O leão Cecil morreu em meio a controvérsias - Veja o que aconteceu desde então

A morte de Cecil desencadeou o que se chamou de a maior reação global à história de um animal selvagem.

Por Jani Actman
Publicado 19 de out. de 2018, 11:39 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
Cecil estava sendo estudado por cientistas da Universidade de Oxford e usava um colar de GPS ...
Cecil estava sendo estudado por cientistas da Universidade de Oxford e usava um colar de GPS quando foi morto.
Foto de Brent Stapelkamp

Há alguns anos, o leão Cecil foi morto por Walter Palmer, provocando alarde em todo o mundo e uma condenação maior das caçadas por troféus, que visam cabeças, peles e outras partes do corpo de animais selvagens. Oito países africanos permitem a exportação consistente de partes de leões, incluindo Moçambique, Zimbábue, Namíbia e Tanzânia, país que possui quase metade dos leões selvagens do continente.

A população de leões foi gravemente reduzida na natureza, tendo, há um século, cerca de 200 mil indivíduos em todo o continente e hoje, aproximadamente 20 mil. Em relação às taxas cobradas pelas caçadas, os caçadores de troféus defendem e alguns conservacionistas contestam que as taxas apoiam os trabalhos de conservação dos grandes felinos, cujas principais ameaças são a perda de habitat, a escassez de presas e o maior conflito com os humanos.

Dizem que Palmer, um dentista de Minnesota, pagou U$ 54 mil para caçar Cecil a flechadas, um magnífico leão de juba preta, de 13 anos de idade, que vivia no Parque Nacional Hwange no Zimbábue e era famoso entre os visitantes. Em 1º de julho de 2015, ele acertou Cecil com uma flecha em uma fazenda fora do parque, um local que o leão frequentemente explorava. A equipe seguiu o famoso felino e atirou nele novamente, 11 horas depois.

A notícia da morte de Cecil se espalhou instantaneamente. Palmer passou a ser desprezado internacionalmente e milhares de pessoas utilizaram as redes sociais para protestar contra a morte de Cecil e contra a caça por troféus em geral. O apresentador de talk show Jimmy Kimmel até mesmo chorou. Ele pediu a seus espectadores que fizessem doações à Unidade de Pesquisa para Conservação da Vida Selvagem de Oxford (Wildcru), o grupo de pesquisa que havia instalado um colar eletrônico em Cecil e que estava observando o leão. Houve um grande volume de doações.

"Talvez essa seja a maior reação global já existente à história de um animal selvagem", diz David Macdonald, diretor da Wildcru, que analisou a cobertura da mídia. "Acredito que todas essas pessoas estão demonstrando interesse não apenas nos leões, mas na conservação de forma mais ampla".

Veja o que mais aconteceu desde a morte de Cecil

Alguns países decidiram não mais permitir que caçadores transportassem troféus de caça de leões entre suas fronteiras. A Austrália imediatamente baniu essa prática. A França também. Os Estados Unidos, o maior importador de troféus de caça de leões, incluiu novas proteções para esses animais no âmbito da Lei de Espécies Ameaçadas. Os caçadores não podem trazer seus troféus de volta a menos que o animal tenha vindo de um país que utiliza as taxas cobradas pelas atividades de caça para ajudar na conservação dos leões.

Uma coalizão de 10 países, liderada pela Nigéria, também propôs proteções internacionais mais rigorosas que proibissem o comércio de leões africanos e suas partes. Os 182 países-membros da Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies da Flora e Fauna Selvagens em Perigo de Extinção (CITES), que regulamenta o comércio global de animais silvestres, irá votar sobre a proposta até o fim deste ano.

A respeito das restrições à caça na África, Quênia, Botswana e Zâmbia já possuíam proibições contra a caça por troféus em vigor antes da morte de Cecil. (Zâmbia decidiu retirar suas proibições em 2015). Mas e o país natal de Cecil, o Zimbábue? Em agosto de 2015, o país suspendeu a caça de animais de grande porte... por 10 dias.

Mesmo se um país permite a importação de troféus de caça de leões, levá-los para casa não é tão fácil agora. Mais de 40 companhias aéreas - incluindo a American Airlines, British Airways, JetBlue, Delta e Air Canada - anunciaram ou reafirmaram proibições referentes ao transporte de troféus de caça das cinco grandes espécies: leões, rinocerontes, elefantes, leopardos e búfalos-africanos.

Contudo, uma companhia aérea seguiu a direção contrária: A South African Airways havia implementado uma proibição em abril de 2015, porém, apenas três semanas após a morte de Cecil, a empresa suspendeu sua proibição.

Um relatório do Fundo Internacional para o Bem-Estar Animal apresentou algumas das estatísticas em detalhes: As pessoas pagam de US$ 24 a 71 mil para caçar leões na África (mais do que para qualquer outra espécie de troféu). Cerca de 8,2 mil troféus de leões africanos foram importados entre 2004 e 2014, o sexto maior número entre as espécies internacionalmente protegidas (o urso-negro norte-americano é o primeiro da lista). Ainda, as taxas de comércio de partes de leão aumentaram com mais rapidez do que as taxas de qualquer outra dessas espécies protegidas.

Então, qual é o impacto da caça por troféus? Depende de onde os leões vivem e como a caça é controlada - cientistas recomendam exigências mais rigorosas relativas a cotas menores e permissão para caçar apenas leões mais velhos.

Alguns estudos indicam que a caça por troféus afetou a população de leões em partes do Zimbábue e da Tanzânia (embora esses países tenham decretado reformas desde então), ao passo que a Namíbia é considerada um caso de sucesso pelos cientistas. "O problema da caça esportiva é que ela não é totalmente boa, nem totalmente ruim", diz Craig Packer, diretor do Centro de Pesquisa sobre Leões da Universidade de Minnesota. "Contudo, se você for calcular a média de todo o continente, o lado ruim prevalece sobre o lado bom".

Um relatório do partido Democrático do Comitê de Recursos Naturais da Câmara dos EUA afirma que há poucas evidências que demonstram que as taxas cobradas pelas atividades de caça de troféus ajudam na conservação, principalmente em nações conhecidamente corruptas.

No verão de 2015, foi lançado Blood Lions, um documentário sobre a caça em cativeiro na África do Sul, prática na qual o caçador paga até US$ 50 mil para perseguir e matar um leão criado em cativeiro e mantido em um espaço confinado, tornando-o um alvo fácil.  Existem até 7 mil dessas "fazendas de leões".

Desde que o documentário foi lançado, a associação de caça da África do Sul decidiu, por votação, se distanciar da indústria de caça de leões criados em cativeiro. O principal grupo de pesquisadores e conservacionistas de leões africanos do mundo também aconselhou que as avaliações dos leões selvagens do país não incluíssem esses leões de fazendas.

"É importante ressaltar que as fazendas de leões da África do Sul são uma abominação que nada tem a ver com a conservação de leões", declarou Hans Bauer, pesquisador de leões e principal autor de uma avaliação do ano de 2015 sobre o estado de conservação desses felinos, em uma matéria da National Geographic.

Após algumas semanas, Palmer retornou à sua rotina de dentista em setembro de 2015. As autoridades do Zimbábue relatam que ele possuía toda a documentação necessária para a caça de Cecil. Sendo assim, ele nunca foi acusado de nenhum crime. Quando a notícia da morte do leão ecoou, Palmer disse que não sabia que o animal que ele havia caçado era o querido Cecil.

Contudo, há uma esperança na saga desse felino. Cecil e outro macho, Jericho, chegaram a liderar um grupo de 14 membros, incluindo 8 filhotes. Todos, exceto um, estão vivos e bem cuidados sob a proteção de Jericho, de acordo com Macdonald, da Wildcru.  Cientistas se preocupavam com o fato de que outro macho pudesse assumir o posto de Jericho e matar os filhotes, pois machos novos no grupo normalmente fazem isso para que as fêmeas rapidamente se tornam férteis de novo. Porém, até 30 de junho de 2016, isso ainda não tinha acontecido. "Jericho conseguiu manter a sua posição", conta Macdonald.

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