comido e é confundido com espécies invasoras nos Estados Unidos como a carpa-comum. No entanto Lackmann alega que “devemos evitar essa expressão porque desvaloriza muitas espécies nativas”.

David concorda, acrescentando que chamá-lo de “peixe do lixo” “deprecia automaticamente o organismo em si” que, no caso do búfalo-boca-grande, exerce um importante papel na manutenção do equilíbrio de seus rios nativos ao desalojar a carpa invasora.

Embora seja historicamente impopular para a pesca esportiva, o búfalo-boca-grande está cada vez mais sendo utilizado como alvo de pescadores que utilizam arco e flecha, geralmente à noite, com refletores.

Quase todos os estados nos Estados Unidos onde é encontrado o búfalo-boca-grande não impõem restrições à pesca esportiva ou comercial. O peixe não é considerado ameaçado nos Estados Unidos, porém é uma preocupação especial de conservação no Canadá. Lackmann e David esperam que a descoberta da incrível longevidade do búfalo-boca-grande ajude a aumentar sua visibilidade.

“Espero que esse fato interessante sobre o peixe atraia a atenção das pessoas”, afirma David.

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