O planeta em nossas mãos

Por Paulo Verri Filho
Publicado 10 de jul. de 2019, 10:14 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
ilustracao terra
A visão mágica da Terra vista do espaço trouxe um apelo para que todos os povos – em tempos de Guerra Fria – se dispusessem a salvaguardar as belezas do planeta, não destruí-las.
Foto de Ilustração de Jaehoon Choi

Solta na escuridão do Universo, a Terra reflete a luz solar e fica intensamente mais azul, viva. E, assim, encanta quem a observa. Os astronautas costumam relatar que admirar a nossa casa do espaço os induz a reflexões sobre as mais pro-fundas e antigas questões da existência humana. A bordo da Vostok 1, em 1961, russo Yuri Gagarin foi pioneiro a expressar essa rara, fascinante experiência: “A Terra é azul”, resumiu, maravilhado, para a posteridade. A visão mágica o fez apelar para que todos os povos – em tempos de Guerra Fria – se dispusessem a salvaguardar as belezas do planeta, não destruí-las.

Anos depois, celebramos a missão espacial mais emblemática da história, que permitiu aos americanos Neil A. Armstrong e Edwin Eugene Aldrin Jr. caminhar na Lua. A humanidade continua a sonhar alto e a desenvolver seus pro-gramas espaciais. Hoje, diversos países trabalham para mandar novas missões  à Lua, boa parte desses projetos em parceria com empresas comerciais. A Nasa,  a agência espacial americana, fala em estabelecer bases por lá em 2024.

Contudo, nesse mesmo período, o nosso planeta sofreu transformações ca-pazes de alterar aquilo que foi observado pelos primeiros viajantes do espaço. Enormes desafios ambientais surgiram nas últimas décadas. A humanidade procura caminhos para adotar uma economia mais sustentável e inclusiva, com ênfase no consumo consciente e no uso de energias limpas – ações que ajuda-riam a deter as mudanças climáticas que ameaçam todos os continentes.

Domo da nova Mont Blanc StarWalker.
Domo da nova Mont Blanc StarWalker.

Sim, Houston, nós temos problemas, diriam os homens da missão Apollo. Se explorar o Sistema Solar a partir da Lua será uma tarefa imensa, manter o nosso planeta habitável para as próximas gerações também. A nossa civilização, cada vez mais tecnológica, está diante de dois desafios simultâneos. Um deles é colonizar a Lua, e ali estabelecer um campo de testes para tecnologias que levarão os seres humanos a Marte e além – por exemplo, com conceitos de uma arquitetura limpa e reutilizável. Ao mesmo tempo, é prioritária  
a tarefa de conservar o planeta que habita.

Segundo os próprios integrantes de programas espaciais, seria importante no curto prazo que as sociedades mudassem antigos hábitos impactantes. Para esses cientistas e exploradores, tal mudança de comportamento está nas mãos de cada um, depende apenas de pequenas ações individuais. Isso poderia evitar que a Terra se transformasse num lugar ruim para as próximas gerações. Caso contrário, o futuro apocalíptico talvez nos obrigue a deixar nossa casa azul no Universo e partir em busca de novos mundos habitáveis. Sim, a ficção científica já espreita a realidade.

Ex-astronauta e comandante da ISS (Estação Internacional Espacial), o americano Leroy Chiao participou de quatro missões espaciais. Ao todo, ele já ficou 229 dias em órbita. Eu o encontro em Houston, no estado americano do Texas, para uma conversa. Chiao logo me diz que algumas das suas perspectivas foram alteradas no espaço. Ele confessa: antes, costumava ser o tipo de pessoa que se irritava com pequenos problemas. “Mas a chance de olhar para a Terra do espaço me fez perceber o que é realmente importante na vida”, conta ele, seja nas relações pessoais – as conexões com a família, os amigos –, seja na relação com o planeta. Do alto, “eu olhava a beleza da Terra, que dali parecia ser um lugar pacífico, sereno, belo. Mas eu sabia que havia algo mais acontecendo”.

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    Ex-comandante da Estação Espacial Internacional, o astronauta Leroy Chiao participou de quatro missões espaciais e passou um total de 229 dias no espaço.
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    O ilustrador coreano Jaehoon Choi é o responsável pelos graciosos desenhos que ilustram a campanha da caneta Mont Blanc StarWalker.

    Eu e Chiao nos conhecemos no evento mundial de lançamento da nova coleção de instrumentos de escrita StarWalker, da Montblanc, empresa  que adotou, na sua campanha, as impressões dos astronautas que tiveram a experiência da visão espacial, provando uma inesperada saudade de casa, para lembrar de que precisamos preservar o planeta. Os graciosos desenhos espaciais da campanha ficaram por conta do ilustrador coreano Jaehoon Choi. “A missão parece tão grande e, por isso, eu ouço muita gente questionando: o que eu posso fazer individualmente, como eu posso criar um impacto no ambiente?”, reflete o francês Nicolas Baretzki, CEO da marca. “Todas as pessoas podem olhar para um problema e não fazer nada, achar que o pouco que fizer não vai ter impacto algum. Mas não. Felizmente, hoje, sabemos que os mínimos esforços, levados adiante por muitos, podem causar um grande impacto.”

    Pergunto a Leroy Chiao se a nossa espécie vive um paradoxo: evolui com rapidez espantosa mas não consegue priorizar a missão mais decisiva para a sua própria sobrevivência: preservar o ambiente em que vive. O ex-astronauta concorda: apesar de sermos a mais avançada forma de vida do planeta, nos acostumamos a usar indiscriminadamente todos os recursos naturais disponíveis.

    “Mas eu acredito que as pessoas estão mais alertas em relação às necessidades do planeta”, diz Chiao. “Todos nós temos responsabilidades e devemos fazer tudo o que pudermos. Tentar não desperdiçar recursos, e conservar. É importante. Quando, do alto, olhamos para grandes manchas de lixo plástico nos oceanos, está claro que elas nos mandam uma mensagem de alerta. E deveríamos aprender com elas.” 

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