Antes considerada extinta, maior abelha do mundo é filmada viva na natureza

A abelha-gigante-de-Wallace desapareceu há mais de um século. Agora está de volta e já sendo vendida online por ao menos um colecionador.

Por Douglas Main
Publicado 28 de fev. de 2019, 07:40 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
A abelha-gigante-de-Wallace (Megachile pluto) possui uma envergadura de 6,35 centímetros e grandes mandíbulas, muito semelhantes às ...
A abelha-gigante-de-Wallace (Megachile pluto) possui uma envergadura de 6,35 centímetros e grandes mandíbulas, muito semelhantes às de um besouro da família Lucanidae, que utiliza para remover a resina de árvores para forrar seus ninhos.
Foto de Clay Bolt

A MAIOR ABELHA do mundo também pode ser a mais evasiva do planeta. Descoberta pela primeira vez em 1859 pelo proeminente cientista Alfred Russel Wallace, ninguém nunca mais a encontrou e foi dada como extinta.

Contudo a abelha-gigante-de-Wallace (Megachile pluto) não desapareceu. Em 1981, um entomologista chamado Adam Messer a procurou e encontrou em três ilhas da Indonésia, em um arquipélago chamado Molucas Setentrionais. Ele coletou um exemplar e escreveu sobre sua descoberta em 1984.

Agora, pela primeira vez, ela foi fotografada e filmada viva na natureza por uma equipe integrada, entre outros, por Clay Bolt, fotógrafo de natureza. Além disso, no ano passado, dois espécimes do inseto foram vendidos no eBay por milhares de dólares, gerando temores sobre a continuidade de sua sobrevivência.

A abelha, que cresce até 3,81 centímetros de comprimento e com uma envergadura de 6,35 centímetros, possui mandíbulas grandes que se assemelham muito às de um besouro da família Lucanidae. Ela utiliza as mandíbulas para raspar a resina pegajosa das árvores para construir tocas em ninhos de cupins, onde as fêmeas criam sua prole. Como as demais abelhas, ela se alimenta de néctar e pólen.

Messer escreveu, em 1984, que ela possui uma área de ocorrência limitada e, como essa abelha solitária vive apenas em cupinzeiros suspensos, não é exatamente fácil de encontrar. Foi coletada em 1991 por um pesquisador francês, embora não tenha sido filmada ou fotografada na época.

Em uma expedição em janeiro, Bolt e Eli Wyman, biólogo da Universidade de Princeton, ficaram eufóricos ao encontrar a abelha. Um dos aspectos mais notáveis da abelha, uma fêmea, foi o som das asas batendo: um “zumbido profundo e lento que dava para ouvir e quase sentir a vibração”, afirma Bolt.

Exemplar original de abelha-gigante-de-Wallace, coletado por Alfred Russel Wallace.
Foto de Robert Clark, Nat Geo Image Collection

Wyman conta que quase sentiu o deslocamento do ar quando ela voou. “Foi uma experiência incrível e concreta de um animal que viveu apenas em minha imaginação por anos”, acrescenta.

Muitos ficaram intrigados com o inseto, incluindo Nicolas Vereecken, entomologista e ecologista da Universidade de Bruxelas. Ele estuda a diversidade das abelhas e logicamente ficou interessado em ver a maior do mundo. Há uma década, ele foi atrás do exemplar coletado pelo próprio Wallace, mantido no Museu de História Natural de Oxford.

Isso despertou sua vontade de saber ainda mais. No início do ano passado, no Centro de Biodiversidade Naturalis, nos Países Baixos, ele se deparou com um exemplar coletado em 1991 por Roch Desmier de Chenon, pesquisador francês (muitos na França achavam que estivesse morto, mas, para surpresa e alegria de Vereecken, de Chenon está bem vivo e mora em Melbourne, na Austrália).

Exatamente no mesmo dia, Vereecken descobriu que um colecionador estava vendendo um exemplar de Megachile pluto online, no eBay, que acabou vendido por US$ 9,1 mil. Ainda ao longo de 2018, o mesmo colecionador vendeu outro por alguns milhares de dólares. Ao que tudo indica, a abelha ainda está disponível.

Vereecken ficou alarmado com a venda online do inseto — e é possível que mais transações comerciais estejam ocorrendo em canais menos visíveis. Ele descreveu as vendas em um estudo publicado em dezembro no periódico Journal of Insect Conservation.

Atualmente, é lícito vender essa espécie ao exterior, pois o animal não está sob proteção da Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies em Risco de Extinção, que regulamenta o comércio internacional de espécies ameaçadas de extinção. A abelha-gigante-de-Wallace é considerada atualmente apenas “vulnerável” pela União Internacional para a Conservação da Natureza, que define o status de conservação de animais ao redor do mundo. Vereecken e outros colegas acham que ela deveria ser classificada no mínimo como ameaçada, em razão de sua raridade e de sua área de ocorrência quase certamente menor do que o que se pensava originalmente. Vereecken está pressionando para uma mudança de status, embora sejam necessários mais estudos para isso.

A abelha-gigante-de-Wallace também é ameaçada pelo desmatamento e pela perda de habitat. O relato da descoberta veio logo após a publicação de um estudo mundial demonstrando que espécies de insetos estão em declínio em todo o mundo.

Bolt viajou para a Indonésia com Wyman, o biólogo australiano Simon Robson e o escritor Glen Chilton em janeiro. Após cinco dias de buscas infrutíferas por cupinzeiros em árvores durante a estação chuvosa, a equipe começou a ficar desanimada. Estavam prestes a encerrar o dia, conta Bolt, quando verificaram um último ninho, que continha um orifício de resina em seu interior.

Após vários membros da equipe escalarem a árvore para observar, ficou evidente que havia uma abelha no orifício. Eles puseram um tubo de coleta na saída e uma fêmea de abelha-gigante-de-Wallace de tamanho normal rastejou para fora.

“Gritamos, urramos e nos abraçamos”, conta Robson. Após fotografá-la e filmá-la, eles a soltaram e ela retornou ao ninho. Ao contrário de algumas de suas primas, a abelha parecia “bem calma” e nada agressiva, acrescenta Bolt.

Roch Desmier de Chenon, atualmente com 80 anos, trabalhava para o Instituto Indonésio de Pesquisa de Óleo de Palma em 1991, quando decidiu procurar a abelha-gigante-de-Wallace na ilha de Halmahera. Alguns moradores familiarizados com a abelha o guiaram até uma determinada árvore onde os insetos extraíam a seiva. Ele afirma que, no decorrer de sua pesquisa, viu aproximadamente de 20 a 30 das gigantes, embora tenha coletado apenas uma.

"Fiquei muito feliz por encontrá-la porque sabia que era uma grande descoberta", afirma de Chenon, mas não publicou seu estudo, em parte porque temia que colecionadores utilizassem as informações para fins nefastos. Agora ele lamenta não ter publicado seu achado.

De fato, por um lado, publicar a descoberta do inseto poderia parecer um risco, considerando que foi vendido online, afirma Robin Moore, da Conservação da Vida Silvestre Global, que ajudou a organizar a expedição. Entretanto, na realidade, colecionadores inescrupulosos já sabem de sua existência.

Assim, a divulgação de sua descoberta e raridade poderia ajudar o governo local e vários interessados a promover sua proteção.

“Se não fizermos nada, ela poderá simplesmente ser coletada e jamais ser conhecida”, afirma Bolt.

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