Lua pode ter atividade tectônica – e a novidade abalou os geólogos

Nova análise dos dados sísmicos obtidos na era Apollo revelou que o interior da Lua pode ser mais quente do que cientistas acreditavam ser possível.

Por Adam Mann
Publicado 15 de mai. de 2019, 11:06 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
O nosso pequeno e cinzento satélite pode ser mais ativo do que se pensava, de acordo ...
O nosso pequeno e cinzento satélite pode ser mais ativo do que se pensava, de acordo com dados obtidos a partir de instrumentos instalados na Lua na era Apollo.
Foto de NASA, Gsfc, Arizona State University

Normalmente, durante a construção de um posto avançado remoto, recomenda-se ficar longe de linhas de falha ativas. Para os que planejam a habitação da Lua pelo homem, felizmente, o nosso pequeno satélite natural parece estar geologicamente inativo há muito tempo. Afinal, atividade tectônica requer calor interno e acredita-se que pequenos satélites rochosos como a Lua sejam capazes de se resfriar muito mais rapidamente do que planetas maiores como a Terra.

Mas, agora, uma nova análise dos dados obtidos na era Apollo sugere que a Lua seja, na verdade, mais tectonicamente ativa do que suposto anteriormente.

Em um estudo publicado na revista científica Nature Geoscience, cientistas podem ter finalmente descoberto os epicentros dos misteriosos tremores lunares registrados pelos sismógrafos da Apollo, e os tremores parecem ter se originado em estruturas parecidas com penhascos, chamadas de escarpas de falha.

Esse mapa sísmico criado a partir de imagens da NASA demonstra o movimento esperado de um tremor lunar superficial em uma falha de empurrão associada à escarpa Mandelstam na superfície lunar.
Foto de University Of Maryland, Smithsonian

"A ideia de que um corpo rochoso de 4,6 bilhões de anos como a Lua tenha conseguido permanecer quente o suficiente em seu interior e produzido sua rede de falhas geológicas é um tapa na cara do conhecimento que sempre detivemos", afirma um dos autores do estudo, Thomas Watters, do Instituto Smithsoniano em Washington, D.C.

Marés rochosas

No segundo semestre, as incríveis conquistas da Apollo 11 completarão 50 anos. Na época da corrida espacial, os Estados Unidos estavam mais preocupados em levar seus astronautas à Lua e retornar antes dos Soviéticos do que com o que deveria ser feito pelos astronautas enquanto estivessem lá.

"Eles pensaram: 'precisamos inventar alguma coisa'", afirma uma das autoras, Renee Weber, cientista planetária do Centro de Voos Espaciais de Marshall da NASA, em Huntsville, Alabama.

Essa "coisa" acabou sendo a ciência, como coletar uma infinidade de dados geológicos, incluindo amostras rochosas que foram trazidas à Terra. E, em quatro das missões Apollo, os astronautas colocaram sismógrafos nos locais em que pousaram. Esses dispositivos registraram centenas de terremotos profundos ao longo dos oito anos em que permaneceram em funcionamento.

De acordo com Weber, a atividade sísmica da Lua envolve mecanismos subjacentes bastante diferentes dos da Terra. A maior parte da atividade lunar vem de forças gravitacionais que a Terra exerce sobre a Lua, basicamente o inverso da força que a Lua exerce sobre os nossos oceanos, ocasionando as marés. Porém, sem água, a superfície da Lua vai se deformando. Ela perde seu formato esférico e assume um formato mais retangular e, posteriormente, volta a ser como antes.

Variações intensas de temperatura entre o dia e a noite, que podem exceder 260ºC, também contribuem para a atividade sísmica de nosso satélite. Alguns dos tremores detectados foram até mesmo provocados pelo homem, criados quando o controle da missão ordenou que partes expansíveis da espaçonave fossem liberadas e colidissem com a superfície lunar para calibrar os sismógrafos.

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    Mas 28 dos eventos registrados parecem ter sido originados a apenas alguns quilômetros da crosta lunar. Esses eventos foram equivalentes a terremotos de magnitude 5,5 na Terra, e carecem de explicação há mais de 40 anos.

    Busca sísmica

    Desde 2009, Watters utiliza imagens do Lunar Reconnaissance Orbiter da NASA para mapear centenas de escarpas em todos os cantos da Lua. Com base na aparência recente ou não dos materiais lunares ao redor dessas escarpas, ele consegue afirmar que os materiais foram formados há relativamente pouco tempo, talvez há menos de 50 milhões de anos, "o que representa um material jovem em termos geológicos, mas não tão jovem", afirma ele.

    Ainda, Watters suspeitou que as escarpas podem ser os pontos responsáveis pelos tremores lunares ocorridos perto da superfície, mas ele precisava de mais evidências. Com quatro sismógrafos que produziram dados de qualidade relativamente baixa, os instrumentos da Apollo conseguiam apenas triangular os tremores em até cerca de 160 quilômetros.

    Então, os pesquisadores utilizaram um algoritmo normalmente empregado para determinar a localização de tremores na Terra quando as redes de sismógrafos são esparsas, criando uma grade de supostos pontos de origem para os tremores lunares. Dos 28 eventos registrados, oito podem ter ocorrido em até 28 quilômetros de uma escarpa, e seis deles ocorreram quando a Lua estava em seu ponto mais distante da Terra, quando a força das marés na superfície lunar está mais intensa.

    Para confirmar que a correlação não é aleatória, a equipe simulou 10 mil eventos sísmicos para ver com que frequência eles poderiam produzir um padrão desses. Eles descobriram que havia uma probabilidade de cerca de 1% de todos esses fatores se alinharem dessa forma. Para Watters, isso sugere que as escarpas sejam os epicentros mais prováveis dos tremores lunares.

    "Isso significa, para todos os efeitos, que a Lua é tectonicamente ativa", afirma ele. "Para mim, esse é um resultado impressionante".

    Uma escarpa sob análise

    Porém, o fato de haver incertezas envolvendo os resultados significa que outros pesquisadores ainda não consideram o caso como encerrado.

    "Eles usam muitos argumentos estatísticos, e acredito que estejam fazendo ciência de qualidade, mas não diria que isso seja algo definitivo", afirma Ceri Nunn, que trabalha com sismologia lunar no Laboratório de Propulsão à Jato da NASA na Califórnia. Ainda, considerando que a qualidade dos dados originais não é ideal, ela acredita que a equipe tenha identificado os epicentros da melhor forma possível até o momento.

    Weber e outros cientistas estão trabalhando para propor uma missão que instalaria uma nova rede de modernos sismógrafos na Lua, talvez com alguns desses dispositivos em contato direto ou próximo a uma escarpa.

    E, enquanto isso, considerando um novo interesse na exploração lunar vindo de países e empresas privadas em todo o mundo, as descobertas permitem a criação de um mapa dos locais a serem evitados pelos futuros exploradores.

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