Tubarão de águas profundas é um dos maiores animais do mundo que brilham no escuro

Novo estudo descobre três espécies bioluminescentes de tubarões de águas profundas, incluindo o tubarão-pipa de 1,8 metro de comprimento.

Por Annie Roth
Publicado 11 de mar. de 2021, 17:00 BRT

Tubarão-lanterna-barriga-preta bioluminescente, observado de baixo para cima. Esses animais possuem células brilhantes em seu lado inferior que escondem sua silhueta dos predadores à espreita abaixo deles, produzindo luz suficiente para se camuflar com o ambiente.

Foto de Jérôme Mallefet

Pesquisadores de tubarões que atuavam na costa leste da Nova Zelândia fizeram uma descoberta reluzente. Em um novo estudo publicado no periódico Frontiers in Marine Science, cientistas descobriram três espécies bioluminescentes de tubarão de águas profundas que produzem uma luz azul esverdeada suave com células especializadas na pele.

Uma das espécies, o tubarão-pipa, pode alcançar quase dois metros de comprimento, o que o torna o maior vertebrado bioluminescente conhecido. A lula-gigante, que pode alcançar um comprimento ainda maior, também é conhecida por emitir luz.

A bioluminescência havia sido documentada anteriormente em apenas uma dezena de espécies de tubarões e, por isso, essa descoberta aumenta significativamente nossos conhecimentos sobre a prevalência do fenômeno nesses e em outros animais marinhos, afirma Jérôme Mallefet, pesquisador associado da Universidade Católica de Lovaina, na Bélgica e autor principal do novo estudo.

A expedição envolveu a captura de um pequeno número de tubarões-lanterna-barriga-preta, tubarões-lanterna-do-sul e tubarões-pipa da zona crepuscular do oceano, região escassamente iluminada que se estende por uma profundidade entre 200 e 1000 metros.

Quando Mallefet capturou um tubarão-pipa e observou-o se iluminar a bordo do navio de pesquisa, ficou surpreso. “Quase chorei quando vi... foi tão emocionante”, conta ele.

As duas outras espécies são um pouco menores do que o tubarão-pipa e todas são capturadas acidentalmente de vez em quando por pescadores. Nenhuma é considerada vulnerável à extinção, mas pouco se sabe sobre seu estilo de vida e biologia.

Diva Amon, bióloga de águas profundas e exploradora emergente da National Geographic, que não participou do estudo, afirma que ficou “pasma” com a descoberta. “Essas descobertas nos lembram do quanto ainda não sabemos nem entendemos sobre águas profundas e seus habitantes”, ressalta ela.

Seis de maio de 2010 — Os motivos misteriosos da emissão de luz por animais nas profundezas do mar e a quantidade de animais que possuem tal habilidade, conhecida como bioluminescência, continuam a intrigar os cientistas que estudam a evolução desse brilho natural.

Brilho no escuro

Em janeiro de 2020, Mallefet e uma equipe de cientistas da Universidade Católica de Lovaina e do Instituto Nacional de Pesquisa Hídrica e Atmosférica da Nova Zelândia passaram um mês a bordo de uma traineira em alto mar. Depois de capturar tubarões vivos com redes, os pesquisadores colocaram os animais em um tanque de água do mar, levaram-nos a uma sala escura e aguardaram para observar sinais de bioluminescência.

Devido ao estresse ou talvez à timidez, apenas alguns tubarões-pipa, tubarões-lanterna-barriga-preta e tubarões-lanterna-do-sul exibiram seu brilho azul-esverdeado aos pesquisadores, e foi coletada para análise uma amostra da pele daqueles que apresentaram o fenômeno.

A maioria dos organismos bioluminescentes, como vaga-lumes, dispõe de células ou órgãos especializados que contêm certas substâncias químicas, incluindo um composto denominado luciferina, que interage com o oxigênio e emite luz. Algumas criaturas luminosas, como o peixe abissal da ordem dos Lophiiformes, adquirem seu brilho ao servir como hospedeiros de colônias de bactérias bioluminescentes.

Os tubarões bioluminescentes emitem luz de células especializadas na pele, conhecidas como fotócitos, mas como ocorre exatamente esse processo é um mistério há muito tempo. Quando Mallefet e sua equipe analisaram as amostras de pele coletadas, não encontraram nenhum traço de luciferina ou bactérias bioluminescentes.

No entanto confirmaram que, assim como outros tubarões bioluminescentes, essas três espécies controlam suas emissões de luz por meio de hormônios, ativando a luminescência por meio de melatonina, substância química que ajuda a regular ciclos diurnos e induzir o sono em mamíferos. Embora os pesquisadores tenham conseguido determinar como os tubarões bioluminescentes controlam seu brilho, mais estudos são necessários para entender os mecanismos químicos responsáveis por esse fenômeno.

Por que emitir luz?

Em águas profundas, onde cientistas estimam que três quartos de todas as criaturas são bioluminescentes, ter a capacidade de emitir luz pode ser extremamente vantajoso. Os animais do fundo do mar usam a bioluminescência para fazer de tudo, desde atrair presas até dissuadir predadores. A bioluminescência pode até mesmo ajudar na camuflagem de animais de águas profundas.

Na zona crepuscular do oceano, que recebe quantidades mínimas de luz solar, os animais bioluminescentes podem esconder sua silhueta dos predadores à espreita abaixo deles, produzindo luz suficiente para se camuflar com o ambiente: um truque conhecido como contrailuminação. Todas as três espécies analisadas nesse estudo apresentavam concentrações elevadas de fotócitos em sua parte inferior, o que sugere que esses tubarões podem se esconder de predadores — que se acredita serem, basicamente, tubarões maiores — exatamente dessa maneira.

Entretanto os tubarões também continham fotócitos em outras partes do corpo e, portanto, a contrailuminação pode ser apenas um dos diversos meios pelos quais a bioluminescência é utilizada por esses animais. Por exemplo, os pesquisadores encontraram concentrações densas de fotócitos nas nadadeiras dorsais dos tubarões-pipa. O motivo disso é desconhecido, mas Mallefet especula que possa ser um recurso de comunicação entre tubarões-pipa.

A constatação de que essas três espécies emitem luz “não é uma surpresa”, afirma David Ebert, diretor do Centro de Pesquisa de Tubarões do Pacífico dos Laboratórios Marítimos de Moss Landing na Califórnia, mas ainda assim é impressionante.

Isso porque os pesquisadores acreditam que muito mais espécies de tubarões provavelmente são capazes de emitir luz — Mallefet estima que talvez 10% das 540 espécies conhecidas de tubarões sejam bioluminescentes. Já Ebert acredita que até mesmo essa seja uma estimativa conservadora. Com os avanços futuros no campo de pesquisas sobre tubarões em águas profundas, “acredito que esse número aumentará ainda mais”, afirma ele.

Tanto Ebert quanto Mallefet torcem para que os tubarões de águas profundas recebam mais atenção futuramente, já que as criaturas e seu habitat são pouco estudados e estão ameaçados.

“Os tubarões são muito famosos por serem predadores ferozes graças ao filme ‘Tubarão’”, afirma Mallefet, “mas pouca gente sabe que os tubarões podem brilhar no escuro”.

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