Coincidência cósmica: Lua de Sangue, eclipse mais longo do século e Marte mais perto da Terra
Eclipse da Lua de Sangue poderá ser visto parcialmente no Brasil, e ocorre ao mesmo tempo em que o Planeta Vermelho se aproxima da Terra. Fenômeno é uma raridade astronômica.
Com informações atualizadas por Redação National Geographic Brasil.
Prepare-se para um combo celestial diferente de tudo que você viu nas últimas décadas: Marte está prestes a se aproximar mais da Terra do que esteve nos últimos 15 anos – enquanto a Lua cheia ganha tons de vermelho no mais longo eclipse da Lua de Sangue do século.
Tanto a Lua quanto Marte irão dominar as horas dos dias 27 de julho e 28 de julho, viajando pelo céu lado a lado, parecendo estar separados por apenas cinco graus, igual à largura de três dedos médios mantidos à distância de um braço. No dia 27, o Planeta Vermelho vai estar o mais próximo que chegou à Terra desde agosto de 2003, permitindo que os observadores do céu ao redor do mundo vejam o planeta vizinho grande e brilhante em nossos céus.
E, embora você não deva esperar que Marte pareça tão grande quanto a Lua cheia, como sugeriram muitas histórias falsas recentemente, você poderá ver a Lua pintada de vermelho enquanto ocorre o eclipse lunar total.
O eclipse lunar total não poderá ser visto no Brasil, apenas parcialmente. Eduardo Cypriano, professor do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade São Paulo (IAG-USP), explica que, quando a Lua ser tornar visível no país, na noite do dia 27 de julho, ela já estará eclipsada. “Quanto mais ao leste, mais chances as pessoas terão de ver o fenômeno. Assim, a população da costa atlântica do Brasil presenciará o eclipse melhor do que pessoas no Acre, por exemplo”, observa o estudioso.
Eduardo Cypriano explica que a ilha de Madagascar será agraciada com a melhor visão do mais longo eclipse lunar total do século 21. O eclipse será visível em sua totalidade na África oriental e na Ásia central, e observado também, em maior ou menor escala, na América do Sul, Europa e Austrália. Todo o evento durará quase quatro horas, com o eclipse máximo com duração de uma hora, 42 minutos e 57 segundos, das 16h30 às 18h13 (horário de Brasília).
Durante um eclipse total, a luz do Sol brilhando através da atmosfera poeirenta da Terra é curvada, ou refratada, em direção à parte vermelha do espectro à medida que é lançada na superfície da Lua. Como resultado, espere ver o disco lunar passar de uma cor cinza escura quando o eclipse começar, para uma cor laranja avermelhada no ápice do eclipse.
Conhecendo Marte
À meia-noite (horário de Brasília) de 27 de julho, Marte alcançará o que os astrônomos chamam de oposição – quando o Sol, a Terra e Marte estão alinhados em uma linha reta, de modo que Marte parece se erguer ao leste, assim como o sol se põe à oeste, tornando visível o lado ensolarado do planeta durante toda a noite.
Marte atinge a oposição apenas uma vez a cada 26 meses, quando a Terra consegue ultrapassar o planeta em sua faixa mais estreita em torno do sol. Mas ao contrário da órbita mais circular da Terra, o caminho de Marte ao redor do Sol é muito elíptico. Isso significa que a distância entre os dois varia, tornando algumas oposições melhores que outras.
Marte fará sua maior aproximação da Terra este ano em 31 de julho, a apenas 57,6 milhões de quilômetros de distância. Essa grande aproximação, apenas alguns dias após a oposição, resultará no alinhamento de 27 de julho, que será a sua melhor chance de ver o planeta vermelho brilhando com tanta intensidade até 2035.
O melhor encontro anterior ocorreu há 15 anos, quando Marte esteve a 56 milhões de quilômetros de distância. Esse encontro épico não acontecerá novamente até 2287.
Além de oferecer belas imagens, a oposição tradicionalmente define o momento para as invasões robóticas de Marte. Devido à proximidade e ao alinhamento de Marte com o nosso planeta, os dias próximos à oposição são os melhores para enviar espaçonaves, permitindo uma economia de tempo de viagem e custos de combustível. Por exemplo, o módulo Insight da Nasa foi lançado em 5 de maio e deverá pousar em Marte em novembro.
Muitos observadores perspicazes já devem ter notado que o Planeta Vermelho estava ficando mais brilhante nos céus noturnos nos últimos meses, facilitando a identificação a olho nu. Para encontrar o planeta guerreiro, saia de casa após o anoitecer em uma noite clara e procure a luz brilhante que se eleva acima do horizonte oriental. Marte planará alto sobre o céu do sul durante a noite, se pondo a oeste na madrugada.
Na maioria das vezes, Marte não oferece muito ao ser observado através de um telescópio, mas isso muda durante a oposição. O planeta se torna um disco cheio de características tentadoras. Mesmo um pequeno telescópio com um espelho de seis polegadas será capaz de mostrar detalhes da superfície como a calota de gelo do sul (onde os astrônomos podem ter acabado de encontrar um lago subterrâneo) e regiões distintas e escuras que são campos varridos pelo vento.
No entanto, uma tempestade de poeira colossal tem estado em fúria nos últimos dois meses em Marte e envolveu a maior parte do planeta, o que significa que as observações com telescópio foram um pouco prejudicadas. Mas você pode ver claramente o efeito de toda essa poeira a olho nu: atualmente Marte parece brilhar com uma coloração mais amarelada, em vez de seu habitual tom laranja enferrujado.
Mini Lua de Sangue
Durante um eclipse lunar, a Terra projeta sua sombra na Lua. Isso não acontece toda vez que a Lua faz sua jornada mensal ao redor da Terra, porque a órbita da Lua é inclinada em relação ao planeta, então o orbe lunar geralmente desliza acima ou abaixo da sombra da Terra.
Os eclipses lunares totais acontecem apenas durante a Lua cheia e somente quando o sol, a Terra e a Lua estão precisamente alinhados, de modo que a sombra do nosso planeta cobre completamente o disco da Lua. Isso geralmente acontece aproximadamente duas vezes por ano e pode ser visto em apenas um hemisfério de cada vez.
Popularmente conhecido nos dias de hoje como Lua de Sangue, um eclipse lunar total pode colorir a esfera lunar de maneiras diferentes, dependendo da quantidade de poeira na atmosfera da Terra. Vulcões ativos expelindo toneladas de cinzas na atmosfera, por exemplo, podem desencadear eclipses extremamente vermelhos. Contudo, ninguém pode prever exatamente qual cor veremos antes de cada eclipse.
Independentemente do tom, esta Lua de Sangue vai durar mais tempo graças a uma coincidência celestial. Primeiro, a Lua cortará o centro da profunda sombra umbral da Terra em vez de cruzar as bordas da sombra. Em segundo lugar, a lua cheia parecerá menor e estará viajando um pouco mais devagar pelo céu.
Isso ocorrerá porque a Lua estará no ponto mais distante da Terra em sua órbita de um mês - conhecida como apogeu – durante o período do eclipse. Este apogeu da Lua cheia foi apelidado de mini Lua, o oposto da popular super Lua, que ocorre quando a Lua está mais próxima da Terra.
Durante o eclipse desta semana, a Lua do apogeu fará o disco lunar parecer 13% menor que a média, e levará um pouco mais de tempo para que ele atravesse a sombra da Terra. Nós não vamos ver um eclipse total tão longo até 9 de junho de 2123.
Você não precisa perder essa oportunidade se estiver na região errada, ou se as nuvens impedirem a sua visão: você ainda pode conferir o eclipse on-line por meio de webcasts ao vivo do Virtual Telescope e do Slooh.