Sapo surpreendentemente inteligente desenha mapas em sua própria cabeça

Pequeno sapo venenoso de cor verde e preta exibe capacidade cognitiva avançada nunca antes vista em anfíbios.

Por Geetha Iyer
Publicado 5 de ago. de 2019, 17:47 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
O sapo venenoso verde e preto, fotografado aqui no Sunset Zoo, no estado americano do Kansas, ...
O sapo venenoso verde e preto, fotografado aqui no Sunset Zoo, no estado americano do Kansas, é o primeiro anfíbio de que se tem conhecimento capaz de criar e revisar mapas mentais de seus arredores.
Foto de Joël Sartore, Nat Geo Image Collection

Um sapo venenoso do tamanho e da cor de um bombom de chocolate com menta está silenciosamente revolucionando o que acreditávamos saber sobre a forma de pensar dos sapos. Nativo das florestas tropicais da América Central e do Sul, a espécie Dendrobates auratus, que se adaptou à terra, dispensa rios e lagos completamente, botando seus ovos no chão da floresta. Quando os ovos eclodem, o anfíbio carrega os girinos nas costas até o alto das árvores, depositando-os na água acumulada em orifícios e bromélias.

Encontrar, memorizar e navegar entre ninhos de ovos e berçários de girinos em uma paisagem tão complexa e oscilante exige um cérebro capaz de desenhar e revisar mapas mentais dos arredores. Muitos mamíferos e aves desenham mapas desse tipo. E, agora, uma nova pesquisa publicada no periódico Journal of Experimental Biology fornece as primeiras evidências da mesma habilidade em anfíbios.

"Acreditamos que, devido ao seu histórico natural, os sapos venenosos evoluíram uma habilidade cognitiva mais avançada — para usarem, de forma flexível, pistas do ambiente a fim de encontrarem os locais desejados", afirma Sabrina Burmeister, professora associada da Universidade da Carolina do Norte e principal autora do estudo publicado no início do ano. "É improvável que encontraremos essas habilidades em todas as espécies de sapos".

O cérebro dos sapos ainda é pouco conhecido. Historicamente, cientistas têm preferido estudar o cérebro de mamíferos, como os primatas, ou de corvídeos, que são obviamente mais complexos. E é difícil modificar os testes laboratoriais normalmente empregados em ratos ou pombos-correios — que são usados por sua capacidade de encontrar o caminho de volta a quilômetros de distância — a fim de atender as inclinações naturais dos sapos.

Um teste de laboratório clássico para estudar a navegação envolve colocar o objeto de estudo em uma piscina circular, chamada labirinto aquático de Morris, que contém uma plataforma de saída oculta e marcos de distância nos pontos cardeais. Quanto mais adepto à assimilação visual e à recordação, mais facilmente o animal consegue encontrar a plataforma nos testes subsequentes.

Mas o D. auratus, também conhecido como sapo venenoso verde e preto, se assusta nesse tipo de labirinto, tentando se agarrar à borda para segurança, em vez de explorar e compreender seus arredores, explica Yuxiang Liu, pesquisador de pós-doutorado no Southwestern Medical Center da Universidade do Texas, que realizou esse trabalho como parte de sua pesquisa de doutorado.

Ele converteu o labirinto aquático de Morris em uma piscina de descanso com laterais bem altas para desencorajar os sapos a se agarrarem à borda. A nova configuração incentivou os animais a explorarem as partes rasas e, no fim, encontrarem a plataforma de saída. Quando os sapos aprenderam o que deveriam fazer, os cientistas trocaram as pistas visuais e removeram a plataforma. Eles conseguiram demonstrar que os sapos de fato procuraram a saída de forma consistente com a utilização de um mapa mental dos arredores.

O biólogo de campo Andrius Pašukonis, que pesquisa o comportamento de autodirecionamento dos sapos venenosos na natureza e que não participou do estudo, está animado com os resultados e espera ver mais trabalhos sobre essa e outras espécies. Como pesquisador de pós-doutorado na Universidade de Stanford, ele observa que há muito mais a ser descoberto. "No momento, realmente não temos ideia do potencial dos 'mapas' criados pelos sapos", afirma ele.

Enquanto ele e seus colegas pesquisadores seguem sapos venenosos pela floresta com o uso de barbantes e registradores de SIG ou minúsculas capas com transmissores a rádio, o laboratório de Burmeister realiza um trabalho comparativo sobre o D. auratus e outras espécies de sapo, a túngara, que aparentemente não demonstrou habilidades semelhantes de flexibilidade e aprendizado de navegação nos testes realizados até o momento.

Enquanto isso, os próprios sapos estão fazendo o melhor que podem para sobreviver. Eles evoluíram e criaram estilos parentais diversos e engenhosos, preferências de habitat e capacidade cognitiva. Agora, essas habilidades são testadas pelas mudanças impostas pelo homem, como perda de habitat, disseminação de doenças, comércio de animais selvagens e mudanças climáticas. Será preciso muito mais do que adentar a mente de um sapo para descobrirmos como escapar desse grande labirinto.

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