Corvos estão evoluindo, mas não como você imagina

Ao invés de ramificarem em uma nova espécie, grupos de corvos exibiram algo chamado “especiação reversa”.

Por Jason Bittel
Publicado 6 de mar. de 2018, 19:23 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
corvos-evolucao
Corvos-comuns são excelentes voadores e acrobatas no nível de falcões e gaviões.
Foto de John Marzluff

Um novo estudo mostra que o corvo-comum passou por uma evolução nada convencional.

Através de amostras de DNA coletadas de corvos por quase vinte anos, o estudo fornece evidências de que corvos-comuns na costa oeste da América do Norte dividiram-se em três grupos genéticos diferentes. Além disso, duas dessas linhagens parecem estar no processo de mesclarem-se de volta a uma só, relataram cientistas na semana passada na revista Nature Communications.

Por muito tempo, pensávamos na evolução das espécies como galhos de uma árvore, com novas espécies desdobrando-se em seus próprios galhos, diz Anna Kearns, bióloga evolutiva no Instituto de Biologia e Conservação do Smithsonian.

“Vemos uma divisão e depois outra divisão e então outra divisão, mas raramente vemos dois galhos que haviam se separado juntarem-se novamente”, diz Kearns, líder do novo estudo.

Mas, ocasionalmente, os galhos de uma árvore genealógica voltam a se fundir, e duas linhagens – ou grupos que estavam prestes a se tornar duas espécies diferentes – fundem-se em uma. Cientistas chamam o processo de “especiação reversa”, diz Kearns, tendo sido observado em uma pequena quantidade de outras espécies, incluindo fringilídeos e dois tipos de peixes.

A descoberta sugere que muitas outras espécies possam ter evoluído “ao contrário” a partir da fusão de espécies, e destaca como é complexo, de fato, o próprio conceito de espécie. Apesar de muitos de nós termos aprendido na escola que duas espécies diferentes não podem procriar, cientistas dizem que a biologia não é sempre tão rigorosa.

Uma história de três corvos

Hoje, o corvo-comum é uma ave grande e negra com envergadura de asas que chegam a 1,20 metro. Como o nome sugere, o corvo-comum pode ser encontrado em praticamente em todo o hemisfério norte, provavelmente devido à sua inteligência elevada e à disposição de comer praticamente tudo, desde roedores e insetos a frutas e lixo.

Mas o corvo que vemos hoje em toda a América do Norte nem sempre foi a mesma ave.

Há três milhões de anos, uma espécie de corvo habitava a parte oeste da América do Norte, ancestral direto dos corvos atuais. Pouco a pouco, essa espécie se dividiu em duas, o corvo holoártico e um ancestral do corvo norte-americano do oeste.

Depois de serem mortos como pragas, as populações de corvos estão expandindo e hoje são comuns em todo Hemisfério Norte.
Foto de Bjørn Aksel Bjerke

Mas ao longo dos últimos dois milhões de anos, o corvo norte-americano do oeste parece ter se dividido em uma espécie conhecida como ‘corvo de Chihuahan’ (Corvus cryptoleucus) e uma linhagem californiana, que não é exatamente uma nova espécie, mas uma assinatura genética única dentro do galho do corvo norte-americano do oeste.

Além disso, uma análise de DNA propõe que essa linhagem californiana vem trocando DNA com os corvos holoárticos ao procriarem entre si, fazendo com que esses dois galhos da árvore genealógica dos corvos juntem-se novamente em uma única espécie, o corvo-comum – uma mistura que, aparentemente, acontece até hoje.

Contudo, mesmo que as aves estejam tecnicamente convergindo em uma única espécie, é importante notar que mudanças estão acontecendo durante o processo, diz Bridgett vonHoldt, bióloga evolutiva da Universidade de Princeton que não fez parte do estudo.

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    Em outras palavras, o corvo-comum criado pela mistura das linhagens californiana e holoártica não é exatamente o mesmo corvo que seu ancestral.

    “Esse é um estudo fascinante que demonstra, mais uma vez, que a ‘árvore’ da vida que conhecemos seja apenas algo próximo a uma árvore”, disse Adam Siepel, geneticista do Laboratório Cold Spring Harbor, em Long Island, nos EUA.

    Siepel estuda o fluxo gênico entre humanos e neandertais, o que Kearns e seus coautores observam ser similar ao fluxo gênico visto nos corvos.

    Novas tecnologias, novas perguntas

    Kaeli Swift, aluna de pós-graduação que estuda o comportamento de corvos na Universidade de Washington, passa seu tempo livre ajudando as pessoas a distinguirem entre corvos e gralhas-negras no Twitter. Mas mesmo especialistas como ela não seriam capazes de distinguir entre as linhagens californiana e holoártica sem uma análise genética. E isso enfatiza um dos maiores problemas representados no novo estudo.

    Chega a ser difícil responder perguntas aparentemente simples como “o que é uma espécie?”, ela diz.

    “Com as novas ferramentas de análise genética à nossa disposição, podemos olhar para essas perguntas de uma maneira muito mais profunda do que antes,” diz Swift.

    “O que costumavam ser dois organismos distintos podem colidir e tornar-se um só, tecendo seus genomas antes distintos em uma única trama. É uma obra complexa, mas muito bela, da natureza.”

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