Via Láctea possui bordas distorcidas, confirma novo mapa estelar

Se fosse possível vê-la por fora, nossa galáxia não seria um disco plano, mas se assemelharia a um ovo poché escorrendo de uma escumadeira.

Por Nadia Drake
Publicado 14 de ago. de 2019, 20:45 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
A Via Láctea em uma abóbada celeste sobre um lago nas montanhas da Califórnia. A partir ...
A Via Láctea em uma abóbada celeste sobre um lago nas montanhas da Califórnia. A partir da nossa localização, no interior de um dos braços espirais da galáxia, é possível observar o interior denso do disco como uma faixa distinta de estrelas, porém, é mais difícil ter uma ideia do formato geral da galáxia.
Foto de <p> Babak Tafreshi, Nat Geo Image Collection</p> <p>&nbsp;</p>
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Flexibilidade galáctica

Com uma extensão aproximada de 120 mil anos-luz de uma ponta à outra, a Via Láctea é considerada uma galáxia espiral. Quatro grandes braços giram ao redor de seu núcleo, estando o nosso Sol localizado em um braço pequeno, a cerca de 26 mil anos-luz do centro.

O disco da galáxia, repleto de estrelas e gases, é predominantemente plano e delgado em direção à região central. Contudo, aproximadamente à distância entre o Sol e o núcleo, a galáxia começa a se curvar, flexionando-se para cima em uma direção e deformando-se para baixo na outra.

Perto das bordas, ela fica desmazelada: o disco se alarga, passando de uma largura de 500 anos-luz para mais de 3 mil anos-luz, e a deformação fica ainda mais acentuada, com estrelas situadas até 5 mil anos-luz acima ou abaixo do plano galáctico.

“Acreditamos que a deformação possa ter sido provocada por interações com galáxias-satélites”, afirma Skowron, ressaltando que a Via Láctea está atualmente rodeada de um grupamento de galáxias-anãs. “Outras hipóteses são interações com gases intergalácticos ou matéria escura”, conta ela, referindo-se ao material invisível que provavelmente compõe 85% da matéria do universo.

Uma galáxia espiral curvada não é algo tão incomum; os astrônomos identificaram diversas galáxias curvadas dentre as espirais cujas bordas podem ser observadas. Além disso, o conglomerado estelar ao lado, uma galáxia espiral gigante chamada Andrômeda, é, da mesma forma, uma galáxia-irmã retorcida. No entanto, como estamos presos dentro da Via Láctea, é muito mais difícil ver a estrutura de nossa própria galáxia em grande escala.

Ideia brilhante

Skowron e seus colegas mapearam a Via Láctea em três dimensões utilizando 2,4 mil variáveis cefeídas, que são estrelas clássicas.

Por vezes produzindo um brilho milhares de vezes mais forte que o nosso Sol, as variáveis cefeidas aumentam e reduzem seu brilho ritmicamente por períodos fortemente ligados ao seu brilho intrínseco. Com o monitoramento desses pulsos, os astrônomos são capazes de determinar, com precisão, a intensidade do brilho dessas estrelas e depois utilizam o brilho intrínseco para calcular as distâncias exatas — uma relação que Henrietta Swann Leavitt, astrônoma da Faculdade de Harvard, identificou pela primeira vez em 1912.

Durante anos, Skowron e sua equipe observaram essas estrelas grandes e jovens pulsarem periodicamente — monitorando até aquelas nas margens mais remotas de nossa galáxia. Para isso, utilizaram o instrumento OGLE, montado em um telescópio no Chile, juntamente com vários outros telescópios. E quando Skowron e seus colegas traçaram as distâncias exatas de suas 2,4 mil estrelas, o mapa galáctico tridimensional resultante assumiu um aspecto curiosamente retorcido.

“As estruturas foram mapeadas corretamente, com distâncias precisas”, afirma Annie Robin, do Observatório de Besançon, na França, que produziu mapas semelhantes utilizando informações sobre a distribuição e o deslocamento de gases ao longo do disco galáctico.

“O mapa de Skowron é nitidamente compatível com o mapa de gases”, conta ela.

Explosões estelares

Skowron e seus colegas também identificaram grupos de cefeidas que nasceram recentemente de explosões, em termos cósmicos. A equipe identificou três trechos delimitados de estrelas, com idades entre 20 milhões e 260 milhões de anos, distribuídas estreitamente ao longo de diversos braços espirais da Via Láctea.

Em comparação, as estrelas mais antigas conhecidas da Via Láctea têm idades colossais entre 10 e 13 bilhões de anos.

Não se sabe ao certo o que pode ter desencadeado essas recentes explosões formadoras de estrelas em uma galáxia que atualmente produz um número limitado de estrelas a cada ano. Robin destaca que regiões de movimentação mais lenta e maior densidade podem comprimir gases e poeira no interior de nuvens interestelares, dando início à formação de estrelas. Por outro lado, Skowron sugere que a causa possa ser uma interação recente com uma galáxia-anã, que estava de passagem.

“É preciso lembrar que as cefeidas (como um grupo) são relativamente jovens, o que significa que podemos utilizá-las apenas para estudar a história relativamente recente de nossa galáxia… Assim, ainda há muito a ser descoberto sobre os primórdios da Via Láctea”, afirma Skowron.

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    Em vez de plano como uma moeda, o disco salpicado de estrelas da Via Láctea é curvo e retorcido, segundo um novo mapa tridimensional de nossa galáxia natal. Se vistos lateralmente, os braços em espiral ao redor do núcleo protuberante de nossa galáxia seriam semelhantes a um disco curvado em “S” ou a um ovo poché escorrendo de uma escumadeira.

    “A curvatura da galáxia é bastante acentuada… Se fosse possível observar a nossa galáxia lateralmente, enxergaríamos nitidamente a curvatura”, afirma Dorota Skowron da Universidade de Varsóvia, cuja equipe publicou os resultados no periódico Science.

    Milhares de estrelas que cintilam de forma rítmica foram utilizadas para desenhar o novo mapa e ele é uma das representações mais minuciosas de nossa galáxia natal até o momento, confirmando estudos anteriores que sugerem, do mesmo modo, que a Via Láctea seja curvada. Durante as pesquisas, Skowron e seus colegas também encontraram evidências de explosões recentes responsáveis pela formação de estrelas em nossa vizinhança galáctica.

    “Foi possível observar com nossos próprios olhos e dentro de nossa própria galáxia que a formação de estrelas não é um processo constante, mas algo que ocorre em explosões repentinas”, afirma ela.

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