Voyager aos 40 anos; para onde vão as espaçonaves da Nasa agora?

Novos estudos traçaram em detalhes as rotas dos próximos 100 mil anos. Mas isso é só o começo, se tudo der certo, as sondas estarão funcionando até depois da morte do nosso Sol.

Por Nadia Drake
Publicado 8 de nov. de 2017, 20:35 BRST, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
Voyager 1 adentra o espaço interestelar em uma ilustração. A espaçonave da Nasa cruzou oficialmente o espaço entre as estrelas em 2012.
Foto de Ilustração de NASA, JPL-Caltech

As espaçonaves gêmeas Voyager, da Nasa, viajam pela estrada interestelar há 40 anos, passando por planetas gigantes do sistema solar antes de alcançar os confins do território do nosso sol.

Mas, mesmo a mais de 16 bilhões de quilômetros do Sol, a história da Voyager está só começando. No caminho atual, ambas sondas vão continuar a explorar a galáxia eras depois de escapar do empuxo gravitacional do Sol e, talvez, por muito tempo depois da nossa estrela morrer em quatro ou 5 bilhões de anos.

Se interceptada por uma civilização alienígena, dois discos de ouro contendo imagens e sons da Terra podem tocar os últimos suspiros de um planeta morto há tempos.

Presumindo que sigam a rota, a viagem das Voyagers será solitária – apesar de, daqui da Terra, o céu brilhar com infinitos pontos de luz, o espaço é, em sua grande parte, vazio. As distâncias entre estrelas são tão grandes que até quando nossa galáxia se chocar com a vizinha, colisões estelares não devem acontecer.

Ainda assim, de acordo com a previsão de astrônomos, o trajeto cósmico levará as Voyager a algumas estrelas e algumas nuvens de poeira nos próximos cem mil anos ou mais. Aqui estão alguns dos pontos importantes pelos quais as Voyagers podem passar no futuro relativamente próximo.

Voyager 2

Lançada do Cabo Canaveral, na Flórida, em 20 de agosto de 1977, a sonda do tamanho de uma vaca leiteira começou sua jornada em um grande tour do nosso sistema solar externo – o espaço além de Júpiter, o quinto planeta. Nesse começo de viagem, a nave fez algumas descobertas importantes em Júpiter e Netuno, além de nos enviar as melhores fotos de Urânio e Netuno.

A sonda agora mergulha para abaixo do plano do nosso sistema solar a 55 mil km/h em direção ao sul celestial e a constelação de Sagitário. Ela deve cruzar uma fronteira chamada heliopausa, saindo da bolha protetora do sol para adentrar o espaço interestelar.

No entanto, a Voyager 2 não passará perto de outra estrela em pelo menos 40 mil anos, quando se aproxima a 1,7 anos-luz da pequena estrela-anã vermelha Ross 248.

Nesse ponto, Ross 248 será a estrela mais próxima do nosso Sol, ultrapassando o sistema da Alpha Centauri por um pequeno momento, quando sua órbita a deixa a apenas 3,02 anos-luz de distância do nosso sistema.

Daqui a 61 mil anos, Voyager 2 vai cruzar a Nuvem Oort – uma enorme e difusa profusão de objetos congelados cuja extensão acredita-se ser 200 mil vezes maior que a distância da Terra até o Sol, segundo Seth Redfield, da Universidade Wesleyan.

A maioria dos cientistas defendem que a Nuvem Oort é a fonte dos cometas que levam milhares de anos para completar uma órbita em torno do Sol. Ela também pode ser a verdadeira fronteira do Sistema Solar, se você considerar o lugar onde a influência gravitacional da nossa estrela termina.

“A margem externa da Nuvem Oort é aproximadamente onde fica [a fronteira]”, disse Seth, que usou o telescópio Hubble para detalhar os trajetos dos próximos cem mil anos das Voyagers e fazer uma aproximação do caminho nos milhões de anos seguintes.

Depois, no ano de 298000, a Voyager 2 vai passar a apenas 4 anos-luz da Sirius, a estrela mais clara do nosso céu. Em seguida, mais duas estrelas, delta Pav e GJ 754, cerca de cem mil anos depois.

Voyager 1

A Voyager 1 seguiu o caminho de sua irmã no céu em 5 de setembro de 1977.  Depois de alguns encontros com Júpiter e Saturno em 1979 e 1980, ela enviou de volta algumas imagens espetaculares de vulcões em erupção na lua Io, de Júpiter, antes de seguir caminho para o além.

Em 14 de fevereiro de 1990, ela girou para fotografar nosso Sistema Solar enquanto se distanciava. Uma série de imagens do nosso pálido planeta azul revelou nossa casa como um ”grão de poeira suspensa em um raio de sol”, de acordo com Carl Sagan.

Agora, viajando a mais de 55 mil km/h na direção da constelação Ophiunchus, a Voyager 1 é o objeto feito pelo homem mais veloz do espaço. Em 2013, ela se tornou a primeira espaçonave a sair da heliosfera e adentrar o espaço interestelar.

No ano de 40272, a nave vai sobrevoar, a 1,7 anos-luz, a estrela Gliese 445, na constelação Camelopardalis.

Em 56 mil anos, vai sair da Nuvem Oort e passar perto das estrelas GJ 445 e GJ 678.

Maravilhas dos sonhos

A partir de então, as duas sondas continuarão suas jornadas para longe da Terra passando por nuvens de poeira espalhadas até chegar à bolha local, uma caverna de espaço relativamente vazio atormentada por tempestuosas estrelas em vias de morrer. Sairão da bolha em 5,7 e 6,3 milhões de anos, respectivamente.

Depois, as coisas ficam sombrias. O movimento peculiar de estrelas e nuvens de poeira orbitando o centro da galáxia ainda não são conhecidos e as naves podem perder velocidade ao passar por nuvens de poeira cósmica. Além disso, encontros com planetas vagantes, sem sol, podem empurrá-las como bolas em um jogo de sinuca.

“É possível que exista uma população de planetas vampiros no espaço interestelar”, diz Seth. “Mesmo um contato distante com um deles pode mudar a trajetória das Voyager”.

Enfim, assim como as estrelas da Via Láctea, as Voyagers marcharão no ritmo da galáxia e orbitará seu núcleo até o fim de suas vidas.

“Todas estrelas vizinhas ao Sol estão em órbita ao redor do centro da Via Láctea, com períodos orbitais de 225 a 250 milhões de anos”, disse o cientista do projeto Voyager Ed Stone. “As Voyager estarão em órbitas tão independentes, completando uma órbita a cada 225 milhões de anos por bilhões de anos até a colisão com uma outra galáxia rompa seu fluxo ordenado.”

Isso pode ocorrer em 4 bilhões de anos, quando a galáxia vizinha de Andrômeda se chocar com a Via Láctea e rearranjar nosso céu de maneira espetacular.

Como o fim das Voyager vai chegar – seja pelo impacto com milhares de micrometeoritos, seja por uma colisão improvável –, ainda é um mistério. É possível até que as Voyagers sobrevivem ao fim do Sistema Solar, muito depois da morte do sol mudar completamente este lugar.

“O Universo costuma fazer um bom trabalho em proteger seus ocupantes”, diz Seth. Afinal, “os objetos do nosso Sistema Solar, mesmo os menores, estão por aí há mais de 4,5 bilhões de anos.”

 

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