O planeta em nossas mãos
Solta na escuridão do Universo, a Terra reflete a luz solar e fica intensamente mais azul, viva. E, assim, encanta quem a observa. Os astronautas costumam relatar que admirar a nossa casa do espaço os induz a reflexões sobre as mais pro-fundas e antigas questões da existência humana. A bordo da Vostok 1, em 1961, russo Yuri Gagarin foi pioneiro a expressar essa rara, fascinante experiência: “A Terra é azul”, resumiu, maravilhado, para a posteridade. A visão mágica o fez apelar para que todos os povos – em tempos de Guerra Fria – se dispusessem a salvaguardar as belezas do planeta, não destruí-las.
Anos depois, celebramos a missão espacial mais emblemática da história, que permitiu aos americanos Neil A. Armstrong e Edwin Eugene Aldrin Jr. caminhar na Lua. A humanidade continua a sonhar alto e a desenvolver seus pro-gramas espaciais. Hoje, diversos países trabalham para mandar novas missões à Lua, boa parte desses projetos em parceria com empresas comerciais. A Nasa, a agência espacial americana, fala em estabelecer bases por lá em 2024.
Contudo, nesse mesmo período, o nosso planeta sofreu transformações ca-pazes de alterar aquilo que foi observado pelos primeiros viajantes do espaço. Enormes desafios ambientais surgiram nas últimas décadas. A humanidade procura caminhos para adotar uma economia mais sustentável e inclusiva, com ênfase no consumo consciente e no uso de energias limpas – ações que ajuda-riam a deter as mudanças climáticas que ameaçam todos os continentes.
Sim, Houston, nós temos problemas, diriam os homens da missão Apollo. Se explorar o Sistema Solar a partir da Lua será uma tarefa imensa, manter o nosso planeta habitável para as próximas gerações também. A nossa civilização, cada vez mais tecnológica, está diante de dois desafios simultâneos. Um deles é colonizar a Lua, e ali estabelecer um campo de testes para tecnologias que levarão os seres humanos a Marte e além – por exemplo, com conceitos de uma arquitetura limpa e reutilizável. Ao mesmo tempo, é prioritária
a tarefa de conservar o planeta que habita.
Segundo os próprios integrantes de programas espaciais, seria importante no curto prazo que as sociedades mudassem antigos hábitos impactantes. Para esses cientistas e exploradores, tal mudança de comportamento está nas mãos de cada um, depende apenas de pequenas ações individuais. Isso poderia evitar que a Terra se transformasse num lugar ruim para as próximas gerações. Caso contrário, o futuro apocalíptico talvez nos obrigue a deixar nossa casa azul no Universo e partir em busca de novos mundos habitáveis. Sim, a ficção científica já espreita a realidade.
Ex-astronauta e comandante da ISS (Estação Internacional Espacial), o americano Leroy Chiao participou de quatro missões espaciais. Ao todo, ele já ficou 229 dias em órbita. Eu o encontro em Houston, no estado americano do Texas, para uma conversa. Chiao logo me diz que algumas das suas perspectivas foram alteradas no espaço. Ele confessa: antes, costumava ser o tipo de pessoa que se irritava com pequenos problemas. “Mas a chance de olhar para a Terra do espaço me fez perceber o que é realmente importante na vida”, conta ele, seja nas relações pessoais – as conexões com a família, os amigos –, seja na relação com o planeta. Do alto, “eu olhava a beleza da Terra, que dali parecia ser um lugar pacífico, sereno, belo. Mas eu sabia que havia algo mais acontecendo”.
Eu e Chiao nos conhecemos no evento mundial de lançamento da nova coleção de instrumentos de escrita StarWalker, da Montblanc, empresa que adotou, na sua campanha, as impressões dos astronautas que tiveram a experiência da visão espacial, provando uma inesperada saudade de casa, para lembrar de que precisamos preservar o planeta. Os graciosos desenhos espaciais da campanha ficaram por conta do ilustrador coreano Jaehoon Choi. “A missão parece tão grande e, por isso, eu ouço muita gente questionando: o que eu posso fazer individualmente, como eu posso criar um impacto no ambiente?”, reflete o francês Nicolas Baretzki, CEO da marca. “Todas as pessoas podem olhar para um problema e não fazer nada, achar que o pouco que fizer não vai ter impacto algum. Mas não. Felizmente, hoje, sabemos que os mínimos esforços, levados adiante por muitos, podem causar um grande impacto.”
Pergunto a Leroy Chiao se a nossa espécie vive um paradoxo: evolui com rapidez espantosa mas não consegue priorizar a missão mais decisiva para a sua própria sobrevivência: preservar o ambiente em que vive. O ex-astronauta concorda: apesar de sermos a mais avançada forma de vida do planeta, nos acostumamos a usar indiscriminadamente todos os recursos naturais disponíveis.
“Mas eu acredito que as pessoas estão mais alertas em relação às necessidades do planeta”, diz Chiao. “Todos nós temos responsabilidades e devemos fazer tudo o que pudermos. Tentar não desperdiçar recursos, e conservar. É importante. Quando, do alto, olhamos para grandes manchas de lixo plástico nos oceanos, está claro que elas nos mandam uma mensagem de alerta. E deveríamos aprender com elas.”