Peixes brilhantes espalham parasitas para cachalotes

Peixes bioluminescentes são o elo que estava faltando para um parasita marinho: alguns deles afetam humanos e causam sintomas severos.

Por Joshua Rapp Learn
Publicado 28 de set. de 2018, 11:02 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
Pesquisadores descobriram recentemente que peixes-lanterna podem ser o elo que faltava no ciclo do parasita Anasakis ...
Pesquisadores descobriram recentemente que peixes-lanterna podem ser o elo que faltava no ciclo do parasita Anasakis brevispiculata, que pode infectar cachalotes anões.
Foto de Abe Hideki, Minden Pictures

Peixes-lanterna de águas profundas ajudam a transmitir parasitas para cachalotes e lulas gigantes, mostra nova pesquisa.

Esses vermes parasitas, conhecidos como Anisakis brevispiculata, infectam cachalotes-anãos e cachalotes-pigmeus, criaturas estranhas e mal compreendidas encontradas por todo o mundo. O estudo, publicado na Deep-Sea Research Part I, revela mais sobre essas criaturas misteriosas – assim como os parasitas, parentes próximos de uma espécie que infecta humanos e causa sintomas severos.

“Anisakis são difundidos por todo o oceano”, ainda assim, se sabe muito pouco sobre eles, diz Francisco Aznar, professor associado de zoologia na Unidade de Zoologia Marinha da Universidade de Valencia na Espanha e um dos coautores.

Peixes-lanterna são bioluminescentes, produzindo luz no habitat escuro do fundo do mar, onde eles passam o dia. Muitas espécies migram para a superfície durante a noite, possivelmente indo atrás de zooplancton ou outros pequenos peixes. Essas migrações diárias permitem que os peixes-lanterna, que são abundantes em todo o oceano, funcionem como uma ligação entre o zooplancton do fundo do mar e os grandes predadores que ficam mais perto da superfície, dizem os autores do estudo.

Do fundo ao topo

Há muitos tipos de vermes Anisakis, alguns deles infectam uma sucessão de três ou mais hospedeiros, indo de um para o outro.

Muitos começam suas vidas depois de saírem do ovo infectando crustáceos. Nesse ponto, eles são comidos por peixes ou por outros animais marinhos, apesar de o ciclo exato de muitos desses parasitas não ser completamente conhecido.

Anasakis brevispiculata são parasitas multiestágio que começam suas vidas em crustáceos e eventualmente chegam aos cachalotes anões, depois de explorar os intestinos de vários hospedeiros intermediários.
Foto de Marine Zoology Unit, CIBEB, University of Valencia

Finalmente, os vermes acabam nos intestinos de mamíferos marinhos – principalmente baleias e golfinhos – onde se alimentam, acasalam e passam o resto de suas vidas colocando ovos, expelidos pelas fezes. Esses ovos chocam e são ingeridos por crustáceos.

Apesar de os parasitas que infectam especificamente cachalotes-anões e pigmeus nunca ter sido encontrados em humanos, alguns Anisakis parecidos podem infectar pessoas através de peixes ou frutos do mar crus ou malcozidos. Apesar de o verme não poder se reproduzir ou mesmo sobreviver por muito tempo em humanos, uma mordida de sushi ainda pode levar a sintomas como vômito, diarreia e dores abdominais severas e pode exigir cirurgias nos casos mais intensos. Mesmo peixes cozidos infectados com o parasita podem causar reações alérgicas.

Baleia com problemas

De acordo com Aznar, é mais difícil saber que tipo de sintomas as baleias sentem.

Apesar de muitos casos não levarem a nada sério, Mercedes Fernandez, uma das coautores e colegas de Aznar na Universidade de Valencia, diz que as infecções extremas podem levar até a perfurações no estômago e morte.

O parasita já foi encontrado em cachalotes anões, mas o vetor era desconhecido até pesquisadores da Índia mandarem amostras para Aznar de peixes-lanterna do Mar Arábico.

“Eles encontraram esses vermes e não sabiam o que eram”, diz ele, adicionando que o Oceano Índico é “como um buraco negro do conhecimento” de cetáceos. Uma análise do DNA revelou que alguns dos vermes eram quase idênticos aos encontrados em cachalotes pigmeus.

Ainda há muitas perguntas. Primeiramente, não está claro se cachalotes se alimentam diretamente de peixes-lanterna ou se os peixes-lanterna transmitem o parasita primeiro a lulas ao serem comidos.

Já que cachalotes são conhecidas por comerem lulas, o parasita pode usá-las para chegar ao seu objetivo final. Apesar de peixes-lanterna já terem sido encontrados nos estômagos de cachalotes, esses cetáceos normalmente preferem lulas. Como resultado, Aznar diz que os peixes-lanterna encontrados poderiam estar dentro do estômago de lulas ao invés de terem sido comidos diretamente pela baleia.

Isaure de Buron-Connors, uma professora de biologia na Faculdade de Charleston na Carolina do Sul, que estuda parasitas, mas não estava envolvida na pesquisa de Fernandez e Aznar diz que o artigo traz novas informações valiosas à tona, principalmente porque o estudo de parasitas é muitas vezes negligenciado.

“Não sabemos de nada”, diz ela. “Meus colegas brincam que os parasitas só existem onde existem parasitólogos.”

Ela diz que informações sobre esses parasitas são críticas porque podem ser importantes para a conservação de espécies marinhas, especialmente porque parasitas podem afetar o comportamento do hospedeiro ou sua performance, fazendo com que o animal coma mais ou nade mais rápido ou mais devagar.

“Tudo isso vai afetar o ecossistema”, diz ela.

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