Bocejos são contagiantes para muitos mamíferos — e agora talvez saibamos o motivo

Um estudo recente sobre leões selvagens africanos sugere que bocejos contagiantes podem trazer benefícios para animais que vivem em sociedades colaborativas.

Por Mary Bates
Publicado 9 de abr. de 2021, 12:30 BRT
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O cão Shakeera relaxando em Viena, Áustria. Alguns cães imitam o bocejo dos seus donos.

Foto de Regina Anzenberger, Blanche de Beaupoint, Redux

Aviso: há risco de você bocejar ao ler este artigo.

Embora o bocejo seja um comportamento instantaneamente reconhecível e compartilhado entre a maioria dos animais vertebrados, os cientistas ainda não têm muitas informações sobre esse fenômeno aparentemente simples.

Bocejos podem acontecer de forma espontânea ou podem ser contagiosos, como acontece quando vemos ou ouvimos alguém bocejar. A maioria das pesquisas sobre bocejos espontâneos sugere que eles têm uma função fisiológica: aumentar o fluxo sanguíneo na cabeça, oxigenando e resfriando o cérebro. Isso, de fato, faz um animal ficar mais alerta, especialmente se ele estiver sonolento.

Porém, um dos maiores mistérios é o motivo pelo qual os mamíferos bocejam em resposta ao bocejo do outro.

As pesquisas em humanos mostraram que o bocejo contagioso pode ser uma forma de empatia entre pessoas experienciando um sentimento, que — no caso do bocejo — geralmente é estresse, ansiedade, tédio ou fadiga. Cientistas estudaram o bocejo contagioso em chimpanzésloboscachorros de estimaçãoovelhaselefantes— mas nunca tinham estudado em leões.

Em um novo estudo, pesquisadores analisaram o bocejo contagioso em leões selvagens na África do Sul. Após serem “infectados” pelo bocejo dos outros, esses leões exibiram uma tendência de coordenar os movimentos.

“Os dados mostraram uma cena muito clara: após bocejarem juntos, dois leões apresentam um comportamento altamente sincronizado”, conta a principal autora do estudo, Elisabetta Palagi, etologista da Universidade de Pisa, na Itália.

Isso significa que o bocejo contagioso pode ter uma importância especial em espécies sociais, como os leões, que precisam estar em grupo para caçar, criar os filhotes e defender-se de intrusos, explica Palagi, cujo estudo foi publicado na edição de abril da revista científica Animal Behaviour.

Comportamento contagiante

Durante cinco meses, Palagi e seus colegas filmaram 19 leões em duas alcateias que viviam na Reserva Makalali.

Os resultados mostraram que a probabilidade de um leão bocejar depois de ter visto outro membro da alcateia bocejando era 139 vezes mais alta que se ele não tivesse visto.

Os pesquisadores observaram que o bocejo espontâneo era mais frequente em leões que estavam relaxados e em transição entre o sono e o despertar, ou vice-versa. Esse fato sustenta a hipótese de que em leões, assim como em humanos, o bocejo aumenta o fluxo sanguíneo e o resfriamento cerebral — e, provavelmente, a atenção.

Uma das descobertas mais interessantes foi que um leão, após imitar o bocejo de outro leão próximo, imitaria também seu comportamento, conta Palagi.  Por exemplo, se dois leões estivessem deitados, um deles bocejasse e o outro bocejasse em resposta, se o primeiro leão se levantasse, o outro também se levantaria.

A pesquisa sustenta a teoria de que o bocejo contagioso pode ter evoluído para estimular a vigilância do grupo entre animais que vivem de forma colaborativa, como os lobos e chipanzés, explica Andrew Gallup, diretor do Laboratório de Cognição e Comportamento Adaptável do Instituto Politécnico SUNY, em Utica, estado de Nova Iorque.

Sendo assim, o bocejo contagioso poderia “ser vantajoso para a consciência coletiva e a detecção de ameaças”, relata Gallup, que não participou desse estudo.

Ele também concorda com Palagi no que diz respeito ao fato de os leões terem os mesmos impactos fisiológicos benéficos ao cérebro que os humanos.

Bocejo empático

Mesmo com as novas descobertas, Palagi é o primeiro a admitir que ainda há muito o que descobrir sobre a causa do bocejo nos animais. Por exemplo, não foi observado se os bocejos contagiosos levaram a um aumento do êxito das caçadas ou outros resultados favoráveis.

O bocejo contagioso pode ter muitas funções, algumas ainda desconhecidas, em um grupo colaborativo de animais; por exemplo, babuínos-gelada têm três tipos distintos de bocejos que transmitem mensagens diferentes, como cordialidade ou agressão, diz Palagi.

O papel da empatia no bocejo contagioso talvez seja a área mais discutida nas pesquisas, ela relata. Muitos teorizam que o bocejo contagioso cria uma conexão emocional entre os animais, mas não há evidências suficientes para essa ligação.

Cientistas pesquisaram a conexão entre empatia e bocejos em apenas algumas espécies, incluindo humanos, cachorros de estimação, lobos e alguns primatas. Em um estudo publicado em 2013, cachorros de estimação bocejavam mais em resposta aos bocejos dos seus donos em comparação ao bocejo de estranhos.

Os resultados desse estudo — o primeiro que demonstrou o bocejo contagioso entre espécies — pode ser um indicativo de que os cachorros têm uma conexão emocional com seus donos, segundo os autores.

Embora o estudo de Palagi sobre os leões não tenha analisado diretamente se ou como o bocejo contagioso está relacionado à empatia, ela diz que isso representa um fator importante na pesquisa ao conectar familiaridade e propensão de imitar bocejos.

“Se você bocejar e eu responder ao seu bocejo, e imediatamente depois disso nós dois apresentarmos o mesmo comportamento, isso pode melhorar nossa habilidade de interpretar o comportamento um do outro”, ela conclui.

“Nesse sentido, o bocejo contagioso pode ser importante no desenvolvimento de formas mais elevadas de socialização”.

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