Em segredo, esquilos-voadores podem emitir um brilho cor-de-rosa — veja imagens

Pardos durante o dia, as três espécies de esquilos-voadores da América do Norte são fluorescentes. Mas por quê?

Por Jake Buehler
Publicado 4 de fev. de 2019, 20:40 BRST, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
Um esquilo-voador do norte (Glaucomys sabrinus) macho, de três meses de idade. Essa espécie e seus ...
Um esquilo-voador do norte (Glaucomys sabrinus) macho, de três meses de idade. Essa espécie e seus dois primos das Américas emitem brilho rosa sob luz ultravioleta.
Foto de Joël Sartore, National Geographic Photo Ark

Esquilos-voadores já eram excepcionais em relação aos outros roedores. Dotados de uma aba de pele entre seus membros, eles podem planar longas distâncias entre as árvores que habitam. Mas uma nova pesquisa sugere que alguns desses animais escondem um fantástico segredo — sua pelagem emite um brilho rosa-chiclete sob luz ultravioleta.

Isso faz desses esquilos um dos poucos mamíferos que sabemos serem capaz de emitir fluorescência, que é a capacidade de absorver luz em uma cor, ou comprimento de onda, e emiti-la em outra. A descoberta levanta perguntas instigantes sobre a função dessa capacidade de brilhar e sugere que a característica seja mais comum entre mamíferos do que se pensava anteriormente.

A descoberta ocorreu totalmente por acidente, diz Paula Spaeth Anich, bióloga da Northland College e autora sênior do novo estudo, publicado na revista científica Journal of Mammalogy.

Pele do esquilo-voador do sul (Glaucomys volans) sob luz visível e luz ultravioleta (direita), demonstrando fluorescência rosa brilhante sob condições UV.
Foto de Jonathan Martin

Anich diz que Jon Martin — professor de silvicultura e coautor do artigo — estava explorando uma floresta de Wisconsin durante a noite usando uma lanterna de luz ultravioleta para analisar as copas das árvores em busca de liquens, fungos, plantas e sapos que ocasionalmente emitem fluorescência.

“Uma noite,” diz Anich, “ele ouviu o chilrear de um esquilo-voador em um alimentador de pássaros, apontou sua lanterna para ele e ficou surpreso em ver fluorescência rosa.”

Esquilos brilhantes

Martin contou à Anich — que estuda roedores — sobre o encontro. “Tenho que admitir que essa descoberta me deixou um pouco confusa,” diz Anich. “Tentei colocar em um contexto que pudesse compreender. Seria devido à dieta? Seria um fenômeno local?”.

Para verificar se essa característica era comum, os pesquisadores foram ao Museu de Ciência de Minnesota e ao Museu Field em Chicago para examinar as peles de esquilos-voadores. Os esquilos-voadores da América do Norte (Glaucomys) consistem em três espécies que habitam florestas, do noroeste até o Canadá e do leste dos Estados Unidos até a América Central. A equipe tirou fotos sob luz visível e luz ultravioleta, fizeram comparações com esquilos não voadores e mediram a intensidade da fluorescência.

Enquanto os esquilos não voadores não emitiram brilho, todos, exceto um entre os voadores, emitiam fluorescência cor-de-rosa semelhante. Isso ocorreu independentemente do sexo ou da localização do animal.

“A fluorescência estava presente nos Glaucomys do século 19 ao 21, da Guatemala ao Canadá, em machos e fêmeas, e nos espécimes coletados em todas as estações,” diz Anich.

Embora outros animais emitam fluorescência—bicos de papagaios-do-mar e ossos de camaleão emitem um estranho brilho azul sob luz ultravioleta, por exemplo—os únicos outros mamíferos conhecidos por terem pelagem fluorescente são cerca de duas dezenas de espécies de gambás. Esses marsupiais, espalhados pelas Américas, não têm parentesco próximo com os esquilos, vivem em ecossistemas diferentes e seguem uma dieta distinta.

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    Um esquilo-voador (Glaucomys) fotografado na natureza sob luz ultravioleta. A pelagem do esquilo-voador fluoresce de forma mais intensa na parte inferior e na cauda do animal.
    Foto de Jonathan Martin

    Mas os esquilos-voadores compartilham uma coisa com os gambás: são ativos à noite e durante as horas do crepúsculo, ao passo que outros esquilos têm hábitos principalmente diurnos.

    Condições de pouca luz são relativamente ricas em luz ultravioleta e a visão ultravioleta geralmente é considerada importante para os animais noturnos. Por esse motivo, Anich acredita que o brilho rosa tenha algo a ver com a percepção e comunicação noturnas.

    A cor rosa também pode ajudar os esquilos-voadores a percorrerem ambientes frios e de neve, que as três espécies encontram em partes ou em toda a extensão de seu habitat.

    “A característica pode ser mais visível ou perceptível em condições de neve em razão da alta taxa de reflectância ultravioleta da neve,” diz Anich. “Se essa característica estiver envolvida na comunicação animal, a neve pode dar um ‘reforço’ a ela”.

    Sinal, ruído

    Mas o que a fluorescência pode estar dizendo? Corinne Diggins—bióloga de vida selvagem do Instituto Politécnico e Universidade Estadual da Virgínia que não participou do estudo—se pergunta se é uma forma de os esquilos sinalizarem saúde e vivacidade para parceiros em potencial.

    “Talvez uma barriga rosa fluorescente brilhante em um esquilo-voador macho faça uma fêmea se derreter toda,” diz Diggins.

    No entanto, Anich não acha que isso seja tão provável, já que não há pico sazonal na fluorescência nem diferença entre machos e fêmeas. Por enquanto, o mecanismo que causa a fluorescência na pelagem é desconhecido.

    Anich e sua equipe propõem outros possíveis usos para o brilho rosa: camuflagem ou mimetismo. Muitos liquens que revestem as árvores também emitem fluorescência, e a pelagem rosa dos esquilos pode ser uma forma de se misturar ao ambiente. De forma alternativa, algumas corujas emitem fluorescência rosa brilhante de suas partes inferiores, então os esquilos podem estar imitando essa coloração.

    Jim Kenagy, curador de mamíferos do Museu Burke da Universidade de Washington que não participou do estudo, está curioso para ver se a fluorescência é encontrada em espécies de esquilos-voadores de outras partes do mundo.

    “É surpreendente que não tenham testado outras espécies representativas do restante da subfamília de esquilos-voadores,” diz Kenagy.

    A descoberta, mais do que qualquer coisa, revela o quanto não sabemos.

    “[Essa pesquisa] destaca o quanto ainda temos que aprender sobre a forma como os esquilos-voadores interagem entre si e com seu ambiente,” diz Diggins.

    Entender como os esquilos-voadores enxergam seu mundo—e como esse mundo os enxerga—é essencial para estimarmos suas necessidades de habitat, o que está intimamente interligado a sua conservação contínua. A descoberta também apresenta a possibilidade de que muitos outros mamíferos possuam pelagem específica sob luz ultravioleta, completamente desconhecida para nós.

    “Fica a lição de que, a partir do nosso ponto de vista de primatas diurnos, podemos estar deixando passar diversos aspectos de comunicação e percepção animal que acontecem durante o crepúsculo e o período da noite,” diz Anich.

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