Este leão de três patas é um símbolo de esperança
Jacob, um leão escalador de árvores de Uganda, sobreviveu a diferentes armadilhas e a uma tentativa de envenenamento — e ainda está em risco devido ao aumento da caça ilegal.
Jacob descansa nos galhos de uma grande figueira no Parque Nacional Rainha Elizabeth, em Uganda, onde os leões sobem em árvores habitualmente. Na fotografia, tirada em 2018, Jacob ainda não tinha perdido a pata, mas ainda hoje consegue subir em árvores.
Os felinos podem não ter sete vidas, mas Jacob, o leão, parece ter. Ele já sobreviveu a quatro tragédias que poderiam ter matado um leão menor: diferentes armadilhas, envenenamento e chifradas de búfalo.
Mais recentemente, o leão-africano de seis anos de idade, um dos leões escaladores de árvores em Uganda, foi capturado em uma armadilha de roda — semelhante a uma armadilha para ursos — no vizinho Parque Nacional de Virunga, na República Democrática do Congo, por onde seu bando vaga ocasionalmente.
A armadilha cortou sua pata acima do pé em agosto de 2020, e após diversos tratamentos por uma equipe de veterinários da Autoridade de Animais Silvestres de Uganda, o leão aprendeu a se locomover com três membros, até mesmo se juntando ao seu bando em caçadas. Desde então, ele já foi visto acasalando com ao menos uma fêmea, segundo Alex Braczkowski, pesquisador de leões e Explorador da National Geographic que filmou Jacob em seu lar, o Parque Nacional Rainha Elizabeth, em fevereiro.
Uma armadilha causou o primeiro ferimento de Jacob em outubro de 2019. Apesar do corte profundo, a Autoridade de Animais Silvestres de Uganda e ONGs parceiras conseguiram, na época, salvar sua pata devido ao rápido atendimento veterinário.
Braczkowski afirma que sua incrível resiliência é uma inspiração, sobretudo no Dia Mundial do Leão, criado por Dereck e Beverly Joubert, Exploradores Residentes da National Geographic em 2013.
“Isso demonstra simplesmente que, se esses animais tiverem a mínima chance de continuar, ainda poderão sobreviver, e isso é incrível”, celebra Braczkowski. “É uma proeza heroica.”
Mas a situação de Jacob também destaca algumas das graves ameaças enfrentadas pela espécie, que possui apenas cerca de 20 mil indivíduos na natureza e está listada como vulnerável à extinção pela União Internacional para a Conservação da Natureza. Caçadores ilegais em toda a África estão cada vez mais atrás de leões para retirada de suas estruturas corporais, como dentes, garras e ossos, utilizados no sudeste da Ásia (e em algumas comunidades africanas) como remédio ou símbolo de status, afirma Paul Funston, diretor do programa de leões da Panthera, organização global de conservação de felinos selvagens.
Seis leões do bando de Jacob foram envenenados em março de 2020 por caçadores ilegais, embora ele tenha escapado ileso. Algumas semanas depois, Jacob foi chifrado por um animal (um búfalo-africano ou um javali) que deixou feridas profundas em seu peito. E, em 2019, Jacob foi resgatado após ser pego por uma armadilha de caçadores.
“É fundamental que esse comércio seja interrompido, pois há um risco real de levar muitas populações de leões já fortemente exauridas à extinção local”, reitera Funston.
Mustafa Nsubuga, veterinário da Fundação de Conservação de Uganda, segura a pata de Jacob decepada por uma armadilha de roda em agosto de 2020. Após diversos tratamentos por inúmeros veterinários, como Nsubuga, Eric Enyel, Bazil Alidria e outros, a ferida cicatrizou e hoje Jacob sobrevive com três patas.
Ameaças crescentes
Foi colocada em Jacob uma coleira de rastreamento por rádio, que alerta a Autoridade de Animais Silvestres de Uganda quando ele para de se locomover, um sinal de que pode estar ferido. Quando Jacob perdeu a pata, o órgão liderou uma iniciativa ambiciosa para salvá-lo, incluindo várias etapas de tratamento, recorrendo a especialistas de diversas organizações, como a Uganda Conservation Foundation e a Wildlife Conservation Society.
A despeito da popularidade da região para o turismo, a incidência de armadilhas aumentou nos últimos anos, não apenas para capturar leões, mas também para capturar outros mamíferos para o consumo de sua carne, conta Braczkowski.
Jacob caminha pelo Parque Nacional Rainha Elizabeth no início de fevereiro de 2021. Na época, o ferimento da pata de Jacob já havia cicatrizado, cerca de cinco meses após a lesão. Ele já conseguia acompanhar seu bando e até mesmo ajudar na caça.
Com a redução das populações de presas devido a armadilhas, os leões da região precisam percorrer uma extensão cerca de seis vezes maior do que os leões na Reserva Nacional Masai Mara do Quênia para encontrar alimento, segundo pesquisas, e estão se deslocando muito mais do que há uma década.
No Parque Nacional Rainha Elizabeth e em seu entorno, “a conservação dos leões depende de colaborações essenciais entre a Autoridade de Animais Silvestres de Uganda e ONGs parceiras — e estar no lugar certo na hora certa”, explica Braczkowski.
Os conservacionistas concordam que é preciso fazer mais para combater o comércio ilegal de partes de leões, como mais financiamento para a vigilância dos leões por guardas, organização de patrulhas para retirar armadilhas, maior colaboração para proteger os animais e mais engajamento com a população local.
Os leões possuem uma boa proteção entre 15% e 20% de seu habitat restante, sobretudo em regiões do sul da África e do leste da África, observa Funston.
Mas se a caça ilegal e as armadilhas permanecerem sem controle, acrescenta ele, a espécie “pode deixar de existir em certas regiões de sua área de distribuição nos próximos anos”.