Não, o mundo não vai acabar em 23 de abril

Independente de como você interprete os sinais cósmicos, a história prova que humanos não são muito bons em prever o apocalipse.

Por Michael Greshko
Publicado 16 de abr. de 2018, 15:55 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
colisao da terra com planeta
Objeto do tamanho da nossa lua se choca contra um planeta do tamanho de Mercúrio em simulação da Nasa. É improvável que a Terra tenha o mesmo destino no Sábado.
Foto de Ilustração da NASA/JPL-Caltech

Nota do editor: Uma versão deste artigo foi originalmente publicada antes do apocalipse previsto para 23 de setembro de 2017.

De acordo com vídeos virais e tabloides, 23 de abril de 2018 vai ser o fim de uma era. Dependendo do seu gosto, a data pode marcar a colisão de um planeta interestelar com a Terra ou o alinhamento celeste que resultará no fim dos tempos.

Uma dica baseada em evidências históricas e científicas: não cancele o resto dos seus planos para maio.

Os humanos estão novamente conversando sobre o nosso fim coletivo graças a uma tendência de notícias apontada pelo google que pega carona nas previsões do autor independente David Meade. Na última primavera, a controversa numerologia de Meade previu que a Terra encontraria um hipotético planeta interestelar chamado Nibiru em 23 de setembro de 2017.

23 de setembro chegou e nada aconteceu. Meade resolveu mudar sua previsão: primeiro para outubro de 2017, depois, novembro. Agora, Meade afirma que finalmente conseguiu enxergar as falhas na sua previsão do fim dos tempos. Nibiru (às vezes chamado de planeta X) deve aparecer no céu em 23 de abril e passar pela Terra em outubro, acionando uma série de vulcões de proporções apocalípticas. 

A previsão de David Meade é a mais nova especulação a surgir da teoria da conspiração que envolve o Nibiru – sua origem vem da década de 1970. Originalmente, o planeta deveria se chocar com a Terra em 2013. No entanto, o teimoso Universo obrigou os teóricos da conspiração a remarcar a data para 2012.

Cinco anos depois, o astro ainda não oferece qualquer ameaça. Afinal, ele não existe. 

"Nibiru e outras histórias sobre planetas vindo em nossa direção são boatos de internet", disse a Nasa em comunicado de 2012. "Se Nibiru ou Planeta X fossem reais e estivessem no caminho da Terra, astrônomos estariam os monitorando por pelo menos uma década, e a esta altura já seriam visíveis a olho nu."

Culpa das estrelas?

Para apoiar sua teoria, Meade argumenta que um alinhamento de vários planetas, do Sol, da Lua, das constelações de Virgem e Leão prevista para Abril deve cumprir uma profecia do livro do Apocalipse.

Anteriormente, uma publicação evangélica chamada Unsealed argumentava que o livro bíblicoprevia para para 23 de setembro de 2017 um alinhamento similar. O jornal dizia que o alinhamento proclamaria a era que leva ao arrebatamento, momento em que, segundo a fé cristã, os fiéis devotos vão deixar a Terra para se juntar a Jesus no paraíso.

O alinhamento realmente vai acontecer. Mas a significância do evento é controversa. O sinal da Bíblia depende do número de estrelas, e nem os astrônomos sabem ao certo quantas estrelas formam a constelação de Leão. Alguns mapas celestes do céu apontam nove, enquanto outros – incluindo o atlas celeste da National Geographic – contam 10.

Quão raro é esse alinhamento? Os detalhes são incertos. Por alguns dias de setembro e outubro, todos os anos, a Lua passa próximo da posição da suposta profecia. 

Em entrevista no ano passado, o professor emérito Anthony Aveni da Universidade Colgate, especialista no estudo de práticas astronômicas no mundo antigo, disse que o alinhamento não tem nada de especial. Além do que, Virgem foi incorporada à astronomia hebraica só depois do Novo Testamento ter sido escrito.

Mas Aveni enfatiza que ele não está interessado em desbancar teorias apocalípticas. O que ele quer é, na verdade, entender as raízes culturais das crenças. Ele argumenta que essas teorias parecem surgir de pessoas entediadas – e ativamente resistentes – com a tendência do mundo à aleatoriedade, preferindo, então, a clareza narrativa.

"Todos querem conhecer a composição química da sarça ardente, ou onde, exatamente, está a Arca da Aliança. Queremos a história definitiva, o ponto de partida", diz ele. 

No fim das contas, todo esforço para decodificar o Universo em busca de sinais do nosso fim é intepretativo. E, por milênios, humanos erraram todas as previsões:

  • Em 65 a.C., o filósofo romano Sêneca avisou que o planeta "queimaria em um fogo universal". Apesar de Vesúvio ter enterrado Pompéia em lava 14 anos depois, o fim certamente não chegou para o resto do planeta.
  • Muitos europeus cristãos do século 17 se preocuparam com a chance do planeta acabar em 1666, ano que continha o Número da Besta, inscrito no Apocalipse. 
  • A chegada do cometa Halley em 1910 colocou cidadãos de Roma em um frenesi – estocaram tanques de oxigênio pois achavam que a cauda tóxica do cometa poderia envenenar a atmosfera terrestre. 
  • Em 5 de maio de 2000, os planetas Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno se alinharam no céu – uma conjunção que alguns acreditaram que traria terremotos, erupções vulcânicas e um ataque súbito de gelo derretido. Não aconteceu.
  • Desde 2008, o Grande Colisor de Hádrons entrou na cabeça de teóricos da conspiração que acreditam que o equipamento vai produzir um enorme buraco-negro capaz de engolir a Terra. Bilhões de colisões de partículas depois, nosso planeta continua no mesmo lugar.
  • Muita celeuma surgiu em torno do 21 de dezembro de 2012, dia que marcaria o fim do calendário maia – mas o alvoroço foi a toa. Estudiosos rejeitaram a ideia de que o fim do calendário significava o apocalipse. 

Resumindo: Nibiru não existe, os céus estão aí para qualquer um interpretar e o apocalipse sempre foi um mistério. É bem provável que nos veremos novamente em 24 de abril. Até lá.

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