Por que os grandes tubarões brancos se reúnem em redemoinhos de água quente

Nova pesquisa realizada com os famosos tubarões Mary Lee e Lydia mostra que os peixes gigantes passam uma quantidade surpreendente de tempo nessas áreas quentes.

Por Douglas Main
Publicado 21 de jun. de 2018, 17:06 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
Um grande tubarão branco nada nas águas das ilhas Netuno.
Um grande tubarão branco nada nas águas das ilhas Netuno.
Foto de Brian J. Skerry

As vidas dos grandes tubarões brancos, apesar de sua notoriedade, seguem repletas de mistérios.

Primeiramente, entre as muitas perguntas ainda não respondidas: onde eles passam a maior parte do tempo, e o que orienta seus movimentos enigmáticos? Por que os adultos frequentemente se dirigem para o mar aberto, longe das costas ricas em presas, onde passam grande parte de sua juventude?

Uma nova pesquisa vem ajudando a esclarecer as duas questões. Em um estudo publicado recentemente na revista Scientific Reports, cientistas rastrearam duas fêmeas de tubarão branco - conhecidas popularmente como Mary Lee e Lydia - no Atlântico ocidental usando modernos rastreadores via satélite. A equipe descobriu que quando os animais se dirigem para o mar aberto, eles passam muito tempo mergulhando em correntes circulares quentes, conhecidas como redemoinhos anticiclônicos. No geral, os animais podiam ser vistos nesses vórtices em mais de 75% do tempo.

Os tubarões também passaram até 40 por cento de seus dias a 180 metros ou menos, diz o coautor do estudo Camrin Braun, estudante de doutorado do MIT e da Woods Hole Oceanographic Institution. (Saiba mais: por que os grandes tubarões brancos ainda são um mistério para nós?)

Isso foi uma surpresa para os autores do estudo, uma vez que esses redemoinhos de água quente eram considerados áreas sem muita vida - e, portanto, pobres em termos de presas.

“Nós estávamos bem confusos no começo”, diz Braun.

A vida nas profundezas

Porém, os estudos recentes desafiam essa visão.

Apesar de a superfície não estar cheia de vida, os cientistas começaram a olhar mais a fundo - e encontraram muito mais do que esperavam.

Um estudo de 2014 estimou que a zona de crepúsculo - a região do oceano entre 180 e 1000 metros abaixo da superfície - é o lar de 10 vezes mais espécies de peixe do que se pensava anteriormente. A biomassa, ou massa de peixes encontrada nesta área em todo o mundo, é equivalente a cem vezes a captura global de frutos do mar da Terra, de acordo com o New York Times.

Outro estudo estimou a biomassa em vários pontos do Atlântico e descobriu que os níveis mais altos podem ser encontrados nesses redemoinhos de água quente.

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    O novo artigo também é surpreendente, já que os grandes tubarões-brancos “são efetivamente animais de sangue quente e precisam manter a temperatura corporal acima da temperatura do oceano para digerir os alimentos”, diz o líder do estudo Peter Gaube, oceanógrafo sênior do Laboratório de Física Aplicada da Universidade de Washington. (Saiba mais: por que os grandes tubarões brancos estão prosperando nas águas dos EUA?)

    Mergulhos mais profundos expõem os tubarões a águas mais frias, portanto, para que os animais se comportem de tal maneira, eles devem ter uma boa razão, observa Braun. Os autores do estudo suspeitam que grandes tubarões brancos estejam fazendo isso para aproveitar a abundância de presas da região, como a lula, acrescenta.

    Os redemoinhos são criados pela interseção de correntes oceânicas que são ligeiramente mais quentes que as águas circundantes, permitindo que o calor penetre mais profundamente do que o habitual na zona do crepúsculo.

    Tobey Curtis, um especialista em tubarões do Serviço Nacional de Pesca Marinha dos EUA que não esteve envolvido no estudo, suspeita que essas formações permitam que grandes tubarões brancos mergulhem mais facilmente e cacem suas presas sem ficar com o frio.

    “Este estudo ajuda a explicar como esses tubarões podem prosperar tão longe das águas costeiras ricas em presas”, diz ele.

    Siga a presa

    As duas fêmeas estudadas foram marcadas com dispositivos que registram a posição horizontal em 2012 e 2013. Lydia também foi equipada com um sensor que mede a temperatura e a profundidade da água. Esses equipamentos permitem que os pesquisadores acompanhem seus movimentos pelo Atlântico com uma imagem tridimensional

    O trabalho foi feito por uma equipe de cientistas a bordo de um navio operado pela OCEARCH, organização sem fins lucrativos que monitora os tubarões brancos em tempo real enquanto navegam pelo globo. (Saiba mais: Mary Lee, a grande celebridade branca da Costa Leste dos EUA.)

    Embora os dados dos dois tubarões não possam ser considerados como definitivos, eles batem com as informações coletadas em outro estudo do qual Braun foi coautor no ano passado. O estudo também descobriu que animais que se aventuravam no mar aberto passavam uma grande parte do tempo a profundidades abaixo de 180 m, provavelmente caçando.

    “Esses resultados provavelmente se aplicam a outros tubarões brancos e outros grandes predadores que dividem esses habitats para encontrar comida”, diz Curtis.

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