Como a Nasa planeja enviar humanos de volta à Lua

A agência espacial dos EUA testa a nave espacial Orion na esperança de lançar a primeira missão para a lua em 2019.

Por Ramin Skibba
Publicado 30 de jan. de 2018, 19:31 BRST, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
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Mergulhadores da Marinha dos Estados Unidos ajudam a Nasa a recuperar uma cápsula teste da Orion nas águas de San Diego.
Foto de Petty Officer 1st Class Abe McNatt, U.S. Navy

A Nasa tem submetido sua cápsula espacial Orion a uma bateria de testes para saber se a espaçonave está pronta para transportar seres humanos à órbita e além. Até agora, a cápsula parece estar indo bem – em uma série de manobras nesta semana, uma equipe conjunta de especialistas da Nasa e da Marinha dos EUA recuperou com sucesso a nave espacial no mar próximo a San Diego, simulando o que deve acontecer quando a missão espacial retornar à Terra.

Se tudo for como planejado, Orion se tornará a tecnologia principal da Nasa para o lançamento de astronautas em órbita e até para o espaço, inclusive para a superfície lunar e, talvez, Marte. Isso é o que está em jogo com a Orion, e o que ainda precisa ser feito antes que ela possa decolar.

Os astronautas dos EUA já não estão indo ao espaço?

Sim, mas não na nave espacial da Nasa. O  programa do ônibus espacial terminou em 2011, e os ônibus restantes estão agora em exibição em museus em todo o país. Desde então, os astronautas americanos tiveram que pegar caronas para a Estação Espacial Internacional em foguetes russos e a Nasa enviou suprimentos para a ISS via lançamentos da SpaceX e Orbital ATK.

Até que a Orion fique disponível, os astronautas da Nasa não têm outra maneira de chegar à órbita baixa terrestre e além. Empresas comerciais para o espaço, como a SpaceX e a Boeing, estão desenvolvendo suas próprias cápsulas de tripulação capazes de alcançar a ISS. Mas quando se trata de enviar pessoas para a Lua ou para mergulhar no espaço, ainda não está claro quem será o primeiro na plataforma de lançamento.

Se Orion é apenas uma cápsula, como ele vai sair do chão?

Orion é a parte onde fica os astronautas e os equipamentos de pesquisa, uma versão maior e melhorada das cápsulas da Apollo. Ela será combinada com o Space Launch System (SLS), um novo foguete em desenvolvimento que está sendo testado agora mesmo. Embora tenha sido criticado por custos e atrasos excessivos, o SLS continua a avançar. Quando estiver pronto, será mais poderoso que os concorrentes, incluindo o Falcon HeavyX, da SpaceX, que deverá fazer sua viagem inaugural nas próximas semanas.

Como não pode pousar como um ônibus, como a Orion trará os astronautas de volta?

Orion é projetada com um escudo térmico que pode suportar temperaturas de até 2.700ºC durante a reentrada na atmosfera. Uma vez que a cápsula diminua de 40.000 km/h para "apenas” 480 km/h em sua descida, ela acionará um paraquedas para diminuir a velocidade ainda mais e pousar o mais gentilmente possível próximo à costa de San Diego, onde navios da Marinha estarão esperando. Mergulhadores criarão uma plataforma flutuante em torno do módulo na água para que possam recuperar os astronautas.

“A tripulação pode sentir-se instável", depois de seu tempo no espaço e da reentrada, diz Charles Lundquist, gerente substituto do programa Orion. A equipe de recuperação anexará um guincho a Orion e a puxará para o convés do navio, de modo que a cápsula possa ser reutilizada.

Que tipos de testes eles estão fazendo na Orion?

Esta semana, a Nasa testou os processos de recuperação da Orion com o U.S.S  Anchorage usando uma cápsula de modelo que tem aproximadamente o mesmo tamanho, forma, peso e centro de gravidade da cápsula real. Eles também estão testando equipamentos de apoio em solo, o escudo térmico, sistemas de paraquedas e todos os produtos eletrônicos e software. Todos os componentes precisam funcionar juntos para a primeira grande missão da Orion.

O astronauta Stephen G. Bowen evoca memórias da Apollo 1 e os ônibus Challenger e Columbia enquanto enfatiza o "quão crítico é acertarmos o processo". A segurança é a principal preocupação nas mentes dos cientistas e engenheiros da Nasa enquanto tentam minimizar os riscos da viagem espacial.

Qual o plano para primeira missão de Orion?

Uma vez que ela se desvencilhar do SLS e entrar na trajetória certa, Orion voará além da Lua e retornará à Terra em um período de três semanas. A Missão de Exploração 1, como é chamada, está programada para ser lançada em dezembro de 2019, mas a data pode ser adiada para o ano seguinte.

A primeira missão será não tripulada, mas as subsequentes serão mais ambiciosas. Atualmente, a Nasa planeja usar a Orion para ajudar astronautas a construir uma nova estação espacial além da atmosfera da Terra, denominada Deep Space Gateway. Tal estação permitiria mais pesquisas sobre a Lua, além de permitir a montagem de naves no espaço para missões ainda mais distantes.

Ouvi dizer que a Orion eventualmente iria para Marte. Isso é verdade?

Esse é o plano por enquanto, mas provavelmente não aconteceria até meados da década de 2030. A "viagem a Marte" a longo prazo da Nasa depende do sucesso de um monte de missões de agora em diante, começando com essa demonstração da Orion. (SpaceX também quer ir a Marte, mas há muitas razões pelas quais os humanos não estão lá ainda.)

Como o foco do presidente Trump na Lua se encaixa nisso?

Ao contrário do programa Apollo, que se concentrou inteiramente em colocar seres humanos na Lua, a Nasa está tentando tornar a Orion bastante versátil para lidar com uma ampla gama de missões. Seria capaz de missões lunares, satisfazendo o objetivo de Trump, na maior parte. Trump queria que a Nasa enviasse astronautas na viagem inaugural da Orion ao redor da Lua, mas a agência decidiu que os custos, o tempo e os riscos adicionais superavam os benefícios.

Uma vez que não haverá astronautas a bordo, eles usarão a primeira missão para testar os limites da nave espacial. Eles também garantirão que os sistemas de comunicação funcionem como deveriam, uma vez que alguns processos serão pilotados do solo.

Então, o que vem depois?

Supondo que os testes continuem a correr bem, a Nasa planeja juntar os componentes reais da Orion no Centro Espacial Kennedy na Flórida até o final deste ano, e então eles enviarão tudo para a estação Plum Brooke, em Ohio, onde estarão sujeitos a testes finais que simulam o vácuo e a temperatura gelada do espaço. Em seguida, ela volta à Flórida para se preparar para o lançamento.

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