5 inovações tecnológicas que transformarão o turismo pós-pandemia

Essas inovações digitais tornarão futuras viagens mais seguras e eficientes. Mas representam uma ameaça à nossa privacidade?

Por Jackie Snow
Publicado 7 de nov. de 2021, 07:00 BRT
Robô que auxilia passageiros no Aeroporto Internacional Incheon de Seul foi lançado em 2018. À medida ...

Robô que auxilia passageiros no Aeroporto Internacional Incheon de Seul foi lançado em 2018. À medida que os casos de covid-19 diminuem, tecnologias de viagem surpreendentes continuarão a influenciar o turismo.

Foto de Bruno ARBESU, Rea, Redux

Nos 20 meses desde o início da pandemia de covid-19, as inovações tecnológicas passaram de futurísticas a usuais. Atualmente, é comum ir a um restaurante e visualizar o cardápio por código QR ou apresentar comprovantes digitais de imunização.

Conforme o setor de turismo — que em 2020 registrou um bilhão de desembarques internacionais a menos do que em 2019 — retoma o ritmo normal, o uso de máscaras pode ficar para trás, mas muitas tecnologias que surgiram em meio à pandemia continuarão a influenciar as viagens.

“Os consumidores passarão a desejar tecnologias que os deixem mais confiantes em relação às viagens”, observa Steve Shur, presidente da Travel Technology Association. “Algumas dessas mudanças vieram para ficar.”

Na realidade, uma pesquisa de 2021 realizada pela Pew Research com 915 líderes políticos, pesquisadores científicos e outros especialistas prevê que, em 2025, nossa vida cotidiana seja ainda mais influenciada por algoritmos, trabalho remoto e o que alguns chamam de “teletudo”. 

Embora novas intervenções tornem as viagens mais seguras e eficientes, como dispositivos de tradução em tempo real e controle de passaportes por reconhecimento facial, há também desvantagens, incluindo preocupações sobre privacidade, segurança de dados e tecnologia tendenciosa. Veja algumas das inovações que os viajantes continuarão a encontrar e utilizar.

Realidade virtual e aumentada

Quando as viagens foram interrompidas devido à pandemia, museus e destinos turísticos passaram a utilizar a realidade aumentada (RA) e a realidade virtual (RV) para criar exposições e experiências on-line. Embora algumas dessas experiências sejam mais bem aproveitadas com um óculos de realidade virtual, a maioria pode ser usufruída apenas com um computador ou smartphone.

O aplicativo Xplore Petra, lançado em junho de 2020, permite aos usuários “visitar” o sítio arqueológico mais icônico da Jordânia, projetando uma versão reduzida das ruínas. A Lights over Lapland, uma empresa de viagens ao Ártico, lançou uma experiência de realidade virtual para mostrar a Aurora Boreal (também conhecida como Luzes do Norte) por meio de óculos de realidade virtual ou telas de computador.

Após a pandemia, a realidade virtual e a realidade aumentada podem aprimorar viagens reais adicionando experiências, como a simulação de escalada no monte Matterhorn, oferecida pelo Museu Suíço do Transporte, em Lucerna. O Museu Hunt em Limerick, na Irlanda, tem uma atração de realidade virtual na qual os visitantes se inserem no “Jardim das Delícias Terrenas”, uma pintura de 500 anos do artista Hieronymus Bosch.

O Museu de História Natural de Paris tem uma exposição de realidade aumentada que coloca os visitantes frente a frente com animais extintos, em formato digital. O Museu Nacional de Singapura possui uma instalação chamada “História da Floresta”, onde os visitantes exploram uma paisagem virtual composta por quase 70 desenhos da natureza pertencentes ao acervo do museu. O Museu Nacional de História Natural do Instituto Smithsoniano, em Washington, D.C., nos Estados Unidos, tem um aplicativo que usa realidade virtual para mostrar como seriam alguns dos animais cujos esqueletos estão expostos. O aplicativo acrescenta pele e músculos sobre os ossos, oferecendo uma nova visão de um acervo que remonta à década de 1880.

“A realidade virtual não substituirá as viagens e o turismo, apenas irá aperfeiçoá-los”, observa Anu Pillai, que dirige o Centro Digital de Excelência da Wipro, uma empresa de tecnologia.

Controle de aglomerações

Para ajudar a reforçar o distanciamento social, cidades, aeroportos e museus testaram ou implantaram tecnologias para controlar aglomerações, como os ‘robôs policiais’ de Singapura, robôs que emitem alertas se as pessoas estiverem muito próximas umas das outras e indicam a densidade de pessoas nos portões dos aeroportos. À medida que milhares de turistas retornam aos destinos populares, métodos e dispositivos semelhantes podem ser implementados para evitar o turismo excessivo nesses lugares.

Engenheiro trabalha em um robô no Instituto Italiano de Tecnologia, em Gênova, no início de 2020. De acordo com o instituto, os robôs podem auxiliar turistas em estações de trem e aeroportos.

Foto de Marco Bertorello, AFP/Getty Images

Na Itália, durante a pandemia, Veneza começou a rastrear visitantes utilizando câmeras originalmente instaladas para capturar criminosos. Após a pandemia, a cidade planeja aproveitá-las para manter o número de turistas em níveis administráveis, talvez em consonância com a proposta do prefeito de adicionar portões eletrônicos nos principais pontos de entrada (portos de navios de cruzeiro, estações de trem), que podem ser fechados se a cidade ficar superlotada.

 “A cada minuto, sabemos quantas pessoas estão transitando e para onde estão indo”, revelou Simone Venturini, a principal autoridade de turismo de Veneza, ao The New York Times. “Temos controle total da cidade.”

Amsterdã, que também luta contra o turismo excessivo, rastreia como os visitantes usam o Amsterdam’s City Card (cartão da cidade de Amsterdã), um passe de valor fixo que permite a entrada em museus e no transporte público. O aplicativo Beach Check UK (“Verifique as Praias do Reino Unido”, em tradução livre) foi lançado neste semestre com informações em tempo real sobre a lotação das dezenas de praias ao longo da costa inglesa, possibilitando aos viajantes evitar áreas superlotadas.

“A tecnologia pode ser utilizada para coletar dados a fim de tomar decisões melhores e comunicar essas decisões”, afirma Christopher Imbsen, diretor de sustentabilidade do Conselho Mundial de Viagens e Turismo.

Desinfecção por luz UV-C

Os hospitais utilizam luz ultravioleta tipo C (UV-C) para desinfetar e matar vírus há mais de duas décadas. Agora, os espaços públicos internos, incluindo aeroportos, academias e cinemas, estão implementando o uso de luz UV-C para controlar a disseminação viral.

“A luz UV-C está sendo amplamente utilizada”, salienta Peter Veloz, CEO da UltraViolet Devices, que fabrica a tecnologia de desinfecção por luz ultravioleta.

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    Funcionário em um avião da Latam monitora um robô que emite luz UV-C, no início de 2020. Se utilizada corretamente, a tecnologia pode matar vírus, incluindo o vírus que causa a covid-19.

    Foto de Nelson Almeida, AFP/Getty Images

    A luz UV-C possui propriedades germicidas que combatem o Sars-CoV-2 e outras partículas nocivas, tanto no ar quanto em superfícies. Dependendo do local, a tecnologia de luz UV-C pode ser utilizada em sistemas de climatização AVAC (aquecimento, ventilação e ar-condicionado), corrimãos de escadas rolantes ou aeroportos e aviões por meio de robôs equipados com a luz que realizam a desinfecção à medida que se locomovem.

    Se instalado e operado corretamente, um sistema de luz UV-C pode matar todos os tipos de bactérias e germes. Até mesmo os vírus da gripe sazonal podem ser eliminados antes de se espalharem. “A covid-19 pode se tornar uma doença endêmica, mas os patógenos comuns não irão desaparecer”, observa Veloz.

    Códigos QR em restaurantes

    No início da pandemia, quando a transmissão da covid-19 ainda não era bem compreendida, os restaurantes se apressaram em substituir os cardápios físicos por versões digitais acessadas por códigos QR. Os quadradinhos pretos com pontos pixelados podem ser escaneados com um smartphone para abrir o cardápio, fazer pedidos e pagar a conta, limitando o contato físico com os funcionários do restaurante para diminuir o risco de disseminação do vírus.

    Embora tenha sido comprovado que o vírus não é transmitido por superfícies, o uso dos códigos se mostrou conveniente e provavelmente continuará sendo utilizado, especialmente com a escassez de trabalhadores no fim da pandemia.

    No entanto, essa conveniência pode significar uma invasão de privacidade, uma vez que os pequenos códigos podem potencialmente reunir uma grande quantidade de informações dos usuários. Alguns programas de código QR apenas registram um pedido em um restaurante, enquanto outros extraem dados como o histórico de refeições, idade e sexo do cliente. O restaurante pode utilizar essas informações para enviar cupons ou convites para eventos — ou vendê-las a terceiros.

    “É um exemplo de empresas que exploram o cenário da covid-19 para estender o rastreamento”, adverte Jay Stanley, analista sênior de políticas da União Americana pelas Liberdades Civis (ACLU, na sigla em inglês). “Fazer tudo pelo celular possibilita novas formas de rastreamento e controle de pessoas.”

    Os turistas devem saber que os códigos QR podem ser hackeados: é possível escanear um código, fazer um pedido para o jantar e ter o cartão de crédito comprometido. Stanley recomenda tratar os códigos QR da mesma maneira que links em e-mails desconhecidos. Utilize seu celular para pesquisar o cardápio do restaurante na internet ou instale um aplicativo de proteção como o Kaspersky QR Scanner, que alerta os usuários caso o código não seja seguro.

    Ferramentas de rastreamento de contato

    Grupos de saúde pública utilizaram métodos de rastreamento de contatos para identificar e rastrear pessoas que foram potencialmente expostas a doenças infecciosas, como zika e HIV, e fornecer informações, rastreamento e tratamento. Essas ferramentas tradicionais geralmente se baseavam em telefonemas para questionar com quem as pessoas tiveram contato com o objetivo de continuar pesquisando a exposição. A pandemia levou as autoridades a intensificar essas iniciativas e implementar outras de alta tecnologia para rastrear a disseminação viral e fornecer informações.  

    Por exemplo, a Apple e o Google adicionaram funções de rastreamento de contato ao novo software dos smartphones, permitindo que os usuários optem por receber alertas se entrarem em contato próximo com uma pessoa infectada.

    “O valor e o papel do rastreamento de contatos para prevenção e controle de doenças infecciosas são bastante reconhecidos”, afirma Elizabeth Ruebush, analista sênior de políticas de imunização e doenças infecciosas da Associação de Funcionários de Saúde Territoriais e Estaduais. “Mas nunca vimos tal estratégia sendo implementada em grande escala, como durante a pandemia de covid-19.”

    Outras tecnologias, como textos automatizados, mapas de calor virais e até CFTV com reconhecimento facial, podem ajudar a rastrear outras doenças infecciosas ou nos preparar para a próxima pandemia.

    Contudo, mesmo com novos aplicativos sofisticados, as ligações telefônicas e a abordagem pessoal ainda estarão no centro da saúde pública. “Essas ferramentas têm como objetivo aprimorar, mas não substituir, o rastreamento de contato tradicional”, reitera Ruebush.

    A covid-19 acelerou a adoção dessas tecnologias. A desvantagem é que pode ser ainda mais difícil para as pessoas se desconectarem de seus smartphones durante as férias. O desejo de viajar está mais forte do que nunca — e nenhum código digital consegue controlar nossos sonhos ainda.

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