Esses macacos gêmeos extremamente raros têm pais diferentes

Cientistas ficaram surpresos ao descobrir que os gêmeos de macaco-urso resistiram, mesmo normalmente não sobrevivendo na natureza.

Por Aru Toyoda
Publicado 16 de out. de 2018, 16:24 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
A macaco-urso mãe, conhecida como TNG-F19, segura seus gêmeos enquanto um outro membro do grupo se ...
A macaco-urso mãe, conhecida como TNG-F19, segura seus gêmeos enquanto um outro membro do grupo se aproxima.
Foto de Aru Toyoda

GÊMEOS SÃO EXTREMAMENTE raros entre diversos primatas, como os macacos do Velho Mundo, que necessitam de muito tempo, energia e comida para criar cada filhote. Por isso, os cientistas ficaram agradavelmente surpresos ao registrar o primeiro caso de gêmeos nascidos em um grupo de macacos-urso selvagens, em uma área florestal montanhosa, na região central da Tailândia.

Apesar de terem compartilhado o mesmo útero, os gêmeos têm pais diferentes, a descoberta aconteceu depois que pesquisadores realizaram testes de paternidade nos animais. Esse improvável caso foi relatado em um artigo publicado na revista científica Mammal Study.

Embora esses animais sejam selvagens, às vezes, são alimentados pelos humanos, o que pode ajudar a explicar como os gêmeos sobreviveram, diz Aru Toyoda, primatologista da Universidade de Chubu e principal autor do artigo.

Quando os macacos têm gêmeos, a mãe normalmente abandona um deles por ser muito difícil cuidar de ambos, diz Lori Sheeran, primatologista e professora de antropologia na Central Washington University, que não participou do artigo.

"Não se trata de uma economia de escala na qual um a mais não seria um problema - os filhotes primatas exigem uma quantidade enorme de energia, é possível que se tenha mais do que o dobro da carga de trabalho", diz Sheeran.

A mãe dos gêmeos carrega um filhote nos braços enquanto o outro se equilibra em suas costas.
Foto de Aru Toyoda

Os macacos-urso vivem em grupos mistos de machos e fêmeas e, ao passo que os machos ocasionalmente brincam com os filhotes, a maior parte dos cuidados fica a cargo das mães.

Nascimentos únicos fazem parte de um padrão evolucionário que consiste em ter menos filhos por vez para que cada um receba mais energia. "Temos um interesse enorme em casos nos quais o padrão é quebrado", diz Sheeran. "É como se as fêmeas tivessem que enfrentar um problema ao ter que cuidar de mais de um filhote por vez".

Sheeran estudou uma fêmea de macaco-tibetano (Macaca thibetana) que teve gêmeos. Ela precisou realizar algumas adaptações, como se movimentar menos e buscar alimentos com alto valor energético para as suas crias.

Diferentemente de seus parentes de pelagem marrom escura, filhotes de macacos-urso (Macaca arctoides) possuem face e pelos claros, o que lhes dá destaque em meio aos tons escuros e esverdeados da floresta. Há quase 400 macacos nesta população da Tailândia, e Toyoda passou 21 meses estudando esses animais. Durante esse período, testemunhou 114 nascimentos e apenas um par de gêmeos.

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    Macacos-urso fêmeas e suas crias normalmente se reúnem em pequenos grupos. A mãe dos gêmeos, TNG-F19, está ao centro, com os dois filhotes em seu colo.
    Foto de Aru Toyoda

    Nos grupos mistos de machos e fêmeas onde vivem esses macacos, as fêmeas acasalam com diversos machos durante o período de ovulação. No raro evento de a fêmea possuir dois óvulos férteis, como nesse caso, eles poderiam ser facilmente fecundados por machos diferentes, diz Toyoda, que contou com o apoio da Bolsa de Jovem Cientista Explorador da National Geographic Society.

    Essa população de macacos-urso possui uma taxa mais elevada de mamilos extras. É um fato interessante, pois conforme relatado em um outro raro caso de gêmeos, os animais também tinham mamilos extras, diz Jim Moore, antropologista da University of California San Diego.

    Moore publicou um artigo sobre uma população de macacos de Taiwan (Macaca cyclopis) com mamilos extras, na qual nasceram gêmeos. "Se uma terceira população for descoberta, então teremos um padrão". Até lá, diz ele, trata-se apenas de uma interessante descoberta, e mamilos extras parecem não estar relacionados à ocorrência de gêmeos no caso do presente artigo.

    Toyoda precisou deixar o local de pesquisa quando os gêmeos tinham cinco meses de idade. Quando voltou no ano seguinte, a mãe tinha outro filhote. Ele acredita que os gêmeos cresceram e se tornaram jovens adultos no grupo, mas não conseguiu ter certeza.

    "O aspecto mais interessante a se considerar é como a mãe se adapta às necessidades da prole", diz Sheeran, aumentando sua atividade para compensar o esforço extra - o que de certa forma lembra o que acontece com os membros de nossa própria espécie. "Não sei se isso [se aplica perfeitamente] aos humanos, mas aposto que mães de gêmeos talvez descreveriam a situação dessa forma".

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