Assim como os humanos, flamingos constroem amizades para a vida toda

As aves buscam a presença de amigos com os quais se dão bem e evitam animais dos quais não gostam — uma estratégia que pode aumentar a sobrevivência.

Por Virginia Morell
Publicado 13 de mai. de 2020, 07:30 BRT
Flamingos do Caribe ajeitam e limpam suas penas sob a luz do fim da tarde. Essas ...

Flamingos do Caribe ajeitam e limpam suas penas sob a luz do fim da tarde. Essas aves podem viver até 50 anos.

Foto de Klaus Nigge, Nat Geo Image Collection

FLAMINGOS SÃO CONHECIDOS por suas pernas compridas, pescoços longos e penas cor-de-rosa. Agora, cientistas descobriram, pela primeira vez, que essas aves constroem amizades duradouras e leais — e que os traços físicos podem influenciar a formação desses vínculos.

As duradouras parcerias entre os flamingos incluem casais que constroem ninhos juntos e criam seus filhotes todos os anos, além de amigos do mesmo sexo e grupos de três a seis companheiros próximos.

Seis espécies de flamingo habitam grandes lagos salinos ou alcalinos, pântanos ou lagoas rasas em todo o mundo, nas Américas, África, Europa e Ásia. Os bandos de aves gregárias costumam atingir milhares de indivíduos.

O líder do estudo, Paul Rose, ecologista comportamental da Universidade de Exeter, no Reino Unido, queria descobrir se os flamingos formam vínculos complexos dentro dos grandes grupos dos quais fazem parte.

De 2012 a 2016, Rose coletou dados sobre quatro bandos de flamingos caribenhos, chilenos, andinos e outros mantidos no centro de conservação Wildfowl & Wetlands Slimbridge Wetland Centre, em Gloucestershire. Os bandos, que tinham entre 20 e um pouco mais de 140 indivíduos, são considerados semelhantes em estrutura e comportamento aos grupos selvagens.

Ao coletar esses dados durante um período de cinco anos, Rose observou que os flamingos mantêm amizades estáveis, caracterizadas principalmente pela união. É possível que esses vínculos durem décadas, já que os flamingos vivem cerca de 50 anos.

 “O fato de serem tão duradouros”, diz ele, “sugere que esses relacionamentos são importantes para a sobrevivência na natureza”.

Assim como os humanos, outra espécie bastante sociável, essas aves evitam certos indivíduos, relatou Rose. Ele explica que se afastar de algumas aves pode ter como objetivo evitar brigas: “Uma maneira de reduzir o estresse e as brigas é evitar as aves entre as quais não há um bom relacionamento”.

Compreender os vínculos sociais das aves pode ajudar os conservacionistas a fazerem um manejo mais eficaz dos flamingos em cativeiro e na natureza — há quatro espécies de flamingos que estão em declínio, diz Rose.

Aves amigas

Para sua pesquisa, Rose fotografou diariamente os bandos do centro em quatro horários fixos durante a primavera e o verão, e três vezes durante o outono e o inverno. Ele também fotografou aves que se posicionavam juntas em subgrupos distintos ao longo de cada bando. Todas as aves possuem um anel de identificação na perna, facilitando o reconhecimento dos indivíduos.

Em uma colônia de flamingos, as aves vocalizam, limpam e ajeitam suas penas e, às vezes, brigam. Se uma ave se aproxima demais da outra, cada uma usa seu pescoço longo e seu bico forte para atacar, e às vezes tentam determinar qual tem o pescoço mais longo.

Desta forma, Rose utilizou a distância equivalente ao comprimento de um pescoço para definir o nível de amizade entre os flamingos: aves abaixadas ou em pé “a menos de um pescoço de distância de outra ave” eram consideradas amigas. Quando outros flamingos estavam por perto, mas a uma distância maior que o comprimento de um pescoço, Rose os identificou como pertencentes a subgrupos diferentes.

Ele descobriu que os bandos maiores tinham o maior e mais variado número de interações sociais, com redes sociais complexas compostas por subgrupos de dois, três e seis membros.

Algumas aves foram amigas tão próximas ao longo dos cinco anos de estudo que Rose disse que poderia facilmente prever quais ficariam perto umas das outras.

“Havia duas fêmeas mais velhas que tinham um forte vínculo e faziam tudo juntas, desde exibições de cortejo até a construção de seus ninhos, e elas sempre tinham a companhia de um macho 20 anos mais novo”, diz Rose. Seu estudo foi publicado na edição de junho da revista científica Behavioral Processes.

“É um estudo interessante e é curioso ver dados sobre os duradouros vínculos criados entre os flamingos”, disse Karl Berg, ornitólogo da Universidade do Texas, Rio Grande Valley, em Brownsville, por e-mail. “As aves são famosas [entre os observadores] por formarem pares, mas não são estudadas o suficiente.”

Jerry Lorenz, ecologista de regiões úmidas do Audubon Florida, em Miami, disse que acha “interessante a documentação e quantificação de vínculos que não têm como objetivo a reprodução”.

Os semelhantes se atraem

Quanto à forma como os flamingos escolhem seus amigos, Rose suspeita que tanto a personalidade quanto a coloração desempenhem um papel importante.

“Parece ter mais a ver com encontrar uma outra ave com uma personalidade semelhante, com a qual não haja conflitos”, diz ele. “Os bandos são barulhentos e agitados, e provavelmente as aves já enfrentam estresse suficiente. Ter um amigo é benéfico para o seu bem-estar.”

Ele também observou que algumas das aves com a coloração mais forte ficavam juntas. Um estudo mostrou que os flamingos maiores, os mais pálidos da espécie, conseguem dar às suas penas uma coloração rosa mais forte ao limpá-las e ajeitá-las. Isso provavelmente os torna mais desejáveis como amigos e companheiros de acasalamento.

Como as amizades são muito importantes para os flamingos, Rose enfatiza que os responsáveis pelo manejo de bandos de flamingos em cativeiro, como os encontrados em zoológicos, também devem “ter cuidado para não separar flamingos intimamente ligados”.

Esses bandos devem conter o maior número possível de aves para garantir uma boa saúde, acrescenta ele. Quanto maior o grupo, maior a probabilidade de as aves de diferentes personalidades encontrarem um amigo de que gostam para passar o tempo juntos.

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