No passado, o ‘ano novo’ começava em março — entenda por quê

Originalmente, janeiro não existia para os romanos. Veja como o antigo calendário romano evoluiu para nosso sistema moderno de marcação do tempo.

Por Erin Blakemore
Publicado 1 de jan. de 2022, 07:00 BRT
Window depicting the Labours of the Months

No início do calendário romano — intrinsecamente ligado à colheita —, os meses de inverno não receberam nomes até o século 7 a.C. Demorariam inúmeros séculos até que o dia 1o de janeiro passasse a indicar o início do ano novo. As primeiras representações do mês geralmente ilustravam festividades como a deste vitral do século 13 na Catedral de Santo Estêvão, em Bourges, na França.

Foto de Photograph, via Bridgeman Images

Você sabia que janeiro nem sempre foi o início do ano? Nos primórdios dos calendários, não havia nomes para indicar os meses que deram origem ao sistema de marcação de tempo mais popular da atualidade.

Com o nome de Jano, o deus romano do tempo, das transições e começos, janeiro foi uma invenção dos antigos romanos. Conheça a história surpreendente desse mês: repleta de erros de cálculos astronômicos, ajustes políticos e confusões em calendários.

O primeiro calendário romano

Os humanos marcam o tempo nos calendários há pelo menos 10 mil anos, mas os métodos utilizados variaram desde o início. O povo mesolítico da Grã-Bretanha acompanhava as fases da lua. Já os antigos egípcios observavam o sol. E os chineses combinaram os dois métodos em um único calendário lunissolar ainda utilizado nos dias atuais.

Mas o calendário moderno adotado na maior parte do mundo evoluiu durante a República Romana. Embora tenha sido atribuído a Rômulo, o fundador do sistema de governo organizado e primeiro rei, o calendário provavelmente foi desenvolvido a partir de outros sistemas de datação projetados pelos babilônios, etruscos e gregos antigos.

O primeiro mês do ano tem o nome de Jano, o deus romano dos começos e transições. Jano normalmente é representado com dois rostos, como nesta moeda metálica romana datada entre 753 a.C. e 476 d.C.

Foto de Photograph, via Bridgeman Images

À medida que os conhecimentos científicos e as estruturas sociais dos romanos mudavam com o tempo, também mudava seu calendário. Os romanos ajustaram seu calendário oficial por diversas vezes entre a fundação da república em 509 a.C. e sua dissolução em 27 a.C.

primeira versão continha apenas 10 meses e prestava homenagem ao que era importante no início da sociedade romana: a agricultura e o ritual religioso. O ano de 304 dias do calendário iniciava em março (Martius), em homenagem ao deus romano Marte; e terminava em dezembro, época da colheita no clima temperado de Roma.

Os romanos associavam cada ano à data de fundação da cidade. Assim, o ano moderno 753 a.C. era considerado o ano 1 na Roma antiga.

O calendário inicial possuía seis meses de 30 dias e quatro meses de 31 dias. Os nomes dos primeiros quatro meses homenageavam deuses como Juno (junho); os últimos seis receberam nomes de acordo com números consecutivos em latim, originando meses como setembro (o sétimo mês, correspondente à palavra latina septem, que significa sete). O fim da colheita, também marcava o fim do calendário; os meses de inverno simplesmente não recebiam nenhum nome.

Calendário lunar de Roma

No entanto o calendário de 10 meses não durou muito. No século 7 a.C., por volta do reinado de Numa Pompílio, segundo rei de Roma, o calendário recebeu uma reformulação lunar. A revisão incluía o acréscimo de 50 dias e o empréstimo de um dia de cada um dos 10 meses existentes para criar dois novos meses de 28 dias para o inverno no Hemisfério Norte: Ianuarius (em homenagem ao deus Jano) e Februarius (em homenagem ao Februa, festival romano de purificação).

O novo calendário era tudo menos perfeito. Como os romanos acreditavam que números ímpares traziam sorte, tentaram dividir o ano em meses com números ímpares; a única exceção foi fevereiro, que ficava no fim do ano e era considerado de mau agouro. Havia outro problema: o calendário considerava apenas a lua e não o sol. Como o ciclo da lua é de 29,5 dias, o calendário geralmente ficava dessincronizado com as estações que deveria marcar.

Na tentativa de resolver a confusão, os romanos adotaram um mês a mais, denominado Mercedonius, a cada dois ou três anos. Mas não era aplicado com regularidade, e diversos governantes causaram mais problemas alterando os nomes dos meses.

“A situação piorou porque o calendário não era um documento disponível ao público”, escreve o historiador Robert A. Hatch. “Era guardado pelos padres cuja função era fazê-lo funcionar e determinar as datas dos feriados religiosos, festivais e os dias em que negócios podiam ou não ser conduzidos.”

Origem do calendário juliano

Por fim, em 45 a.C., Júlio César exigiu uma versão reformulada que ficou conhecida como o calendário juliano. Fora projetado por Sosígenes de Alexandria, astrônomo e matemático que propôs um calendário de 365 dias com um ano bissexto a cada quatro anos. Embora seu criador tenha superestimado a duração do ano em cerca de 11 minutos, seu calendário estava em sincronia com o sol.

O novo calendário de César tinha outra inovação: um ano com início em 1o de janeiro, o dia em que seus cônsules— dois homens que compunham o poder executivo da república — tomavam posse. Mas embora o calendário juliano tenha persistido por séculos, a data de seu ano-novo nem sempre foi celebrada por aqueles que o adotaram. Em vez disso, os cristãos comemoravam o ano novo em diversos dias de festividades.

Com exceção de alguns ajustes feitos por outros governantes romanos, o calendário juliano permaneceu basicamente inalterado até 1582, quando o papa Gregório XIII ajustou o calendário para indicar com mais precisão a quantidade de tempo que a Terra leva para dar uma volta completa ao redor do sol. O calendário anterior tinha 365,25 dias; o novo calendário passou a ter 365,2425 dias. Também foram alteradas as datas, que estavam deslocadas em cerca de duas semanas, para que coincidissem com as mudanças das estações.

Somente após a mudança feita pelo papa Gregório em 1582, o 1o de janeiro de fato se consolidou como início do ano — para muitos. Nem todos adotaram o novo calendário gregoriano e, como resultado, o feriado de Natal é comemorado em janeiro para os membros das igrejas ortodoxas orientais. 

Embora o mundo moderno tenha adotado predominantemente o calendário gregoriano, outros calendários persistiram. Como resultado, diferentes culturas reconhecem datas diferentes como o início do ano — e têm festivais, rituais e feriados, como o Noruzo Ano-Novo Judaico e o Ano-Novo Chinês — para comemorar.

Continuar a Ler

Você também pode se interessar

História
Veja como a Rainha Vitória reconstruiu a monarquia britânica
História
Como foram as transições presidenciais mais conturbadas da história dos Estados Unidos
História
Por dentro da conspiração para matar Júlio César
História
Mais antigo túmulo de bebê humana descoberto na Europa
História
Conheça os países que mudaram de nome ao longo da história

Descubra Nat Geo

  • Animais
  • Meio ambiente
  • História
  • Ciência
  • Viagem
  • Fotografia
  • Espaço
  • Vídeo

Sobre nós

Inscrição

  • Assine a newsletter
  • Disney+

Siga-nos

Copyright © 1996-2015 National Geographic Society. Copyright © 2015-2023 National Geographic Partners, LLC. Todos os direitos reservados