Se pássaros deixassem pegadas no céu, elas seriam assim

Um fotógrafo captura – com técnica e poesia – os padrões invisíveis que as aves traçam nos seus voos.

Por Catherine Zuckerman
Publicado 27 de fev. de 2018, 13:32 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
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Na Islândia, voando acima da Cachoeira Skógafoss, o seu local de nidificação, as pardelas-brancas exibem padrões em forma de zíper.

Esta reportagem está na edição de março da revista National Geographic Brasil.

Se os pássaros deixassem pegadas no céu, como elas seriam? Durante anos, o fotógrafo Xavi Bou, sediado em Barcelona, ficou fascinado com essa questão. Assim como uma marca sinuosa aparece quando uma cobra desliza pela areia, ele imaginava que um padrão deveria se formar logo após a passagem de um pássaro voando. Mas é claro que os pássaros não deixam vestígios do voo – ao menos nenhum que seja visível a olho nu. Bou, hoje com 38 anos, passou os últimos cinco tentando registrar os contornos elusivos traçados por pássaros em movimento ou, como ele diz, “tornar visível o invisível”.

Primeiro, ele teve de abandonar o papel de mero observador. “Como naturalista, eu costumava viajar pelo mundo observando a vida selvagem”, conta. Ele começou a explorar técnicas fotográficas que lhe permitiriam expressar o seu amor pela natureza e mostrar a beleza dos pássaros de uma maneira não vista antes.

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Evocando uma serpente aérea, águias deslizam acima das árvores onde corvos se empoleiram. As zonas úmidas de Estany d’Ivars, na Espanha, são ricas em espécies e foram drenadas, por volta de 1950, para uso agrícola – e restauradas, em 2005.
Foto de Xavi Bou
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Em uma baía tranquila no delta do rio Ebro, na costa mediterrânea da Espanha, um bando de flamingos aparece perfilado na água enquanto gaivotas-prateadas voam.
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Próximo ao vilarejo de pescadores Roses, na Espanha, gaivotas formam uma cena onírica ao perseguir barcos em busca de restos de comida.

Por fim, Bou optou por trabalhar com uma câmera de vídeo, da qual extrai fotos em alta resolução. Após filmar os pássaros em movimento, ele seleciona uma seção da filmagem e coloca todas as camadas dos quadros individuais em uma só imagem. Bou acha que o processo se assemelha à revelação de filmes: ele não sabe dizer antecipadamente qual será o resultado. Há um segundo mágico, diz, em que a imagem começa a emergir.

Bou tem diplomas em geologia e fotografia, trabalhou como técnico de iluminação de moda e foi coproprietário de um estúdio. Esse projeto, que ele chama de “Ornitografias”, diz, mistura paixão e profissão. “É técnico, artístico e natural. É a conexão entre a fotografia e a natureza.”   

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