Tubarão-da-groenlândia de 3,35 metros, da espécie Somniosus microcephalus sob borda de gelo na Baía do Ártico, Ilha de Baffin, Territórios do Noroeste, Canadá.
Nome comum: Tubarão-da-groenlândia
Nome científico: Somniosus microcephalus
Expectativa média de vida na natureza: 400 anos
Tamanho: Entre 2,4 e 4,3 metros, mas pode atingir até sete metros
Peso: Até 1,5 tonelada
O tubarão-da-groenlândia é o vertebrado de maior longevidade do mundo. Pode viver 400 anos — o dobro da idade do animal terrestre mais longevo: a tartaruga-gigante. Pode haver um indivíduo nesse exato momento nadando pelos oceanos que já estava vivo durante a peste bubônica de Londres e na posse presidencial de George Washington, nos Estados Unidos, em 1789.
Apesar do nome, o tubarão-da-groenlândia não é encontrado apenas na Groenlândia: foi avistado até mesmo no oeste do Caribe. Também conhecido como tubarão-boreal, esse animal vive em águas extremamente frias e profundas, por isso é muito menos estudado do que muitas das mais de 500 outras espécies de tubarões. Também é um dos tubarões mais lentos: seu nome científico, Somniosus microcephalus, significa “sonolento de cabeça pequena”. No entanto esses animais raros podem ser superpredadores.
Vertebrado mais longevo do mundo
A idade de muitas espécies de tubarões pode ser determinada contando os anéis de crescimento de suas vértebras, assim como os anéis de árvores. Contudo as vértebras macias do tubarão-da-groenlândia não dispõem desses anéis. Em vez disso, sua idade é calculada por meio da retirada das camadas do cristalino do olho — que cresce ao longo de toda a sua vida — e por meio da datação por radiocarbono do tecido em seu interior.
Empregando esse método, cientistas concluíram que os tubarões-da-groenlândia têm uma expectativa de vida de ao menos 272 anos e podem chegar a 392 anos, com uma margem de erro de 120 anos para mais ou para menos. Além disso, essas criaturas de crescimento lento atingem a idade reprodutiva em média apenas aos 150 anos.
Medir a taxa de crescimento do tubarão-da-groenlândia é um desafio porque raramente são recapturados os mesmos indivíduos. No entanto um tubarão identificado em 1936 havia crescido apenas cerca de seis centímetros quando foi reencontrado 16 anos depois. Museu de História Natural da Flórida; Stephan J. Godfrey, Museu Marinho de Calvert; Dean Grubbs, Universidade Estadual da Flórida; Gavin Naylor, Faculdade de Charleston; Nigel Hussey, Universidade de Windsor
Vida no frio
O maior peixe do Oceano Ártico (e o único tubarão encontrado nesse oceano durante o ano todo), o tubarão-da-groenlândia também habita o Atlântico Norte e o alto Ártico russo. Raramente observado na superfície, pode viver em águas a profundidades de 2,2 mil metros e entre dois graus abaixo de zero e sete graus Celsius.
Adaptado especialmente à água fria, os tecidos desse tubarão contêm altos teores de substâncias químicas que atuam como anticongelante e impedem a formação de cristais de gelo em seu organismo. Esses tubarões conservam energia nadando muito lentamente — cerca de 34,14 centímetros por segundo — mas são capazes de rajadas curtas de velocidade para emboscar presas.
Aspecto, dieta e comportamento
Cinza escuro, marrom ou preto com um corpo cilíndrico, olhos pequenos, focinho arredondado e sem nadadeira anal, o tubarão-da-groenlândia é semelhante a um submarino e pode alcançar sete metros de comprimento e pesar 1,5 tonelada. Para fins de comparação, o grande-tubarão-branco pode atingir comprimentos entre 4,5 e seis metros, mas é bem mais pesado, podendo chegar a mais de 2,5 toneladas.
Os tubarões-da-groenlândia possuem dentes superiores afiados e dentes mais largos e quadrados no maxilar inferior. Segurando presas grandes com os dentes superiores, eles giram a cabeça em movimento circular, utilizando a arcada dentária inferior como uma lâmina para arrancar pedaços circulares de carne. Já as presas menores são devoradas inteiras.
Predominantemente necrófagos, os tubarões-da-groenlândia não possuem uma dieta alimentar limitada e consomem uma variedade de peixes e lulas, além de carniça. Análises constataram que o conteúdo estomacal de tubarões continha ursos polares, cavalos e renas. Evidências sugerem que eles podem ser caçadores oportunistas capazes de emboscar focas em ataques furtivos. Foram atribuídos à descoberta de quase cinco mil cadáveres de focas encontrados mutilados na Nova Escócia entre 1993 e 2001: as peles das vítimas foram arrancadas em formato espiral — como uma laranja descascada — o que conferiu ao tubarão o terrível, mas polêmico apelido de “assassino saca-rolhas”.
Visão
Os tubarões-da-groenlândia do Ártico geralmente possuem visão prejudicada devido a um parasita da espécie Ommatokoita elongata. Esse pequeno crustáceo adere-se ao olho do tubarão, danificando a córnea e deixando tecido cicatricial a cada infecção. O tubarão não fica debilitado por sua cegueira, pois utiliza mais os outros sentidos em seu habitat escuro muito abaixo do gelo.
Ameaças humanas
Não há provas de ataques a humanos por tubarões-da-groenlândia: em 1859, um relato sobre um tubarão-da-groenlândia encontrado com uma perna humana no estômago nunca foi confirmado. No entanto a carne do animal é venenosa: ingeri-la pode causar diarreia, vômitos, desorientação e convulsões, com sintomas semelhantes a uma embriaguez grave. Para que seja segura para consumo humano, é preciso deixar a carne apodrecer, comprimi-la para extrair fluidos tóxicos, depois deixá-la secar por meses, fatiá-la em cubos e servi-la — uma iguaria islandesa conhecida como kæstur hákarl.
Os humanos representam uma ameaça aos tubarões-da-groenlândia: a União Internacional para a Conservação da Natureza classifica o tubarão-da-groenlândia como vulnerável à extinção. A lenta taxa de crescimento do animal, a maturidade tardia, e a baixa taxa de reprodução o tornam vulnerável a ameaças como a pesca, a poluição e as mudanças climáticas. Até a década de 1960, esses tubarões eram caçados para extração do óleo de seus fígados, que era utilizado como lubrificante industrial ou no óleo de lamparinas. Embora não sejam mais alvos da pesca, os tubarões-da-groenlândia ainda são capturados acidentalmente e muitas vezes ficam presos a equipamentos de pesca.
VOCÊ SABIA?
Esse tubarão misterioso é pouco registrado por câmeras: a primeira fotografia de um tubarão-da-groenlândia vivo foi tirada apenas em 1995. — National Geographic
Há algumas especulações de que os avistamentos de tubarões-da-groenlândia poderiam ser os responsáveis pelo mito do monstro do Lago Ness. — organização sem fins lucrativos Oceana
Um tubarão-da-groenlândia foi avistado na costa de Belize em meados de 2022, aumentando a possibilidade de que tubarões tenham uma área de distribuição maior do que imaginado. — periódico Marine Biology