Três satélites de Júpiter serão observados bem de perto pela primeira vez em 20 anos

Em breve, a sonda espacial Juno da Nasa estará próxima de três satélites intrigantes de Júpiter, incluindo um que, segundo os cientistas, pode ser uma das melhores apostas para encontrar vida fora da Terra.

Por Nadia Drake
Publicado 4 de fev. de 2021, 17:00 BRT

Io, satélite vulcânico que completa uma órbita ao redor do planeta Júpiter a cada 42 horas, projeta sua sombra sobre as nuvens de Júpiter nesta foto tirada pela sonda espacial Juno, da Nasa.

Foto de NASA, JPL Cal-tech, SwRI, Msss, Kevin M. Gill

APÓS CINCO ANOS na órbita de Júpiter, a sonda espacial Juno, da Nasa, mergulhará em espiral no centro do sistema de Júpiter.

A jornada de 42 órbitas, com duração de quatro anos, será encerrada com o envio da sonda a um ambiente hostil e brutal — enquanto transmite imagens novas e dramáticas de três satélites de Júpiter. Mas Juno, envolta em uma armadura de titânio que a protege da radiação intensa, está pronta para sua missão. E sua equipe na Terra está ansiosa para acompanhar essa jornada ousada à distância.

“Estou muito animado e emocionado com a elaboração desse plano”, afirmou Scott Bolton, pesquisador principal responsável pela sonda Juno do Instituto de Pesquisa do Sudoeste, organização dos Estados Unidos. “Foi uma ideia inusitada, literalmente iremos alterar a missão de um veículo orbital, cujo enfoque se restringia basicamente a Júpiter, para explorar um sistema completo.”

À medida que Juno prosseguir monitorando o sistema, suas órbitas ao redor de Júpiter se estreitarão, aproximando a sonda cada vez mais do maior planeta do nosso Sistema Solar, trazendo-a para dentro do alcance de três das luas mais intrigantes de Júpiter.

Em junho deste ano, a sonda movida a energia solar passará bem perto de Ganimedes, o maior satélite do Sistema Solar. Em seguida, em 2022, visitará Europa — satélite com oceanos e crostas de gelo que poderia abrigar vida. E, por fim, em uma aproximação ousada de Júpiter, Juno encontrará Io, satélite com uma violenta atividade vulcânica, pontilhado com ácido sulfúrico congelado. Observar essas luas pela primeira vez de perto em quase duas décadas — desde o fim da missão da sonda Galileu em 2003 — emocionará cientistas que estudam os evasivos satélites gelados do Sistema Solar externo.

“Continuo tentando fazer virar tendência essa hashtag: #PlanetsAreOverrated (“Planetas São Valorizados Demais”, em tradução livre)”, brinca Julie Rathbun, pesquisadora de Io do Planetary Science Institute, organização sem fins lucrativos. “Luas e satélites são muito mais interessantes.”

Além dessas três luas alienígenas, Juno também examinará os anéis de Júpiter, passando diversas vezes por eles. Escuros e difusos, os anéis não são tão espetaculares quanto os de Saturno, e os cientistas sabem muito pouco a seu respeito.

“É tão raro haver uma missão ao Sistema Solar externo e é incrível poder aproveitar uma sonda espacial que já está no local”, afirma Cynthia Phillips, pesquisadora das luas geladas do Sistema Solar externo do Laboratório de Propulsão a Jato. “É praticamente uma missão totalmente nova.”

A lua Io ergue-se sobre Júpiter nesta imagem da sonda Juno da Nasa. Um pouco maior que a lua da Terra, Io é o satélite mais vulcanicamente ativo do Sistema Solar.

Foto de NASA, JPL Cal-tech, SwRI, Msss, Gerald Eichstädt And Justin Cowart

Meia década em Júpiter

Lançada em 2011, Juno entrou em órbita ao redor de Júpiter em 4 de julho de 2016. Os principais objetivos da sonda espacial eram estudar a gravidade, os campos magnéticos, a atmosfera e o interior do gigante gasoso.

Mas Juno, que recebeu o nome da esposa do deus Júpiter, talvez seja mais conhecida por suas belas imagens do maior planeta do Sistema Solar. Por séculos, observamos de longe turbilhões enormes se formarem no planeta. Mas, de perto, através das lentes da JunoCam, Júpiter é um planeta com cores de aquarela marcado por numerosos ciclones que rodopiam e se aglomeram perto de seus polos nunca observados.

Além de seu sistema de anéis delgados, o planeta é orbitado por cerca de 79 luas — incluindo 12 que foram descobertas acidentalmente há apenas três anos. As quatro maiores luas, conhecidas como satélites galileanos, foram avistadas pela primeira vez no início do século 17 pelo astrônomo italiano Galileu Galilei, que inicialmente as confundiu com estrelas. Agora, Ganimedes, Calisto, Europa e Io são alguns dos pontos mais intrigantes do Sistema Solar — embora poucas sondas espaciais tenham se aproximado o suficiente para estudá-los em detalhes. As duas sondas Voyagers passaram por lá em 1979, e a sonda Galileu pesquisou o sistema de Júpiter por oito anos a partir de 1995.

“Ainda fico chocada com a escassez de dados sobre todas essas luas galileanas”, conta Rathbun.

A primeira escala no percurso interno de Juno será Ganimedes. Um satélite enorme com diâmetro aproximado de seis mil quilômetros, cuja órbita em torno de Júpiter dura 172 horas, Ganimedes é maior do que o planeta Mercúrio. Em 7 de junho, Juno fará a primeira de duas passagens próximas ao satélite repleto de crateras que, como todos os satélites galileanos, leva o nome de um dos amantes mitológicos de Júpiter.

“É difícil compreender a imensidão do sistema de Júpiter”, afirma Phillips. “Estar em órbita ao redor de Júpiter não significa estar perto de Io, Europa ou Ganimedes.”

A principal peculiaridade de Ganimedes é o fato de ser o único satélite do Sistema Solar com seu próprio campo magnético — fenômeno resultante, segundo os cientistas, de um núcleo líquido e turbulento como o da Terra.

“É uma pressuposição, não temos certeza ainda”, explica Phillips. Não se sabe ao certo como Ganimedes preservou seu magnetismo intrínseco ao longo do desenvolvimento do Sistema Solar, ao passo que outros corpos celestes, como a Lua e Marte, perderam seus campos magnéticos há bilhões de anos.

Os cientistas também desconfiam que exista um oceano global sob a camada gelada e repleta de crateras de Ganimedes — e as observações de Juno contribuirão para mapear essa camada e identificar pontos em que seja mais delgada. Os encontros gravitacionais de Juno com Ganimedes reduzirão em 10 dias a órbita da sonda ao redor de Júpiter e enviarão a sonda em direção a Europa e Io.

Em setembro de 2022, Juno passará perto de Europa, lua considerada um dos locais no Sistema Solar com maior probabilidade de abrigar vida alienígena. A menor entre as luas galileanas, Europa é um verdadeiro satélite aquático: sob uma camada gelada entrecortada, encontra-se um oceano global salgado que contém mais água do que todos os mares da Terra.

Os cientistas suspeitam que esse oceano alienígena contenha todos os ingredientes necessários para que a vida como a conhecemos evolua e se desenvolva: água, uma fonte de energia e elementos químicos básicos. Mas não saberemos se Europa é mesmo habitada até que uma sonda se aproxime o suficiente para pesquisar sinais de vida. A Nasa planeja fazer exatamente isso nos próximos 15 anos, ou mais, com a missão Europa Clipper, que se prepara para partir para o Sistema Solar externo.

No próximo ano, Juno passará três vezes perto de Europa. Durante essas passagens, buscará quaisquer sinais de colunas de vapor d’água ou gêiseres, fenômeno que os astrônomos alegam ocorrer — ao menos esporadicamente — em Europa.

“Há um debate intenso”, conta Phillips. “É importante o levantamento por outra sonda, a obtenção de mais imagens, haverá algo suspeito?”

Juno também poderá buscar, na camada de gelo, pontos mais delgados ou locais onde possa haver bolsões de água líquida ocultos na crosta. A identificação desses locais facilitaria a coleta de amostras por uma futura exploração robótica no oceano coberto. Durante o levantamento da superfície de Europa, Juno criará um mapa de seus polos nunca observados.

“Com as imagens dessas regiões nunca observadas de Europa, será possível criar um mapa global”, explica Phillips. “É diferente de Marte, para onde enviamos uma infinidade de missões.”

Quando Juno passar por Europa, reduzirá em mais cinco dias sua órbita, o que significa que o tempo que leva para girar em torno de Júpiter passará a ser de apenas 38 dias, enviando a sonda espacial à lua infernal de Io.

Com mais de 400 vulcões ativos, Io é o corpo celeste de mais atividade vulcânica no Sistema Solar. Quando a sonda espacial New Horizons da Nasa passou por Júpiter em 2007, avistou uma enorme fonte de fogo estendendo-se por 320 quilômetros acima da superfície desse satélite.

Bem ao lado de Júpiter, Io está entre os destinos mais difíceis e perigosos de serem alcançados. Sua proximidade com Júpiter, orbitando o planeta uma vez a cada 42 horas, deixa-o em um ambiente extremamente inóspito. O satélite é aquecido, comprimido e esticado pela gravidade de Júpiter e Europa, o que explica sua hiperatividade. Em 2023, Juno fará 11 passagens próximas a esse satélite, durante as quais Rathbun acredita que será possível observar alguma atividade importante, como a explosão na região vulcânica de Tvashtar captada pela New Horizons.

“Tvashtar parece estar sempre ativa quando é observada”, brinca Rathbun. E Io está quase sempre em erupção. Os materiais lançados pelo satélite são atraídos pela gravidade de Júpiter e ajudam a alimentar as auroras gigantescas do planeta — espetáculos de luzes giratórias, vívidas e ultravioletas nos polos, semelhantes à Aurora Boreal e Austral na Terra.

Assim como acontece com Europa e Ganimedes, não há muitas observações de Io de perto. A maioria das informações coletadas sobre o satélite Io desde o fim da missão Galileu é proveniente de telescópios na Terra.

“Sempre que um corpo celeste é observado, acontece algo novo e, com Io em especial, é preciso observar o máximo possível”, afirma Rathbun.

Ao contrário dos vulcões da Terra, os vulcões de Io estão distribuídos aleatoriamente pela superfície do satélite — um padrão que levanta questões sobre seus reservatórios de magma e aquecimento interno. Rathbun afirma que os vulcões de latitudes mais altas parecem se comportar de maneira distinta do que ocorre com os mais próximos do equador, entrando em erupção com menos frequência, mas com mais intensidade.

Rathburn conta que ficou animada quando soube dos planos de obter imagens ampliadas de Io: “finalmente poderemos dar uma boa olhada nos vulcões dos polos!”

Bolton explica que Juno pode ajudar os cientistas a identificarem se os vulcões de Io são alimentados por um oceano de magma global ou se bolsões menores e mais discretos alimentam erupções locais. Ele não tem receios quanto a enviar Juno para tão perto de Júpiter ou no que diz respeito às travessias da sonda através do tênue sistema de anéis. Se há alguma sonda capaz de sobreviver à forte radiação de Júpiter ou à colisão com uma partícula do anel, essa sonda é Juno.

“Ela foi construída como um tanque blindado”, afirma ele. “E a armadura parece estar resistindo muito bem.”

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