Astrônomos identificam estrelas de onde alienígenas conseguiriam observar a Terra

Se realmente dividimos a galáxia com extraterrestres, eles não conseguiriam ver a Terra passar na frente do Sol a menos que vivessem em um desses sistemas estelares.

Por Nadia Drake
Publicado 30 de jun. de 2021, 16:00 BRT
exoplanet

Kepler-186f foi o primeiro exoplaneta rochoso a ser descoberto na zona habitável — região ao redor de uma estrela hospedeira onde a temperatura é ideal para a existência de água líquida na superfície de um planeta. Se existe vida inteligente em planetas como o Kepler-186f, é possível que ela tenha descoberto nosso planeta utilizando meios semelhantes.

Foto de Illustration by NASA Ames/SETI Institute/JPL-Caltech

Milhares de planetas já revelaram sua presença a astrônomos quando seu ponto de luz se apaga momentaneamente ao passarem na frente de suas estrelas — uma simples consequência da geometria celestial. Ao observar esse trânsito ao longo da última década, aprendemos que há mais planetas do que estrelas na Via Láctea — e que a galáxia está repleta de mundos com condições supostamente ideais para abrigar vida.

Agora, os astrônomos estão considerando o outro lado dessa equação cintilante.

“Quais estrelas poderiam nos ver e nos considerarem os alienígenas, o planeta em trânsito que bloqueia a luz emitida de uma estrela?”, indaga Lisa Kaltenegger da Universidade de Cornell, que apresentou uma resposta a essa pergunta em um novo estudo publicado recentemente na revista científica Nature.

Observar um planeta passar na frente de sua estrela possibilitou a detecção da maioria dos planetas localizados além do Sistema Solar. Embora esse método de detecção tenha resultado em inúmeras descobertas, ele não considera os incontáveis planetas que não passam na frente de suas estrelas a partir da perspectiva que se tem estando na Terra. Da mesma forma, observadores em outros planetas precisam estar no local certo para observar como a Terra periodicamente bloqueia uma fração da luz do Sol — e esse lugar pode se alterar conforme as estrelas mudam suas posições relativas.

“O cosmos é dinâmico, então essa perspectiva muda ao longo do tempo. Sempre quis saber quanto tempo realmente temos para encontrar um planeta”, comenta Kaltenegger.

Com Jackie Faherty, cientista sênior do Museu Americano de História Natural de Nova York, Kaltenegger calculou que, durante um período de 10 mil anos, qualquer outro planeta que estivesse orbitando 2.034 estrelas próximas conseguiria ver a Terra transitar na frente do Sol, sendo que desse período, cinco mil anos seriam no passado e outros cinco mil no futuro.

A dupla também calculou que cerca de 29 planetas potencialmente habitáveis conseguem ver a passagem da Terra e estão próximos o suficiente para detectar transmissões de rádio feitas pelos humanos. Estudos como esse, portanto, revelam um conjunto de estrelas as quais podemos priorizar durante nossa busca por inteligência extraterrestre ou Seti, na sigla em inglês.

“Essas estrelas recém-identificadas devem ser os principais alvos de nossa busca por inteligência extraterrestre, pois podem ser fontes de mensagens interestelares deliberadamente destinadas a nós”, disse René Heller, do Instituto Max Planck para Pesquisa do Sistema Solar, por e-mail. Se observadores em outros planetas souberem que estamos aqui, eles podem “tentar se comunicar conosco”.

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Um conjunto de estrelas em constante movimento

Para identificar estrelas com uma visão da Terra conforme ela passa em frente ao Sol, Kaltenegger e Faherty examinaram dados da espaçonave Gaia da Agência Espacial Europeia, que acompanha de perto os movimentos de mais de um bilhão de estrelas.

Todos os planetas que conseguiriam enxergar a Terra orbitam estrelas que estão precisamente alinhadas com o plano no qual circundamos o Sol — uma pequena porção do espaço geralmente conhecida como eclíptica e, nesse estudo, como zona de trânsito da Terra. Um pouco acima ou abaixo da eclíptica, e o rastro da Terra não seria visível. As duas cientistas identificaram 1.402 estrelas que estão atualmente na eclíptica e a cerca de 300 anos-luz da Terra. Posteriormente, elas analisaram o céu no decorrer dos anos passados e previsões futuras, estudando como as estrelas mudam ao longo do tempo para encontrar aquelas que acidentalmente assumem uma posição que permite observar a Terra.

Embora as estrelas em nosso céu possam não parecer se mover tanto, a posição de cada uma em relação a outra está sempre mudando. Em dois mil anos, por exemplo, Polaris não será mais a estrela do norte — assim como não era a estrela polar quando os antigos observadores egípcios, babilônios e chineses mapearam o céu há milhares de anos.

É por isso que adicionar esse elemento de tempo “é fundamental para esta ideia de olhar para a Terra como um planeta em trânsito devido às grandes distâncias envolvidas”, escreve Heller por e-mail, que realizou um cálculo semelhante. “É preciso considerar a aparência do céu literalmente como um filme, não como uma imagem estática.”

A equipe descobriu que 313 estrelas adicionais poderiam ter visto a Terra passar em frente ao Sol nos últimos cinco mil anos. Nos próximos cinco mil anos, outras 319 terão a mesma visão.

“Foi interessante descobrir quanto tempo dura aquela visão cósmica privilegiada”, diz Kaltenegger. Muitas estrelas precisarão de pelo menos mil anos para encontrar a Terra. “E muitas delas mais de dez mil anos”, afirma. “É um tempo considerável.”

Sete dessas estrelas hospedam exoplanetas conhecidos. Algumas até mesmo hospedam planetas que supostamente são rochosos. Utilizando o conhecimento atual sobre a ocorrência de planetas rochosos, Kaltenegger e Faherty estimaram que a amostra estudada possui pelo menos 508 mundos habitáveis, sendo que 29 deles estão próximos o suficiente para detectar transmissões de rádio da Terra.

Mais ou menos durante o último século, sinais de rádio provenientes do nosso planeta começam a atingir o espaço. Alguns, como nossas transmissões de TV, são fracos demais para serem facilmente discerníveis em distâncias cósmicas. Mas outros, como explosões concentradas de ondas de rádio emitidas por poderosos instrumentos de radar, são nítidas o suficiente para serem facilmente detectáveis.

Atualmente, as transmissões de rádio mais poderosas são feitas por radares planetários — instrumento utilizado pelos astrônomos para refletir ondas de rádio em objetos do Sistema Solar, como asteroides, para estudá-los. Até seu colapso em dezembro, o Observatório de Arecibo era o radar planetário mais poderoso do planeta e os sinais acústicos de seu transmissor — voltados principalmente para objetos na eclíptica — enviavam mensagens a quaisquer planetas que também estivessem em seu campo de visão.

“Se estiver na zona de trânsito da Terra, verá principalmente grandes explosões de emissão de rádio enquanto estudamos nosso próprio Sistema Solar porque tudo está no mesmo plano”, diz Sofia Sheikh, do Centro de Pesquisa Seti da Universidade da Califórnia em Berkeley, que realizou buscas por inteligência extraterrestre em um conjunto semelhante de estrelas. “Portanto, as estrelas que conseguirem nos ver passar provavelmente irão detectar, de forma acidental, sinais da astronomia de radar que extravasaram.”

Com os instrumentos corretos, observadores em outros planetas localizados na zona de trânsito da Terra poderiam até mesmo ter visto os humanos modificarem gradualmente a composição da atmosfera do planeta — começando de forma mais intensa cerca de 200 anos atrás com a Revolução Industrial e continuando até hoje. Isso, diz Sheikh, é um exemplo de tecnoassinatura, ou um sinal de que algo artificial está afetando a composição natural dos gases que revestem um planeta.

Breves encontros

No entanto, conforme revelam Kaltenegger e Faherty, alguns dos planetas que acreditamos estarem prontos para abrigar vida ainda não conseguem ver a Terra como um planeta em trânsito — embora nós possamos vê-los. É como olhar através de uma janela espelhada: é possível ver o outro lado sem ser visto.

Esses planetas incluem quatro dos sete planetas do tamanho da Terra que orbitam uma estrela chamada TRAPPIST-1, que só conseguirão ver o nosso planeta daqui a 1.642 anos. Dois planetas com a mesma massa da Terra que orbitam a estrela de Teegarden, a cerca de 12 anos-luz de distância, só conseguirão nos ver a partir do ano de 2050. E a Ross128, que hospeda um planeta também com a mesma massa da Terra a cerca de 11 anos-luz de distância, poderia ter observado os trânsitos da Terra por 2.158 anos — até 900 anos atrás, quando saímos de seu campo de visão durante a Alta Idade Média.

“Alguns possíveis observadores em planetas que orbitam estrelas próximas à eclíptica podem não conseguir nos ver em trânsito hoje, mas podem ter descoberto a Terra como um planeta com vida há milênios — ou só descobrirão nossos movimentos daqui a milhares de anos”, escreve Heller.

Alguém no planeta que orbita a Ross128 teria reconhecido a Terra da forma que era habitada quase mil anos atrás? Teriam eles perdido a chance de detectar sinais de uma biosfera em evolução neste ponto azul claro? E como será a vida na Terra quando os planetas que orbitam a TRAPPIST-1 tiverem a chance de encontrar nosso mundo? Que mudanças a atmosfera da Terra terá sofrido?

“Precisamos pensar além do aqui e agora”, afirma Sheikh. “Realmente limitaremos nossa busca se estivermos procurando por elementos que estão no mesmo estágio evolutivo que o nosso. Seja biológico ou tecnológico, acredito que é necessário pensarmos no futuro e no passado longínquos.”

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