Avistado bizarro cometa de outro sistema estelar

Descoberto por um astrônomo amador, o objeto é apenas o segundo do mesmo tipo a ser detectado.

Por Michael Greshko
Publicado 17 de set. de 2019, 20:15 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
Ilustração demonstra o 'Oumuamua, o primeiro visitante interestelar a ser detectado. Em 30 de agosto, um ...
Ilustração demonstra o 'Oumuamua, o primeiro visitante interestelar a ser detectado. Em 30 de agosto, um astrônomo amador observou seu possível sucessor, um cometa chamado C/2019 Q4 (Borisov). A trajetória orbital do cometa apresenta fortes indícios de que ele fará uma única visita ao nosso sistema solar.
Foto de Illustration by J. Olmsted and F. Summers, NASA, ESA

Na madrugada sonolenta do dia 30 de agosto, um astrônomo amador ucraniano chamado Gennady Borisov detectou um estranho cometa zarpando pelo nosso sistema solar. Agora, astrônomos verificaram provisoriamente que o objeto, chamado C/2019 Q4 (Borisov), está se movendo rápido demais para ser capturado pela gravidade do sol, um sinal de que é provavelmente um intruso interestelar.

Se os resultados se confirmarem, o C/2019 Q4 seria apenas o segundo visitante de outro sistema de estrelas a ser detectado, após a descoberta em 2017 da enigmática rocha espacial conhecida como 'Oumuamua. Embora suas origens ainda não tenham sido confirmadas, o C/2019 Q4 é definitivamente um cometa. Os astrônomos já detectaram que o objeto, que deve medir cerca de três quilômetros de diâmetro, tem uma coma, o revestimento de poeira e gás, também chamado de cabeleira, que se forma quando a luz solar aquece a superfície gelada do cometa.

Isso significa que os cientistas serão capazes de coletar muito mais dados sobre sua composição do que foi possível com o 'Oumuamua. Em primeiro lugar, o C/2019 Q4 é maior e mais luminoso, oferecendo maiores oportunidades de estudar sua luz e obter pistas químicas. Além disso, os astrônomos descobriram o 'Oumuamua quando já estava de saída do sistema solar, mas o C/2019 Q4 ainda está na rota de entrada. Ele fará sua aproximação máxima ao sol no dia 7 de dezembro, e chegará o mais próximo da Terra, a 290 milhões de quilômetros, em 29 de dezembro.

“Este é o primeiro objeto altamente ativo que vemos chegar de algo que se formou ao redor de outra estrela”, diz Michele Bannister, astrônoma na Queen’s University Belfast. Bannister complementa que as observações do C/2019 Q4 não podem ser retomadas com seriedade até meados de outubro, devido à sua posição relativa ao sol. Mas, depois disso, os astrônomos poderão olhar para o céu durante meses e obter o que pode vir a ser a melhor observação do visitante interestelar.

“O que é realmente fantástico é que ele poderá ser observado durante um ano”, diz Matthew Holman, diretor interino do Centro de Planetas Menores da União Astronômica Internacional, que publicou a confirmação da trajetória do C/2019 Q4 pelo espaço na noite de quarta-feira.

“Temos a chance de ver um pedacinho de outro sistema solar”, ele adiciona, “e sem saber necessariamente de onde ele veio, isso é empolgante”.

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Muito excêntrico

Borisov, um veterano caçador de cometas, detectou o C/2019 Q4 ao focar suas observações a partir do Observatório Astrofísico da Crimeia em uma posição baixa no horizonte na direção nordeste, em uma região do céu próxima à constelação de Gêmeos. Os astrônomos procuram evitar espiar por esses trechos “claros” do céu, próximos ao horizonte, já que são difíceis de observar e podem danificar as lentes sensíveis dos telescópios.

Os relatórios iniciais sobre a descoberta de Borisov geraram um alvoroço entre os astrônomos. Quanzhi Ye, da Universidade de Maryland, ficou sabendo sobre o cometa no domingo, após um colega comentar sobre a bizarra trajetória orbital do objeto em um grupo de e-mails. Ye também notou que a Scout, um serviço de detecção de cometas e asteroides comandado pelo Laboratório de Propulsão a Jato da NASA, calculou que o objeto não parecia ter uma órbita circular ou elíptica.

Ye ficou particularmente fascinado com um dos parâmetros orbitais do cometa, sua excentricidade. Se a excentricidade de uma órbita for igual a zero, o objeto traça um círculo perfeito ao redor da sua estrela. Quanto mais alongada e estreita for a órbita, mais próxima de um é sua excentricidade. Se um objeto no nosso sistema solar tiver uma excentricidade maior do que um, isso significa que o objeto tem uma trajetória em formato de arco, e fará uma visita única. O Centro de Planetas Menores diz que a excentricidade do C/2019 Q4 é maior do que três.

De acordo com Ye, é improvável que o C/2019 Q4 seja um cometa que se formou às margens do sistema solar e, de alguma forma, foi propelido para uma trajetória de escape. Para conseguir esse tipo de solavanco, o cometa precisaria se aproximar de um objeto grande o suficiente para alterar seu curso, como um planeta. Mas até onde sabem os astrônomos, o C/2019 Q4 não poderia ter se aproximado de tais usurpadores dentro do nosso sistema solar. As órbitas dos planetas ao redor do sol estão razoavelmente alinhadas no mesmo plano, mas o C/2019 Q4 parece estar mergulhando como uma bomba pelo sistema solar a um ângulo de 44 graus.

“É por isso que dizemos que perturbações gravitacionais são quase impossíveis”, diz Ye.

Hora do telescópio

Os astrônomos estimam que há sempre um cometa ou asteroide interestelar em algum lugar na órbita de Marte, e cerca de 10 mil dentro da órbita de Netuno, mas esses objetos são pequenos e extremamente tênues, tornando-os quase impossíveis de observar.

O cometa 'Oumuamua, o primeiro visitante interestelar detectado no nosso sistema solar, chegou na primavera de 2017. Os astrônomos não detectaram o estranho objeto até que estivesse de saída do sistema solar, partindo a 160 mil quilômetros por hora. Mas no pouco tempo que tiveram disponível, cientistas ávidos em todo o mundo apontaram seus telescópios na direção do objeto e, surpreendentemente, aprenderam bastante sobre esse fragmento de detrito cósmico.

Embora o distante objeto parecesse uma ponta de alfinete de luz no melhor dos telescópios, seu intenso escurecimento e abrilhantamento que se repetia algumas vezes por dia sugeria um formato alongado, tombando de ponta cabeça enquanto zarpava pelo nosso sistema solar. Astrônomos estimam que o objeto medisse entre 180 e 400 metros de comprimento, mas com apenas 40 metros de largura, dando ao corpo rochoso uma aparência parecida com um lápis.

Ainda mais curioso, o 'Oumuamua não mantinha a mesma velocidade. Após rodopiar ao redor do sol no início de 2018, ele acelerou inesperadamente. Especulações sobre a causa começaram imediatamente. Os professores de Harvard Shmuel Bialy e Abraham Loeb apresentaram uma ideia de outro mundo: Talvez fosse uma espaçonave enviada por uma civilização alienígena utilizando uma vela solar.

Mas há, quase que certamente, uma explicação mais mundana. De acordo com outra pesquisa, orifícios na superfície do objeto poderiam ter lançado jatos de gás, dando a ele um impulso, em um surto de atividade cometária sutil demais para os nossos telescópios. Ou, o 'Oumuamua poderia ser uma bolha de gelos porosos leve o suficiente para que a própria luz solar desse um empurrão.

O 'Oumuamua deixou muitos mistérios ao partir, que talvez nunca sejam solucionados, e é por isso que a possibilidade de estudar o C/2019 Q4 em ainda maiores detalhes empolgou os astrônomos. Quando perguntado por e-mail o que ele achava sobre a confirmação do Centro de Planetas Menores, Ye respondeu: “Isso, está na hora de pegar os telescópios.”

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