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Página do Fotógrafo
Maurício de Paiva
O coletor João Marcos Lopes Chaves, 22 anos, entrega uma das sacas da produção do dia antes de ser embarcada na canoa que levará até a embarcação da cooperativa Amazonbai. O açaí dos produtores cooperados é depois transportado para Macapá – trajeto que é feito uma vez por semana.
O coletor Carlos Vilhena dos Santos carrega uma saca de açaí durante a jornada de trabalho, que leva o dia todo na floresta de várzea do Bailique. Os jovens adultos são os mais resistentes na lida.
A lamparina ilumina o diálogo entre ribeirinhos na casa integrada à agrofloresta de várzea, onde predominam os açaizais. Décadas atrás, os homens caçavam e derrubavam a mata sem refletir sobre o futuro. A partir dos anos 90, uma nova consciência começou a emergir no Bailique: conservar as matas e o ambiente, transformando exploração em reconexão para a salvaguarda das próximas gerações. Educação e resistência. O processo de decolonização, na Amazônia, começa de dentro para fora: tudo está na comunidade.
Dois ribeirinhos descansam sobre o ancoradouro de madeira num dos braços de rio do Bailique. O lugar é um ponto de entrega do açaí coletado. “Talvez, à semelhança dos românticos, os caboclos ribeirinhos, em face do rio e da floresta, tenham tido e ainda têm lugar privilegiado para a descoberta de si mesmos”, frisou o escritor João de Jesus Paes Loureiro, em Meditação Devaneante entre o Rio e a Floresta - Cultura Amazônica Produtora de Conhecimento.
Tatiele Lopes dos Santos segura mudas da palmeira açaí, ou açaizeiro. Os viveiros são mantidos em casas e áreas produtivas do Arraiol, e asseguram a continuidade das plantações do rentável e arraigado fruto regional – um cenário que alude à própria pintura ao fundo da foto.
Margens e embarcações são decoradas para a procissão fluvial do Divino Espírito Santo, em maio, no domingo de Pentecostes – a coroa do Divino é conduzida rio abaixo a partir do Arraiol. Segundo alguns moradores antigos, a coroa chegou ao arquipélago por volta do ano de 1900, vinda de Abaeté, no Pará.
Um jovem exibe a cabeça de um búfalo abatido para a comunidade. Fazendas de criação de búfalos espalham-se no entorno do arquipélago do Bailique.
O agroextrativista Luciano Marcos Pantoja, a esposa Taís e sua filha bebê no quarto do casal. Os moradores do Arraiol pertencem a praticamente duas famílias, os Lopes e os Sarges. No passado, não era comum o casamento entre duas pessoas de comunidades diferentes – há muitos casos de uniões aparentadas, entre primos, por exemplo.
A névoa pontua a aurora no Arraiol, e o caboclo ribeirinho já está em seu barco para a lida agroextrativista. As mesmas matas cultivadas de açaí abrigam diversidades de madeiras como o pau-mulato, a andiroba, macacaúba, siriúba, e o buriti, entre outras.
O cultivo de mel em área de açaizal funciona como uma alternativa econômica para alguns moradores. A fumaça intensa sai do fumigador, aparelho que ajuda a controlar eventuais ataques das abelhas. A produção chega a 4 toneladas durante uma safra; o mel é vendido para Macapá e consumido na comunidade.