Esta ultramaratonista está redefinindo a imagem de um atleta

Mirna Valerio acredita que todos merecem explorar o mundo com os corpos que eles possuem.

Por Gulnaz Khan
Publicado 9 de mar. de 2018, 18:04 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
Mirna Valerio corre no lago Blackrock, na Geórgia, EUA. Ao tentar transmitir mensagens corporais positivas para o mundo das ultramaratonas, ela enfrentou racismo, machismo e ataques ao seu corpo.
Foto de Jenny Nichols

“Estou de bem com meu corpo.”

Isso é o que Mirna Valerio – ultramaratonista, autora e educadora – quer que as pessoas negativas saibam. Em 2017, sua história se espalhou pela Internet, e Valerio foi louvada e criticada pelo público. Apesar do racismo e dos ataques ao seu corpo, ela continua desafiando os estereótipos e incentivando outros a fazerem o mesmo.

"Eu acho que as pessoas realmente estão tendo dificuldade em lidar com a ideia de que há várias maneiras de ‘estar em forma’ que todos podem ser atletas independente do tipo de corpo que possuem”, diz ela. "Quero continuar colocando meu enorme traseiro em lugares onde as pessoas dizem que eu não deveria estar. Essa tem sido a natureza da minha vida – eu vou fazer isso e eu vou fazer isso com orgulho."

Valerio treina crossfit para entrar em forma para suas corridas em trilhas e ultramaratonas. Em 2017, ela completou várias corridas de 50 km, uma corrida montanhosa de 190 km e vários eventos de obstáculos.
Foto de Jenny Nichols

UM AMOR PARA A VIDA TODA

Quando Valerio tinha oito anos de idade, ela observou o horizonte do Brooklyn encolher de uma janela de ônibus. Foi o início de seu amor pela natureza. Edifícios de concreto e buzinas frenéticas abriram caminho para as montanhas de Catskill, onde passaria um mês no acampamento Sleepaway.

"Eu amei nadar no lago, caminhar e ficar fora o dia todo – mesmo quando estava chovendo", diz Valerio. "Lembro-me das vistas e dos cheiros. Tudo isso está gravado na minha memória."

Foi um momento de descoberta – de sua própria força e atletismo, e da paz intrínseca que ela encontrou através da natureza.

Valerio fez parte das equipes de hóquei de grama e lacrosse no ensino médio, mas, como caloura na faculdade, encontrou uma nova paixão na corrida. "Era diferente de praticar esportes em equipe. Eu sou introvertida por natureza, então era uma maneira para começar o dia por conta própria usando meu corpo e simplesmente fazendo meu sangue fluir. Isso só fez com que eu me sentisse bem."

Após a faculdade, Valerio lidou com muito estresse na carreira e na vida pessoal. Ela parou de se exercitar e ganhou peso.

"Estamos sempre trabalhando. Tudo é trabalho, tudo é ganhar dinheiro, então não criamos tempo e espaço suficientes em nossas vidas para estar ao ar livre e sair da rotina diária", diz ela.

Quando Valerio decidiu voltar a correr anos mais tarde, ela teve de enfrentar um novo desafio.

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    COMPETINDO CONTRA OS CRÍTICOS

    "Nunca tive problemas de imagem corporal... isso não era comum na minha cultura familiar ou nas escolas que eu frequentei", diz ela. "Eu só comecei a ouvir os comentários quando passei a ir a essas corridas e dizer coisas como: 'Eu não acredito que você ainda está aqui’, 'Você é meio pesada para correr, você deve andar', ou 'Você vai acabar com seus joelhos.'"

    Quando o blog Fat Girl Running começou a ganhar atenção, essas vozes foram amplificadas. Valerio começou o blog em 2012 enquanto treinava para sua primeira maratona como forma de compartilhar histórias com seus amigos e familiares. Sua audiência aumentou – assim como os comentários negativos.

    Valerio, also an author and educator, runs a forested trail in Georgia.

    Foto de Jenny Nichols

    "Eu acho que há um pouco de racismo e machismo aqui, especialmente com a imagem do corpo e a forma do corpo. Eles não gostam de me ver em uma capa de uma revista, porque eu não represento a imagem de ‘estar em forma’ da mente deles".

    Mas Valerio diz que não vai a lugar algum – um espírito inabalável que solidificou seu lugar como Aventureira do Ano 2018.

    "Mirna é a definição de pioneirismo. Ela está redefinindo a imagem do corredor e faz isso com estilo, graças e um enorme sorriso", diz a contadora de histórias visuais Jenny Nichols, que a nomeou para o prêmio. "A mídia que Mirna tem recebido ultimamente está colocando-a diretamente sob o olhar do público e isso está proporcionando um modelo positivo. Ela recebe mensagens de pessoas que não se encaixam no molde do "corredor" dizendo que ela é a razão pela qual elas saem, que agora sabem que também podem se envolver na comunidade de corrida."

    Nichols e Sarah Menzies foram tão inspirados pela história de Mirna que fizeram um filme sobre ela. Financiado pela loja americana de produtos esportivos REI, o Mirnavator está disponível online e sendo exibido em festivais de cinema.

    DESAFIANDO OS ESTEREÓTIPOS

    "Algumas pessoas podem estar cansadas de me ver na mídia, mas se o que estou fazendo e se meu corpo está mudando a maneira como uma pessoa pensa sobre seus corpos e o que eles podem fazer, então vou continuar fazendo isso – não me importo com o que você acha", diz ela.

    Desde então, ela criou uma grande comunidade de apoio e está dedicada a passar mensagens positivas em torno de saúde e forma física.

    "Há todo um papo autodepreciativo, um medo de se envolver em atividades atléticas por causa de todas essas histórias que as pessoas contam a si mesmas, ou que outros contaram – tantas histórias na cabeça das pessoas sobre quem é um atleta e quem não é”, ela diz.

    Valerio practices yoga by a waterfall near Georgia's Blackrock Lake.

    Foto de Jenny Nichols

    Valerio acredita que é importante ver para acreditar e é necessário que haja uma mudança cultural. Ela acredita que se houvessem representações mais diversas de formas físicas nos meios de comunicação, isso reduziria os questionamentos das pessoas.

    "Somos muito mais do que nossos corpos. Quer seja imagem corporal, ser mãe ou não, nossas escolhas de carreira – somos mais do que nossos corpos", diz Valerio. "Somos tão poderosos quanto nossos sonhos mais loucos."

    Analisando sua infância, Valerio, que é professora há 18 anos, também enfatiza a importância de proporcionar oportunidades de sair de casa aos jovens – um espaço onde possam descobrir sua própria força física e mental. Ela acredita que devemos investir em espaços verdes nas cidades e apoiar mais fundos públicos privados para viagens escolares.

    "Não é apenas uma necessidade para as crianças das cidades, mas é uma necessidade para as crianças, independente do nível de privilégio e do seu nível de exposição e acesso", diz ela. "Sempre que penso na natureza, não é apenas um lugar onde eu possa ser eu mesma e viver nas minhas formas introvertidas, mas também vejo a natureza como um lugar de conexão com outras pessoas proporcionando experiências realmente profundas com a natureza que você não pode vivenciar apenas olhando pela janela."

    Valerio planeja continuar defendendo a positividade do corpo, educação ao ar livre e saúde pessoal. Atualmente, ela está treinando para sua primeira maratona internacional nas Ilhas dos Açores e planeja participar de várias outras no próximo ano.

    "Eu sei que haverá altos e baixos", diz Valerio. "Esse é o grande desafio de participar de corridas longas. Eu acho que elas realmente preparam para coisas difíceis na vida."

    Siga Mirna no Instagram @TheMirnavator e no blog Fat Girl Running.

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