Migração das aves é uma das grandes maravilhas da natureza. Entenda esse fenômeno

Algumas aves voam por 11 dias sem parar, outras viajam quase 13 mil quilômetros. Todos os anos, milhares de espécies de aves deixam seus habitats em busca de alimento.

Por Priyanka Runwal
Publicado 13 de mai. de 2021, 07:00 BRT
Bird Migrating

Gansos-das-neves levantam voo no Refúgio Nacional de Vida Selvagem da Bacia de Klamath, em Oregon.

Foto de Design Pics Inc, Nat Geo Image Collection

Todos os anos, na primavera e no outono, um espetáculo se desenrola no céu noturno enquanto milhões de aves fazem longas e perigosas jornadas entre seus locais de reprodução de verão e de inverno.

A maioria das milhares de espécies de aves que realizam essa migração anual viaja à noite, quando as correntes de vento são mais suaves e a lua e as estrelas guiam seu caminho.

As aves normalmente seguem rotas estabelecidas, geralmente no sentido norte-sul, que oferecem as melhores oportunidades para descanso e reabastecimento durante a migração. Múltiplas espécies de aves compartilham essas rotas de voo enquanto enfrentam climas adversos, desidratação, fome e a ameaça de predadores.

As andorinhas-do-mar-árticas, por exemplo, realizam viagens de ida e volta de polo a polo que abrangem mais de 96 mil quilômetros — um recorde, que se acredita ser a migração mais longa do mundo de qualquer animal. Em outros casos, as aves migram de leste a oeste ou voando para o topo ou para a base de montanhas. Até mesmo aves que não voam podem migrar, como é o caso do pinguim-de-adélia, que faz uma jornada de quase 13 mil quilômetros pelas paisagens gélidas da Antártica.

Como a migração é uma parte integrante do ciclo de vida das aves, ela provavelmente era quase tão prevalente há milhares de anos quanto é hoje, afirma Martin Wikelski, diretor do Instituto Max Planck de Ornitologia e Explorador da National Geographic.

O motivo de algumas aves migrarem e outras não é o foco de um campo de pesquisa ativo e complexo. Em geral, acredita-se que o principal fator seja encontrar alimento. Motivações adicionais podem incluir escapar do clima inclemente e reduzir a exposição a predadores ou parasitas, especialmente durante a época de reprodução.

Novos avanços tecnológicos, como rastreadores GPS sofisticados e sistemas de detecção de radar, estão oferecendo aos cientistas oportunidades sem precedentes de observar a migração das aves.

Como parte de seu projeto Icarus, por exemplo, Wikelski equipou algumas aves com dispositivos semelhantes a relógios de pulso, que rastreiam seus movimentos e as condições ambientais que enfrentam.

Esses pequenos transmissores via satélite, movidos a energia solar, poderão um dia revelar migrações e comportamentos de animais em escala global a partir do espaço.

“Há muito o que aprender”, comenta Wikelski. “Eu acompanho aves há mais de duas décadas, e a facilidade com que elas migram perfeitamente entre diferentes mundos é absolutamente impressionante.”

Quais aves migram?

Aproximadamente metade das quase 10 mil espécies de aves conhecidas no mundo migram, incluindo várias aves canoras e marinhas, aves aquáticas e pernaltas, bem como algumas aves de rapina. O Hemisfério Norte possui a mais diversa variedade de aves migratórias.

Entre as mais conhecidas estão os fuselos, que se reproduzem no Ártico e são campeões de resistência. Em 2020, cientistas registraram um fuselo realizando o maior voo migratório sem paradas já conhecido, entre o Alasca e a Nova Zelândia, viajando mais de 12 mil quilômetros através do Oceano Pacífico por 11 dias seguidos.

Também existem aves migratórias que voam longe e rápido. A narceja-real, por exemplo, percorre distâncias superiores a 6,7 mil quilômetros e atinge velocidades de até 96 quilômetros por hora quando viaja sem paradas entre a Europa e a África Subsaariana, o que a torna a ave migratória com a maior velocidade de voo.

Até pássaros pequenos embarcam em jornadas gigantescas. Os beija-flores da espécie Selasphorus calliope — o menor pássaro da América do Norte — fazem viagens de ida e volta de nove mil quilômetros entre os prados e florestas abertas de grande altitude do norte das Montanhas Rochosas e as florestas de pinheiros e carvalhos do México.

A maioria das espécies de aves migratórias podem ser migrantes parciais, o que significa que algumas populações ou indivíduos dentro da espécie migram enquanto outros não. Uma fração dos tordos-americanos, por exemplo, permanece perto de suas zonas de reprodução em todas as estações, enquanto outros viajam para o sul e depois voltam para o norte.

Os juncos da espécie Junco phaeonotus que se reproduzem em grandes altitudes ao longo das montanhas do sudeste do Arizona têm maior probabilidade de migrar até quase dois quilômetros para regiões menos elevadas durante invernos com neve severa, em comparação com aqueles em altitudes mais baixas enfrentando menos restrições alimentares. Mesmo as aves tropicais, especialmente as insetívoras, realizam viagens de altitude de curta distância.

Como as aves sabem para onde ir?

Além de seguir as pistas celestes, como a posição do sol, das estrelas e da lua, as aves adultas utilizam uma bússola magnética para navegar. Mesmo quando não há pontos de referência, esse “sistema de GPS” interno evita que elas se percam.

Essa sagacidade de navegação pode permitir que as aves viajem por regiões que normalmente não são percorridas. Em experimentos realizados com cucos-canoros que voam sozinhos, eles foram transportados a quase 2,4 mil quilômetros de suas zonas de reprodução antes da migração e geralmente retornavam às suas rotas migratórias normais.

Mas e quanto a aves inexperientes migrando pela primeira vez? Em um experimento, cucos-canoros jovens levados para outras regiões navegaram de volta para a mesma rota de voo aproximada utilizada pelas aves que não foram deslocadas de seus habitats.

Ainda não se chegou a uma conclusão se essa capacidade de navegação é herdada e inata ou aprendida. “Acredito que é uma combinação de tendência inata, mas também aprendida com os outros ao longo das migrações”, observa Wikelski, que rastreia cucos-canoros desde 2012.

Uma maneira de aprender pode ser sintonizar os chamados de voo noturno de outras aves migratórias. Diferentes das vocalizações regulares de uma espécie, esses sinais acústicos podem guiar especialmente as aves inexperientes, às vezes até as de outras espécies, explica Wikelski.

Como as aves sabem o momento de migrar?

Para algumas aves, mudanças nas condições ambientais, como a duração do dia, podem desencadear a migração através da estimulação hormonal, alertando-as que é hora de voar.

Os relógios biológicos internos das aves também podem detectar a mudança das estações, utilizando pistas como mudanças na luz e, possivelmente, na temperatura do ar.

Uma vez que as aves entram em modo de migração, segue-se um frenesi alimentar. Isso permite que elas acumulem gordura para suportar a viagem, afirma Lucy Hawkes, cientista de migração da Universidade de Exeter, no Reino Unido, que atualmente rastreia andorinhas-do-mar-árticas.

“De alguma forma, [as aves] sabem que precisam migrar em breve e começam a acumular gordura”, explica Hawkes.

As condições climáticas locais e regionais, como chuva, vento e temperatura do ar, também podem influenciar as decisões sobre quando as aves migratórias irão levantar voo.

Migrando em um mundo em mudança

De modo geral, os períodos de migração parecem estar mudando, como resultado das mudanças climáticas. “Parece que as migrações de aves estão começando um pouco mais cedo na primavera do Hemisfério Norte”, comenta Kyle Horton, aeroecologista da Universidade do Colorado que usa tecnologia de radar para mapear migrações de aves históricas e em tempo real nos Estados Unidos.

As aves da espécie Setophaga caerulescens, por exemplo, estão migrando quase cinco dias mais cedo, em média, do que na década de 1960. Tordos-americanos que migram para o Canadá estão chegando 12 dias antes na primavera em comparação ao ano de 1994. Grous-americanos migrantes estão aparecendo quase 22 dias antes em seu local de parada em Nebraska na primavera e partindo quase 21 dias depois no outono, em comparação à década de 1940.

Esse início precoce da migração pode beneficiar as aves se a produtividade de plantas e insetos nas zonas de reprodução espelhar essa tendência. No entanto, nem todas as aves migratórias podem ser capazes de se adaptar a um mundo em aquecimento e, se conseguirem, o custo total de fazê-lo permanece incerto.

Enquanto os cientistas continuam a desvendar os mistérios da migração das aves, o fenômeno segue sendo uma das grandes maravilhas da natureza.

“Elas voam a noite toda, se alimentam o dia todo e depois repetem esse ciclo”, comenta Horton. “Isso é bastante notável.”

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