Retratos de formigas revelam a diversidade e o charme desses insetos

O fotógrafo Eduard Florin Niga produziu uma série de fotos de cabeças de formigas. As imagens mostram um mundo completamente novo.

Essa formiga da espécie Gigantiops destructor vive na América do Sul e seus olhos são os maiores, em relação ao tamanho da cabeça, de todas as espécies conhecidas.

Foto de Eduard Florin Niga
Por Douglas Main
Publicado 27 de mai. de 2021, 06:00 BRT, Atualizado 27 de mai. de 2021, 14:40 BRT

A formiga-prateada-do-saara consegue cruzar as areias quentes do norte da África em velocidades estonteantes, ultrapassando a marca de um metro por segundo. Em relação ao tamanho corporal, seria como se um humano percorresse mais de dois campos de futebol inteiros em um piscar de olhos.

A formigas da espécie Cephalotes atratus às vezes são consideradas como “o Darth Vader do mundo das formigas”. Com uma cabeça grande e achatada, e corpo elegante, essa espécie de formiga desliza por entre as copas das árvores das florestas da América do Sul. E há também a formiga-cortadeira: algumas das formigas dessa espécie têm seus exoesqueletos revestidos por substâncias minerais e cultivam fungos no subsolo com pedaços de plantas mastigadas. Ou seja, elas desenvolveram a agricultura milhões de anos antes mesmo da existência dos humanos.

Eduard Florin Niga fotografou recentemente essas e muitas outras espécies para seu novo livro intitulado Ants: Workers of the World (Formigas: Trabalhadores do Mundo, em tradução livre), publicado em 18 de maio. Niga afirma que o objetivo de sua publicação e de seu trabalho em geral é mostrar a todos o fascinante universo microscópico que existe ao nosso redor, mas impossível de se enxergar sem equipamentos especiais.

A espécie Diacamma rugosum, nativa de Bornéu, é uma das únicas espécies de formigas que não possui uma casta de formiga-rainha. Em vez disso, as operárias travam longas disputas para determinar quem terá permissão para botar ovos.

Foto de Eduard Florin Niga

A formiga-prateada-do-saara é uma das formigas mais rápidas do mundo; ela consegue movimentar seu pequeno corpo em uma velocidade de quase um metro por segundo.

Foto de Eduard Florin Niga

“O que me atraiu inicialmente foi ver esse micromundo ganhando vida bem na minha frente”, relata o fotógrafo. E ao observar as formigas por um tempo, ele constatou “como suas sociedades são fenomenais — muito mais sofisticadas e interessantes do que a nossa.”

Essas fotos das cabeças das formigas são esclarecedoras até mesmo para alguns entomólogos, que agora podem ver seus objetos de estudo com mais detalhes do que nunca.

“As fotos de Eduard mostraram um mundo completamente novo para mim”, afirma Roger Strotmann, pesquisador independente de formigas e colaborador do trabalho de Niga. “Existem diversos detalhes morfológicos que eu nunca teria descoberto sem o trabalho de Niga.”

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    Polyrhachis medusa da Tanzânia. Os conhecimentos científicos são bastante limitados sobre essa espécie.

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    Uma luminosa Camponotus aeneopilosus do México.

    Foto de Eduard Florin Niga

    A Gnamptogenys bicolor, encontrada na China e em países vizinhos, tem marcas brilhantes em sua cabeça que podem ajudar em sua camuflagem.

    Foto de Eduard Florin Niga

    Essa é a Atta cephalotes, uma formiga-cortadeira que cultiva fungos em câmaras subterrâneas.

    Foto de Eduard Florin Niga

    Onde estão os olhos? 

    Embora Niga já tivesse interesse por insetos quando criança, na zona rural da Romênia, faz apenas há alguns anos que seu interesse por esses seres reacendeu. Tudo começou quando sua filha viu uma formiga em um parque de Londres e perguntou: “Onde estão os olhos dela?”

    Niga não sabia o que responder. Então ele reativou suas habilidades fotográficas adquiridas como policial na Romênia, em que documentava cenas de crimes. (Hoje ele mora em Londres e é professor de inglês e matemática).

    Agora Niga pode responder com segurança à pergunta de sua filha: aqui estão os olhos da formiga. Algumas espécies, como as formigas-correição, possuem a visão bastante limitada. Com isso, ela se orienta através de odores e de seu tato. Mas outras, como a Gigantiops destructor, têm olhos enormes que cobrem grande parte de suas cabeças, o que provavelmente ajuda essas formigas-saltadoras a atravessar a floresta amazônica na busca por néctar e pequenos artrópodes. Por outro lado, as formigas prateadas do Saara têm três olhos no centro da testa que funcionam como detectores de luz.

    A formiga-cabo-verde (Paraponera clavata), nativa da América Latina, tem uma das picadas mais dolorosas entre todos os insetos.

    Foto de Eduard Florin Niga

    Outro membro do gênero Camponotus, grupo extremamente grande e complexo de formigas que podem ser encontradas pelo mundo inteiro e é composto por mais de mil espécies.

    Foto de Eduard Florin Niga

    Uma Pogonomyrmex maricopa. A espécie é bastante abundante no Arizona e em estados vizinhos. O veneno dessas formigas é extremamente potente: pode causar dores intensas e chega a ser mais forte do que o veneno de algumas espécies de abelhas.

    Foto de Eduard Florin Niga

    Uma formiga operária da espécie Polyrhachis beccarii, nativa do sudeste asiático, coberta por seus pelos dourados.

    Foto de Eduard Florin Niga

    Fotografando

    Para chegar a esse close extremo, Niga construiu um equipamento em sua casa, em Londres, que fotografa a cabeça das formigas em partes. Para modelar a imagem de uma cabeça às vezes é necessário tirar mais de mil fotos, utilizando ampliações de até 20 vezes. As formigas geralmente estão mortas quando fotografadas, embora Niga às vezes reidrate os espécimes secos antes da sessão de fotos para dar aos insetos um aspecto mais parecido com quando estavam vivos. O fotógrafo recebe seus espécimes de dezenas de colaboradores de todo o mundo, geralmente pelo correio.

    Depois de tirar todas as fotos, Niga as reúne em um software de edição. Segundo ele, o resultado costuma ser surpreendente. Por exemplo: ele achava que as formigas do gênero Polyrhachis não eram tão encantadoras, até observar na imagem ampliada que as formigas eram cobertas por pelos dourados e cintilantes.

    Eleanor Spicer Rice, pesquisadora independente de formigas que escreveu o texto do livro de Niga, ficou surpresa ao ver que diversas formigas são cintilantes, com exoesqueletos metálicos e brilhantes. Os cientistas acreditam que essa coloração pode fazer as formigas se assemelharem a um galho coberto de orvalho, o que ajuda a evitar que sejam percebidas por predadores.

    A cabeça larga e achatada das Cephalotes a ajuda a planar entre as copas das árvores nas florestas tropicais da América do Sul.

    Foto de Eduard Florin Niga

    Trabalhar no livro permitiu que Spicer Rice se lembrasse do que despertou seu amor por formigas ao longo da vida: “existem tantos tipos diferentes... e elas são tão peculiares e bonitas, e estão ao nosso redor”.

    E não precisamos ir muito longe para apreciá-las, diz Eleanor, que vive em Raleigh, na Carolina do Norte. Existem pelo menos 15 mil espécies de formigas em todo o mundo, e há uma boa probabilidade de existirem espécies interessantes no nosso próprio quintal – ou até mesmo na calçada.

    Em toda a costa leste dos Estados Unidos, por exemplo, vive uma espécie chamada formiga-escravagista. Ela rouba pupas de outras espécies e as cria como se fossem suas. Dessa forma, elas conseguem trabalhadores sem gastar energia para desenvolvê-los, afirma Spicer Rice. Há também as formigas da espécie Tetramorium immigrans conhecidas como “formigas do asfalto”, pois vivem dentro e debaixo do concreto em áreas urbanas em todo o mundo. Elas travam batalhas espetaculares na primavera.

    “As pessoas geralmente só pensam nas espécies que as incomodam, mas há diversas espécies pelo mundo, e todas elas fazem coisas incríveis”, diz Rice.

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