Com medida do governo chinês, pangolins ganham novo fio de esperança

O mamífero mais contrabandeado do mundo foi retirado da lista de medicamentos aprovados da medicina tradicional chinesa, mudança surpreendente que pode salvá-lo da extinção.

Por Dina Fine Maron
Publicado 12 de jun. de 2020, 08:00 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 01:56 BRT
Este pangolim da espécie Smutsia temminckii foi resgatado de caçadores ilegais em Moçambique e devolvido à ...

Este pangolim da espécie Smutsia temminckii foi resgatado de caçadores ilegais em Moçambique e devolvido à natureza. Conservacionistas esperam que novas proteções na China e a retirada das escamas de pangolins da lista de medicamentos aprovados da medicina tradicional chinesa contribuam para retardar o declínio das oito espécies do animal – todas ameaçadas de extinção.

Foto de Jen Guyton, Nature Picture Library

A China proporcionou um alívio ao mamífero não humano mais contrabandeado do mundo: o pangolim. A lista de medicamentos aprovados da medicina tradicional chinesa de 2020 no país não inclui escamas de pangolim, presentes no documento há décadas. As escamas são vendidas há muito tempo em farmácias tradicionais na China como ingrediente em medicamentos legalmente permitidos para tratar de tudo, desde problemas de lactação até artrite.

O uso medicinal das escamas levou as espécies de pangolins do mundo – quatro na Ásia e quatro na África – à beira da extinção. Dezenas de milhares desses animais – que parecem tamanduás, mas com escamas – são mortos anualmente por causa de sua carne – considerada uma iguaria de luxo na China e no Vietnã –, além de suas escamas, discos curvos compostos de queratina, a mesma substância presente em unhas humanas.

“É a melhor medida isolada que poderia ser tomada para salvar os pangolins”, afirma Peter Knights, presidente da WildAid, organização sem fins lucrativos que busca reduzir a demanda por produtos derivados de animais silvestres. “A medida envia uma clara mensagem de que existem alternativas na medicina tradicional chinesa e, portanto, não é necessário o uso dos pangolins”, conta ele.

A revelação de que as escamas não são mais um medicamento aprovado chega dias após a China anunciar que atualizaria a situação dos pangolins segundo a lei de proteção de animais silvestres do país. Os pangolins agora são considerados Classe 1 – mesmo status conferido ao panda, tão amado pela nação –, que proíbe nacionalmente quase todo o comércio e usos dos animais.

A China não divulgou oficialmente sua farmacopeia de 2020, tampouco emitiu uma justificativa sobre a retirada dos pangolins da lista – a notícia foi divulgada pela primeira vez no jornal China Health Times.

“É comum a China permitir a publicação na imprensa de um anúncio dessa natureza, em vez de emitir um anúncio oficial”, afirma Paul Thomson, diretor executivo e cofundador do grupo Save Pangolins, com sede em São Francisco. Ele afirma que está “cautelosamente otimista” com as notícias inesperadas.

As autoridades chinesas não responderam aos pedidos de comentários da National Geographic até a publicação desta reportagem.

Ainda não é certo o que a China fará com seus estoques de escamas de pangolins. No passado, as empresas podiam utilizar os estoques mesmo após a proibição dos produtos, criando ambiguidade suficiente para que algum comércio nacional ainda persistir. Por exemplo, um regulamento de 2006 permitia que as empresas vendessem o estoque existente de ossos de leopardo, sem revelar a quantidade, afirma Chris Hamley, especialista em pangolins da ONG Environment Investigation Agency, com sede em Londres.

O comércio internacional de pangolins ou de suas escamas foi banido em 2017 pela Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies da Fauna e Flora Silvestres Ameaçadas de Extinção, tratado global que regulamenta o comércio internacional de plantas e animais silvestres.

Qualquer anúncio formal do governo da China sobre o uso de estoques de pangolins ou a retirada das escamas de pangolins da farmacopeia do país provavelmente demorará a ser publicado devido a uma nova controvérsia sobre o animal. Há rumores de ligações – embora não comprovadas – entre os pangolins vendidos no mercado de produtos perecíveis, em Wuhan, e a propagação original do novo coronavírus Sars-CoV-2 a humanos, afirma Thomson.

A maioria das evidências sugere que morcegos são o reservatório mais provável do vírus. Foi ainda encontrado outro vírus com parentesco bastante próximo em morcegos-de-ferradura. Contudo, ainda não se sabe se uma espécie intermediária – talvez pangolins – poderia ter contraído o vírus de morcegos e transmitido aos humanos (Saiba mais sobre o papel que os animais podem desempenhar na propagação do coronavírus).

Lixin Huang, vice-presidente de operações e projetos da China no Instituto de Estudos Integrais da Califórnia, com sede em São Francisco, afirma que, embora não tenha visto a farmacopeia de 2020, está feliz em ouvir a notícia. Ela atribui o crédito às iniciativas das organizações de conservação de animais silvestres para salvar pangolins e agora também à pressão internacional relacionada ao coronavírus. “O coronavírus foi outro importante fator que desencadeou a mudança”, afirma ela.

Após a propagação da pandemia de coronavírus no início de 2020, a China proibiu o consumo de animais silvestres e reduziu a lista de animais que considera domésticos e, portanto, consumíveis. O uso de alguns animais silvestres na medicina tradicional chinesa, no entanto, ainda é permitido.

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